Cintia Magno
Para além da infraestrutura da cidade, a inédita realização de uma edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP) na capital paraense deve deixar um legado também para quem trabalha com o artesanato ligado às expressões culturais autênticas do Estado e da Amazônia. Uma oportunidade que pode ser aproveitada mesmo antes da chegada dos turistas na cidade.
Moradora da comunidade de Colônia Nova, zona rural do município de Abaetetuba, a artesã Suelem da Silva Gomes não esperou chegar 2025 para começar a estruturar o seu negócio para a demanda de turistas e visitantes que deverão ser atraídos para Belém durante a COP30. “Estou aprimorando meu conhecimento sobre biojoias para atender às novas demandas do mercado. Explorando materiais sustentáveis e designs inovadores para oferecer soluções únicas e eco-friendly aos meus clientes”.
Suelem conta que decidiu mergulhar no ramo de biojoias ao longo dos últimos três anos, sempre preocupada em combinar criatividade à sustentabilidade e beleza natural.
“Desde o início dessa jornada na área do artesanato, cada peça criada foi mais do que um acessório; foi um testemunho do meu compromisso com o meio ambiente e com a originalidade. Aprendi a transformar elementos como sementes, fibras naturais e materiais reciclados em obras de arte únicas, cada uma contando sua própria história de conexão com a natureza. Através deste trabalho, conquistei não apenas clientes, mas também a satisfação de saber que estou contribuindo para um futuro mais sustentável e consciente”.
Diante de toda essa trajetória, a artesã não esconde a animação com a vinda da COP30 para Belém. A expectativa é que, com o evento internacional e o público atraído por ele, o seu trabalho consiga ganhar mais visibilidade.
“Para mim, isso representa uma oportunidade única de mostrar meu trabalho para um público internacional. Acredito que durante o evento, haverá uma demanda significativa por produtos artesanais autênticos e sustentáveis. Estou esperançosa de que isso não só aumentará minhas vendas, mas também abrirá portas para colaborações e parcerias com pessoas de diferentes partes do mundo”, considera. “A COP-30 deixará um legado valioso para o artesanato local, promovendo práticas sustentáveis e valorizando técnicas tradicionais. Com um foco renovado na preservação ambiental, haverá apoio para o uso de materiais naturais e métodos eco-friendly, incentivando o crescimento econômico sustentável das comunidades artesanais ao redor do mundo”.
Há 10 anos trabalhando com o artesanato de Miriti ao lado do esposo, a artesã Cleidiane dos Santos Gomes também guarda grandes expectativas para o período da COP30. Ela lembra que quando ouviu falar em COP pela primeira vez, ela não entendia muito bem o que era o evento, mas hoje, não só compreende a sua importância, quanto vê o potencial que ele pode trazer para o seu negócio.
“Quando eu escutei essa palavra, COP 30, eu confesso que fiquei sem saber o que era porque, até então, eu nunca tinha escutado falar. Eu via todos esses rumores e eu não sabia o que era. Aí no Sebrae, em uma das apresentações que a gente participa, eles explicaram o que era a COP e eu fui ver que era algo grandioso e uma super oportunidade de as pessoas conhecerem o nosso trabalho”.
Enxergando o potencial de longe, Cleidiane não demorou em buscar se preparar para o momento que está por vir. Ela conta, inclusive, que o impacto da vinda do evento para Belém já vem sendo sentido, de alguma maneira, no trabalho de quem atua com o artesanato local.
“Os turistas ainda não chegaram, não estamos ainda no período do evento, mas só o nome já pesa. Então, com certeza, a expectativa é que vai ser uma oportunidade muito grande para nós”, considera. “Desde quando falaram que Belém ia receber a COP 30, já teve uma preocupação maior da nossa parte para a gente se capacitar ainda mais e se dedicar ainda mais para oferecer o melhor com qualidade e também com quantidade para os clientes porque nós sabemos que a demanda vai ser muito grande”.
Diante disso, a artesã conta que todas as oportunidades que estão sendo geradas já no cenário atual, como a oferta de curso preparatórios, por exemplo, estão sendo aproveitadas ao máximo.
“Quando a gente começou a ir para as feiras de artesanato em Belém, a gente já começou a sentir isso como se fosse já um aprendizado para a gente. Nessas feiras a gente ganha muitos clientes que não compram só na época do Círio, no decorrer do ano eles entram em contato com a gente para pedir algo personalizado para presentear pessoas de fora do Estado e até de fora do país e eu acredito que a COP não vai ser diferente”, projeta. “Acredito que vai atrair mais fechamentos de contratos e até mesmo atrair o olhar para a nossa cultura, para o nosso artesanato. Eu acredito que vai ser algo extraordinário. Está sendo antes, vai ser no dia e vai ficar depois”.
Para o diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, não há dúvidas de que a vinda da COP30 para Belém irá impulsionar os negócios que atuam com artesanato e outras expressões culturais autênticas do Estado. “O Sebrae enxerga literalmente uma floresta de oportunidades para os pequenos negócios de Belém e de outras cidades do nosso estado. E, o melhor, não somente em novembro de 2025, pois as oportunidades já estão aparecendo. O próprio anúncio da COP em Belém, da COP da Floresta, gerou grande visibilidade para o nosso estado e, até mesmo, aumento no fluxo de visitantes na região”.
Rubens Magno lembra que recentemente foi divulgada uma pesquisa da Secretaria de Estado de Turismo (Setur) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), que aponta um acréscimo de mais de 13% das receitas provenientes do turismo na economia do Estado do Pará, além de um aumento de 11% no número de turistas que visitaram o Estado em 2023, em comparação com o ano de 2022.
“Essa mesma pesquisa também mostra que, no ano passado, o turismo gerou mais de R$ 750 milhões em receitas para o nosso estado, como resultado dos gastos de mais de 1 milhão de turistas brasileiros e estrangeiros que passaram por aqui, especialmente no segmento de ecoturismo”.
Outro exemplo citado por ele é o crescimento no número de eventos nacionais e internacionais realizados na cidade desde o ano passado. “Para citar alguns exemplos, tivemos os Diálogos Amazônicos, o Encontro da Juventude (Y-20) e a Feira Internacional do Pescado, além dos eventos esportivos. Então, isso tudo nos mostra que Belém já está se beneficiando com a COP, a mais de um ano da realização do evento”, avalia Rubens Magno.
“Essa maior visibilidade de nosso estado e, por consequência, incremento no fluxo de visitantes por aqui, com certeza, contribui para dar mais rentabilidade também aos nossos pequenos negócios. Para aproveitar essa oportunidade, a melhor forma é usarmos o que temos de mais forte: a nossa cultura amazônica. Afinal, quando um turista vem para a nossa região, o que ele quer é viver a Amazônia. A partir do momento em que essas pessoas estiverem em Belém, elas irão circular pela cidade e até mesmo por localidades próximas, vão querer conhecer nossos pontos turísticos, ir a restaurantes, comprar uma lembrança da cidade – os famosos souvenirs, que muitas vezes são produtos artesanais, ligados à economia criativa”.
Para que o cenário favorável seja aproveitado, o diretor-superintendente do Sebrae no Pará lembra que os empreendedores precisam se preparar para as oportunidades. “Um evento internacional dessa magnitude requer uma certa preparação por parte de quem vai receber. Precisamos estar preparados para atender a um público diversificado. Isso significa dizer que devemos adotar um padrão de atendimento, compreender questões de multiculturalismo, conseguir se comunicar com os visitantes, uma vez que o inglês é a língua oficial de eventos internacionais como esse”, pontua.
“Em nossa loja virtual, no endereço eletrônico www.pa.loja.sebrae.com.br, o empreendedor terá acesso a uma gama de soluções e capacitações (muitas gratuitas), que com certeza irão ajudá-lo na gestão do seu negócio e na preparação, não só para a COP, mas para a sustentabilidade e perenidade do negócio. Esse será o legado deixado para os pequenos negócios e a palavra “legado” tem norteado as nossas ações”.