Matheus de Oliveira
Ser banhada por lagos e rios tem tornado Belém um dos polos de grande fomento para a prática esportiva em suas águas. Cidade tradicional conhecida pelo remo olímpico, atualmente, outras modalidades têm ganhado ascensão nos esportes náuticos, seja com o viés de alto rendimento como no quesito de incentivo à projetos sociais ligados aos ribeirinhos que residem entre as diversas ilhas ao redor da capital paraense, que é o caso da canoagem havaiana e polinésia.
Há 10 anos, a modalidade tem crescido no município, sobretudo pelo potencial hídrico da região, que facilita a interação e a prática com base nos cuidados necessários para a sua realização. Nedson Rosa, idealizador do grupo Canoeiro, uma das pioneiras na modalidade, explica.
“A cidade cresceu de costa para o rio e esse contato para a água já está no nosso sangue, na nossa cultura. A gente faz esse resgate, através do caiaque e da canoagem havaiana. Além do lado competitivo, a canoagem proporciona o equilíbrio emocional. Ela é terapêutica. Esse contato com a natureza traz essa conexão. Ela ajuda a saúde emocional, então a gente diz que a nossa essência tem a natureza como mãe”, destaca.
Dentre as possibilidades da canoagem, como a esportiva e a turística, também se destaca a social, com iniciativas fundamentais em prol da comunidade ribeirinha. “A questão social é um trabalho paralelo que fazemos com a canoagem, como dizemos em uma troca justa. Promovemos o Natal Ribeirinho com a doação de material escolar, alimentos, tratamento dentário, auxílio em questão jurídica. Sempre tentamos ajudar de alguma forma o fortalecimento do laço com os irmãos ribeirinhos”, explica Nedson Rosa.
REABILITAÇÃO
O resgate da essência náutica recente na capital paraense veio abrangendo todas as causas possíveis. Uma delas é a de inclusão como forma de reabilitação de pessoas com deficiência, realizada com primazia e dedicação pelo grupo Kanoê em parceria com o Governo do Estado do Pará.
Natasha Feiteiro, idealizadora do Kanoê, detalha. “A Kanoê junto com o Governo do Estado possui um projeto chamado ‘Meninos do Rio’, onde incluímos a canoagem e stand up paddle como forma de reabilitação de pessoas com deficiência. O objetivo deste projeto é unir a assistência especializada e nossas técnicas com a prática do esporte associadas ao tratamento convencional de pessoas com deficiências. Temos muito orgulho desse projeto, onde realmente mudamos vidas e conseguimos proporcionar uma qualidade de vida aos pacientes”, detalha.
A causa nobre tem ganhado cada vez mais espaço e auxílio, conforme explica Natasha. “Atendemos cerca de 25 pessoas, onde é realizado duas vezes por mês. O projeto foca no trabalho cardiorrespiratório, fortalecimento muscular dos membros superiores e inferiores e controle de tronco. Além da socialização do grupo para as práticas esportivas”, aponta.
Ao lado do projeto Meninos do Rio, Kanoê também atua em datas comemorativas. “Projetos sociais que são desenvolvidos para levar assistência às famílias ribeirinhas é de suma importância para a contribuição do bem-estar dessa população. A Kanoê realiza o Natal Ribeirinho, onde doamos cerca de 250 cestas básicas para as comunidades ribeirinhas. Levamos também assistência odontológica, essas iniciativas contribuem com o acesso à saúde”, diz.
Atualmente, cerca de 10 bases para a prática de canoagem se fazem presentes na fomentação do esporte. O ‘terreno’ diferenciado da cidade tem tudo para que em breve o número duplique, na análise de Natasha Feiteiro.
“A natureza de Belém nos possibilita a prática da canoagem. Como falei, somos bastante procurados durante o ano todo, principalmente no verão. Porém, temos dificuldade em relação ao acesso aos nossos rios. Por mais que a nossa cidade seja cercada por água, falta infraestrutura necessária para que possibilite a prática de esportes náuticos em Belém”, alerta.
A atividade física e a possibilidade de se reencontrar consigo mesmo ganha um elemento a mais na prática da canoagem, de acordo com os instrutores: a companhia da natureza, presença ilustre no seu desenvolvimento.
“Praticar esportes ao lado da natureza é de extrema importância para a nossa qualidade de vida, temos aulas ao nascer do sol e ao pôr do sol, só o fato de você tirar uma hora do seu tempo pra ter esse contato é grandioso para o resto do seu dia. Além de ser um esporte coletivo, os alunos aprendem a trabalhar juntos”, diz Natasha. “A nossa cultura é a natureza. Ela nos carrega e nos banha em seus rios”, reforça Nedson Rosa.