COP

Belém será a segunda cidade mais quente do mundo em 2050

Belém será a segunda cidade mais quente do mundo em 2050

Luiza Mello

O mundo vai viver uma epidemia de calor extremo nos próximos anos, o que representa, segundo cientistas, uma das ameaças mais graves para a humanidade. E Belém será um dos epicentros desta onda de calor extremo, como a segunda cidade no mundo a enfrentar mais dias extremamente quentes.

A capital paraense é citada em um levantamento inédito feito pela ONG Carbon Plan, da Califórnia, analisado e divulgado com exclusividade pelo jornal americano The Washington Post. A análise aponta que Belém terá 222 dias de calor perigosamente alto em data próxima ao ano de 2050, provocado pelo aquecimento global. Calcutá, na Índia, vivera 188 dias nesta situação de calor extremo.

Segundo o Washington Post, a população mundial está vivenciando um aumento de dias extremamente quentes que colocam em risco a saúde humana, com a ameaça concentrada em alguns dos locais menos preparados para lidar com a situação. A CarbonPlan é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve publicamente dados e análises climáticas.

“Será um dos maiores desafios que já enfrentamos como sociedade humana”, disse Matthew Huber, professor de Ciências da Terra na Purdue University, em Indiana, considerada uma das mais inovadoras e reconhecidas instituições de ensino superior nos Estados Unidos.

O estudo aponta que até 2050, mais de 5 bilhões de pessoas – provavelmente mais de metade da população do planeta – estarão expostas a pelo menos um mês de calor extremo. Até 2030 a ameaça à saúde de pessoas expostas ao sol vai afetar mais de 4 milhões de pessoas.

O Washington Post e o CarbonPlan usaram como limite a temperatura de 32 graus Celsius (89,6 graus Fahrenheit) em dias muito úmidos, para delinear um calor extremamente arriscado, igual a uma temperatura de 48 graus Celsius, se estiver muito seco. Nesse ponto, segundo o estudo, mesmo adultos saudáveis que praticam atividades ao ar livre por mais de 15 minutos podem sofrer estresse térmico e muitas mortes, segundo o CarbonPlan, já ocorreram em níveis muito mais baixos que os 48 graus calculado pelos estudos.

Para se ter uma ideia, a maior temperatura registrada oficialmente no Brasil foi 44,8 °C em Nova Maringá, no Mato Grosso, nos dias 4 e 5 de novembro de 2020, e superou o recorde também oficial de Bom Jesus, no Piauí, em 21 de novembro de 2005, que chegou a 44,7 °C. Em Belém, a maior temperatura do ano foi registrada no dia 17 de agosto com valor de 35.8 °C, de acordo com o serviço meteorológico, quando a população da capital vivenciou uma situação de calor intenso.

De acordo com o Washington Post, esta nova epidemia de calor extremo representa uma das ameaças mais graves para a humanidade, mas não afetará o mundo de uma forma uniforme. Embora certas partes dos países ricos registem aumento da temperatura por alguns dias, a maior parte do perigo surgirá nos países pobres, em regiões já quentes, como o Sul da Ásia e a África Subsaariana, onde a carência de recursos impede, por exemplo, a generalização de ambientes com ar-condicionado ou de outras vantagens, como sistemas avançados de cuidados de saúde.

A escalada nos termômetros, avisam os cientistas, deve multiplicar as mortes em grupos mais frágeis, como idosos e crianças. Os últimos verões já deram uma amostra do que nos espera no futuro. Autoridades da União Europeia associaram ao menos 60 mil mortes na região à onda de calor registrada em 2022. Globalmente, o calor já ceifa cerca de meio milhão de vidas todos os anos, de acordo com um estudo publicado pela Lancet Planetary Health, em 2021. Entre os problemas de saúde desencadeados ou agravados pelo calor extremo estão ataques cardíacos, derrames e doenças renais.

GRADATIVO

Um levantamento realizado no ano passado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Brasília, confirma que ondas de calor, seca e inundações são resultados das alterações climáticas nos últimos 60 anos. O Inmet é o órgão responsável pelo monitoramento climático nacional e membro integrante da Organização Meteorológica Mundial (OMM). O estudo indicou a possibilidade de aumento na frequência, intensidade e/ou duração desses eventos extremos climáticos.

A publicação das “Normais Climatológicas do Brasil”, valores médios de variáveis meteorológicas para o período de 1991-2020 fez um comparativo com a edição anterior (1961 – 1990), e tinha como objetivo principal analisar as mudanças no clima do Brasil nos últimos 60 anos. De modo geral, houve redução de chuva e as temperaturas do país estão elevadas em 1,5°C, com aumento gradativo da temperatura média em todo Brasil.

As regiões Nordeste, Norte e parte do Centro-Oeste foram as que tiveram mais alterações, conforme o levantamento. A análise mostrou que, especialmente, na divisa dos estados do Pará e Tocantins, bem como na divisa entre o Maranhão e o Piauí, as temperaturas tiveram aumento acima de 1,5°C, segundo a publicação do Inmet publicada na página do Instituto em 25 de agosto.

“Há, inclusive, um destaque para as estações meteorológicas do Inmet, localizadas em Palmas (TO), com aumento de 2,0°C; em Conceição do Araguaia (PA), com 1,9°C de aumento e, em Floriano (PI), com aumento 1,6°C”, revela o levantamento.

Na opinião do coordenador do 2º Distrito de Meteorologia do Inmet no Pará, José Raimundo Abreu de Souza, o aumento gradual da temperatura em Belém pode chegar a 1.2°C em 100 anos, segundo estudo realizado por ele, em parceria com uma especialista da UFPA no ano 2.000. Ele lembra que Belém já vive hoje aproximadamente 180 dias de calor. “O Pará tem 180 dias de período mais chuvoso e 180 dias mais seco”, ressalta. José Raimundo informa que os estudos na Amazônia comprovam que a região, assim como grande parte do planeta, está aquecendo. “Mas ainda não é possível fazer essa previsão de 188 dias. É uma chance de 50% de acontecer ou não”, diz o diretor.

Calor extremo pode afetar a saúde de grupos mais vulneráveis, como idosos e crianças, segundo estudo da CarbonPlan
FOTO: wagner almeida