Luiz Flávio
Utilizar novas tecnologias e aliá-las aos sistemas biológicos e recursos naturais para a criação de produtos e serviços mais sustentáveis, para preservar o meio ambiente, é o conceito básico da Bioeconomia, que será o tema da 14ª edição do Anuário do Pará (2023/2024).
Preservar o meio ambiente é a grande oportunidade de garantir o futuro da humanidade. Um pilar fundamental para a instituição de uma sociedade mais justa e sustentável é a economia. E essa meta ficou ainda mais em evidência mundialmente após o anúncio de que Belém sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em novembro de 2025.
No Pará existem inúmeros exemplos de como empreendedores fazem esse uso sustentável e como a indústria se adequa aos novos tempos. Empresária do ramo alimentício, Joanna Martins foi a responsável pelo editorial do Anuário. Para ela, o desenvolvimento de um ecossistema de negócios ligados à sociobioeconomia “é o melhor caminho para desenvolver a Amazônia a partir de sua vocação, valorizando o conhecimento do nosso povo em harmonia com a floresta e sua biodiversidade”.
Empreendedores, poder público e sociedade civil, segundo Joanna, começam a entender essa nova realidade. “O Anuário é extremamente importante: primeiro pela difusão dos conceitos ligados ao tema, depois pela divulgação dos agentes que atuam no setor, tais como pesquisadores, produtores e especialistas e por fim, mas não menos importante, trazendo os cases dos negócios que já atuam neste modelo, trazendo seus produtos e suas marcas que materializam o resultado de toda esta nova cadeia produtiva”.
Joanna é sócia da Manioca, que valoriza a cultura do povo local e gera desenvolvimento sustentável e renda na região. A empresa participa do Programa Raízes, que atua com 42 famílias, com capacitação, assistência técnica, apoio à formalização e monitoramento do impacto ambiental, de forma sistematizada, com metas de melhorias, avaliação de resultados e crescimento, desenhados junto com eles. Segundo ela, é possível desenvolver a floresta sem destruí-la, criando um modelo de negócio diferente, como a Manioca, “que valoriza os insumos da floresta e o conhecimento do seu povo, agregando valor a eles e mantendo a floresta em pé”.
A empresa possui um mix de 20 produtos que, além do tucupi e das farinhas, inclui temperos e molhos variados, sementes, grãos, geleias, entre outros. Hoje a Manioca possui mais de 250 pontos de venda, em mais de 15 capitais brasileiras e em algumas cidades do interior, atendendo a todo o Brasil através do ecommerce.
FUTURO
Para a engenheira de alimentos Andreia Luiz Uchôa, a Bioeconomia é o futuro para os negócios e para a manutenção de um Estado sustentável. “Dentro da Amazônia, considerando a nossa sociobiodiversidade e nossa cultura, seria contraditório trabalhar sem esse olhar para a Bioeconomia. Desde o início da minha empresa pensamos de que forma poderíamos melhor absorver toda essa imensidão de oportunidades que a Amazônia nos daria”, coloca.
Ela é CEO da empresa Amazônia Artesanal, que trabalha desenvolvendo produtos, com inovação e com matérias-primas vindas de comunidades que respeitam a terra e a cultura. “Conseguimos desenvolver uma gama de produtos com essas matérias-primas, como geleias de frutas, geleias sem adição de açúcar, frutas em calda, molhos de pimentas com frutas, xaropes, conservas, licor, doces, entre outros. Sempre com matérias-primas oriundas desses pequenos produtores que também se preocupam em não degradar o meio ambiente”.
A microempresária lembra que as frutas da Amazônia são as mais perfumadas e ricas em compostos bioativos. “Então entendemos que verticalizar a produção, adquirindo matérias primas diretamente dos pequenos produtores e agregando ainda mais valor a elas, transformando-as em diversos produtos, gerando renda a toda a cadeia produtiva, seria uma solução inteligente e com nenhum impacto negativo para o meio ambiente”.
Ela destaca que o mundo todo tem olhado para a Amazônia com mais cuidado após o anúncio da realização da COP30 no Pará. “Isso nos traz grande responsabilidade Desejamos colher os melhores frutos, principalmente aqueles relacionados a conscientização ambiental, e projetos como o Anuário do Pará, que este ano trata sobre Bioeconomia, reforça essa necessidade que beira a urgência, pois quanto mais ela for apresentada à população, mais ela será compreendida e aderida”, diz Andreia, que também é mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos.
VEGANO
Laura Loisy Fernandes é empreendedora de cosméticos veganos na empresa Eulauea. Fabrica produtos naturais e artesanais, nas linhas capilares e faciais a partir de matérias-primas adquiridas junto à produtores locais da região amazônica e na própria feira do Ver-o-Peso. “Priorizamos o consumo consciente. A maioria dos nossos produtos são sólidos e nossas embalagens não utilizam plásticos, mas apenas papel e os recipientes de vidro são retornáveis, o que acaba tornando os produtos mais baratos”.
Ela destaca que a Bioeconomia tem como objetivo sempre priorizar a produção local, fazendo um uso racional, consciente e girando a economia de uma região. A empreendedora afirma que o Anuário do Pará sai na frente ao adotar como tema a Bioeconomia por massificar o conceito para a sociedade e mostrar o quanto é importante o trabalho feito pelos micro e pequeno produtores do Estado e que fazem a economia girar no Pará, “mostrando todas as suas potencialidades, como fazem para tirar o seu sustento da natureza sem desmatá-la e como fazem para contribuir para um outro tipo de consumo e de produção”.