Pará

Apagão teria começado em subestação próxima a Belo Monte

Licenciamento obrigou a empresa a atender a todos os indígenas impactados pelo empreendimento, destacou o MPF
Licenciamento obrigou a empresa a atender a todos os indígenas impactados pelo empreendimento, destacou o MPF

ALEXA SALOMÃO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) informou um problema no sistema nacional que levou à interrupção no fornecimento de 16 mil MW de carga em estados do Norte e Nordeste do Brasil, na manhã desta terça-feira (15). Estados do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste também foram afetados.

A interrupção ocorreu por causa da abertura, às 8h31, da interligação Norte-Sudeste. As causas da ocorrência ainda estão sendo apuradas.

Essa interligação é o conjunto de linhas de transmissão que ligam as instalações de geração de energia das regiões Norte e Nordeste com as instalações majoritariamente de consumo da região Sudeste do Brasil.

No momento do apagão, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estava no Paraguai, acompanhando a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas decidiu retornar ao Brasil. Silveira determinou a criação de uma grupo com trabalho, com MME, ONS e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), para averiguar o que ocorreu

Segundo a Folha de S.Paulo apurou, existem várias possibilidades de caráter técnico. O ONS avalia se houve um problema na Subestação Xingu, que teria afetado a distribuição da usina de Belo Monte no Pará.

Especialistas no setor dizem que é preciso aguardar a conclusão dos técnicos. O ex-diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman é um deles.

“Nessa altura qualquer hipótese sobre a causa do blackout é mera especulação”, afirmou.
Kelman avalia que a gestão do sistema vem se tornando mais completa, o que exige análises mais detalhadas sobre a operação do sistema para averiguar uma queda de energia dessa proporção.

“É fato conhecido, por exemplo, que o aumento da participação das fontes eólica e solar, principalmente no Nordeste, pode resultar um abruptas variações de produção local de eletricidade devido à flutuação dos ventos e ou passagem de nuvens, causando trancos no fluxo de energia nas linhas de transmissão e na produção das hidroelétricas”, afirmou a título de exemplificação.

A recomposição foi iniciada logo cedo em em todas as regiões. A estimativa é que 6 mil MW já tinham sido recompostos até às 9h16.

A Conexis Brasil Digital, que representa as principais operadoras de telefonia e internet do país, informou que por causa do apagão houve instabilidade nos serviços de telecomunicações. “As operadoras já estão trabalhando para reestabelecer os serviços no menor prazo possível.”

No estado do Rio de Janeiro, a concessionária Light registrou falta de energia na manhã desta terça em trechos de bairros das zonas norte e oeste da capital e também em pontos da Baixada Fluminense.

Segundo a empresa, o serviço foi restabelecido gradativamente após autorização do ONS. A Light é responsável pela distribuição de energia em 31 municípios do Rio de Janeiro.

“A Light informa que a energia foi totalmente restabelecida nas regiões impactadas pela atuação do Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC), de responsabilidade do Operador Nacional do Sistema (ONS), na manhã de hoje (15/8)”, disse a concessionária.

“O ERAC é um procedimento que acontece de forma automática quando alguma ocorrência é identificada no Sistema Interligado Nacional e ocorre para proteger o sistema elétrico de danos maiores”, acrescentou.

Em nota, a Equatorial Energia, uma das empresas com distribuidoras afetadas pela ocorrência, afirmou que, segundo informações preliminares, houve atuação do ERAC, que protege a rede para tentar restringir a perda de carga no sistema.

“Em todos os Estados em que há concessão do Grupo (Alagoas, Amapá, Maranhão, Goiás, Pará, Piauí e Rio Grande do Sul), a normalização já foi iniciada”, disse a Equatorial.

65% DO RIO GRANDE DO SUL SEM LUZ
No Rio Grande do Sul, a RGE, que atende a 381 dos municípios gaúchos (65% do estado), confirmou interrupção de energia para 445 mil clientes, cerca de 15% das conexões.

A CEEE Equatorial, presente em 72 cidades, confirmou problemas, mas não soube informar a quantidade de clientes afetados e disse que “aguarda autorização do Operador Nacional do Sistema Elétrico para normalizar as cargas afetadas”.

A Copel, empresa que distribui energia no Paraná, confirmou que “dezenas de cidades” foram afetadas, mas acrescenta que o fornecimento “já começou a ser restabelecido e deve ser concluído em breve”.

“Por volta das 8h30, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) realizou um corte de carga em diversos estados do Brasil, entre eles o Paraná, em função de um problema na interligação do sistema elétrico entre as regiões Norte – Nordeste e Nordeste – Sudeste. Esse mecanismo de corte de carga é conhecido como Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC) e atua preventivamente, quando necessário, para evitar impactos maiores no funcionamento do sistema elétrico nacional”, afirmou a Copel, em nota.

Em Pernambuco, houve relatos de queda de energia em cidades da região metropolitana do Recife e no interior do estado.

A Neoenergia, concessionária responsável pelo fornecimento de energia no estado, disse, em nota, que, “uma ocorrência de grande porte no Sistema Interligado Nacional (SIN) afetou o suprimento de energia em diversos estados brasileiros”.

A Enel, distribuidora de energia nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, afirmou que na manhã desta terça parte dos clientes da sua área de concessão teve o fornecimento de luz interrompido devido ao corte de carga realizado pelo ONS. O serviço, segundo a empresa, é restabelecido de forma gradual. Em Mato Grosso, 343 mil clientes foram afetados em todas as regiões do Estado a partir das 7h30, segundo a Energisa. “Na área de concessão da Energisa Mato Grosso, a única cidade sem fornecimento é Rondolândia neste momento. O restante já está com o atendimento normalizado”, diz a empresa, em nota divulgada por volta das 9h.

FALTA DE LUZ AFETA TRANSPORTE PÚBLICO
O apagão causou problemas no transporte público na manhã desta terça. Em São Paulo, os trens da linha 4-amarela do metrô e linha 15-prata do monotrilho, circularam com velocidade reduzida e maior tempo de parada entre as estações.

O problema afetou toda a linha 4-amarela. Desde as 9h, a circulação ficou interrompida entre as estações Luz e Paulista. O sistema Paese (Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência) foi acionado para atender esse trecho. As duas linhas entraram em processo de normalização das operações por volta das 9h30.

Em Salvador, o apagão provocou suspensão do funcionamento do metrô que interliga a capital baiana e Lauro de Freitas, na Região Metropolitana.

O sistema metroviário foi evacuado e as operações, temporariamente suspensas. Os acessos às estações ficarão fechados até o retorno da energia elétrica.

USUÁRIOS POSTAM VÍDEOS DOS PROBLEMAS
Nas redes sociais, vídeos no X, antigo Twitter, mostram passageiros caminhando sobre os trilhos do metrô em Salvador após a interrupção da energia.

“Estou no metrô e, como o sistema de mobilidade daqui funciona que é uma beleza, nem tem ônibus daqui para terminar o percurso porque para chegar onde tem, só de metrô”, escreveu uma usuária por volta das 9h.

Em Belo Horizonte, por volta das 8h30, motoristas postaram relatos de semáforos apagados em importantes vias da capital mineira.

No Twitter, um usuário brincou: “41 centavos de subida na gasolina e blackout. Se seu dia tá complicado, imagina o do ministro de Minas e Energia”. Nesta terça-feira, além da falta de luz, a Petrobras anunciou que o preço da gasolina nas refinarias da estatal vai subir para R$ 2,93; já o diesel terá alta de R$ 0,78 por litro, para R$ 3,80. Esses são os primeiros aumentos desde a implantação da nova política comercial da companhia, que abandonou o conceito de paridade de importação em maio.

No Recife, enquanto algumas pessoas dizem ter presenciado piques de luz, outras reclamam da falta de energia por mais de uma hora. A observação de um morador explica bem a situação: “Metade do meu bairro tem energia, a outra metade não”, escreveu no Twitter.