Pryscila Soares
Uma equipe de pesquisadores desembarcou no último domingo (30), partindo de Belém, para a nona expedição pela foz do rio Amazonas. Durante toda a viagem, os cientistas utilizarão diversos equipamentos instalados dentro de um barco laboratório para realizar medições na água e, com isso, detectar a presença de gases que causam o efeito estufa e contribuem para a ocorrência das mudanças climáticas.
A qualidade da água também será avaliada, além do monitoramento de sedimentos presentes no rio e da quantificação de microplástico, que afeta a fauna aquática e pode ocasionar insegurança alimentar.
O projeto iniciou em 2014 com o objetivo de fazer coletas na foz do Rio Amazonas, a maior bacia hidrográfica do mundo. Houve uma parada durante o período de pandemia e agora o grupo retoma os trabalhos com o intuito de inserir novas informações no banco de dados.
A equipe que partiu da capital paraense é composta pela bióloga e pesquisadora Vania Neu, professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra); Maria Gabriela Araújo, engenheira ambiental formada pela Ufra e doutoranda na Universidade de São Paulo (USP); e Emerson Maciel, doutorando em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Além deles, outros pesquisadores estão envolvidos no projeto, tendo ainda a participação de cientistas da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e estrangeiros. De acordo com Vania Neu, uma das idealizadoras do projeto, os cientistas realizam as medições desde a saída da expedição até a chegada em Macapá, no estado do Amapá. A pesquisadora ressalta que 20% de toda a água doce que chega ao oceano vem da foz do rio Amazonas.
Intitulado “Pontos Cegos Biogeoquímicos ao Longo do Contínuo do Baixo Rio Amazonas”, o projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e por uma agência norte-americana de financiamento à pesquisa.
“Ficaremos 15 dias embarcados. Vamos sair daqui, iremos até Macapá, lá a gente pega o restante da equipe e vamos até Bailique (arquipélago de Macapá). De lá, vamos descer para Chaves, Afuá e vamos finalizar coletando o canal norte e canal sul em Macapá. E assim fechamos a expedição”, informou a pesquisadora.
“Quando a gente fala do rio Amazonas, o que mais preocupa é a entrada de água salina, porque vai deixar as pessoas sem água. Ainda não temos dados sobre microplástico. Vamos fazer a primeira coleta agora. O rio Amazonas ainda é muito preservado. Uma coisa que vai ser muito importante dessa viagem é saber a quantidade de carbono negro que está saindo para estimar a dimensão do desmatamento ocorrido na Amazônia nos últimos seis anos”, pontua Vania.
Além deste estudo, Vania lidera um projeto que mapeia o rio Pará, o quinto maior rio do mundo. O trabalho é pioneiro e envolve cientistas de outras sete instituições de pesquisa do Brasil, com financiamento do governo do estado.
A expedição percorre 10 municípios, em um trajeto de quase 900km, de Belém ao município de Breves, no Marajó, e entrando no rio Tocantins até o município de Baião. Os dados coletados no servirão para previsões futuras do nível de água e correntes, o que pode gerar um sistema de monitoramento para previsão de riscos e desastres para a população do Pará.
A primeira expedição foi realizada em novembro de 2022 e estão previstas mais quatro, que aguardam o repasse do recurso para continuar. O projeto é intitulado “Influências dos Processos Hidrodinâmicos sobre as trocas de carbono e nitrogênio no sistema estuarino no rio Pará” é financiado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet) e executado pela Fundação Guamá.
“Quando a gente fala do Rio Pará, temos pouquíssimas informações. Ainda precisamos fazer mais três ou quatro viagens para saber qual a quantidade de água que está saindo, quanto carbono, microplástico e como é a questão da entrada do sal”, esclarece a pesquisadora.