Pacientes renais crônicos que recebem atendimento em Ananindeua realizaram um protesto na tarde desta quarta-feira (21) em frente ao Centro de Hemodiálise Ari Gonçalves (CEHMO), localizado na Cidade Nova 5. O atendimento aos pacientes seria suspenso na última terça-feira (20), mas a clínica, por conta própria, decidiu mantê-los ainda nesta semana. Porém, os pacientes estão com futuro incerto para o tratamento.
A clínica possui convênio com a Prefeitura de Ananindeua e está com o repasse de verbas atrasado há 1 ano e 4 meses, o que impossibilita a continuidade do tratamento de pelo menos 51 pacientes renais crônicos atendidos na unidade. Com cartazes e faixas pedindo a normalização imediata do serviço, pacientes e familiares ressaltam o medo de ficarem sem o serviço necessário para o tratamento de saúde.
Há três anos e meio Jason Lopes Silva, 52, realiza o procedimento na clínica CEHMO. O paciente renal crônico reclama dizendo que a falta do repasse da verba para a clínica é resultado de má administração da Prefeitura de Ananindeua. “Estão dificultando o nosso acesso à saúde. Quero permanecer aqui porque a equipe já conhece meu caso e me trata bem”, reforça o paciente que faz três vezes hemodiálise na semana.
“A gente está lutando pelo nosso direito. Vamos e queremos ficar aqui. Eu me sinto indignada e afrontada”, diz, com revolta, Lidiane da Silva Correa, 42, que realiza há sete anos o tratamento na clínica. Para dar apoio à causa, Lidiane explica que os pacientes atendidos na clínica recorreram ao Ministério Público do Estado para que sejam mantidos os atendimentos no local. “Eu vou lutar para manter meu tratamento nesta clínica. Não vou sossegar até que tudo se normalize aqui.”
Paciente renal crônico há cinco anos, Pedro Pinheiro, 42, afirma que está aflito por conta da situação da iminente falta de assistência no local. “A clínica tem uma equipe que trata a gente muito bem. Não queremos sair daqui. O prefeito (Dr. Daniel) não faz o repasse e quem sofre é a gente”, salienta. Revoltado, Pedro exige que a situação seja regularizada o mais imediato possível, em respeito aos pacientes. “Imagina nós, doentes, termos que passar por isso.”
A indignação também é compartilhada por familiares de pacientes atendidos na unidade. Lucilene Agrícola, 56, dá apoio ao marido Mauro Agrícola, 62, que realiza tratamento há cinco anos no CEHMO. Lucilene explica que o marido é acamado e tem dificuldades de locomoção, o que deixa ela em dúvida sobre o futuro do tratamento de saúde de Mauro. “Isso é resultado de uma péssima administração pública. Aqui tem estrutura para os pacientes. Basta só o prefeito fazer o repasse para a clínica”, protestou, irritada.
Em comunicado, o CEHMO informou que, apesar de reiterados pedidos e notificações, não houve qualquer medida efetiva da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) para garantir a continuidade do serviço na clínica. “Apesar dos esforços para manter o atendimento normalmente, a ausência desses repasses compromete a compra de insumos e o pagamento das equipes, tornando inviável a continuidade dos serviços a longo prazo”, informou.
O CEHMO reafirma que não deseja encerrar nem transferir os atendimentos, mas sim que a Prefeitura de Ananindeua quite suas pendências e renove o contrato. “Nos solidarizamos com os pacientes e suas famílias e estamos à disposição para diálogo com as autoridades, buscando soluções urgentes que preservem o tratamento de nossos pacientes, no local onde se sentem acolhidos.”
Entramos em contato com a Prefeitura de Ananindeua para pedir um posicionamento sobre a situação, mas até o fechamento desta edição, o DIÁRIO não recebeu retorno sobre a demanda solicitada.
ENTENDA
Doença Renal Crônica no Brasil
De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, em 2023 foram 187.182 registros de doença renal crônica no Brasil, aumento de 37% comparado com o ano de 2022, com 135.665 registros.
Hemodiálise: O que você precisa saber
A hemodiálise é o procedimento por meio do qual uma máquina filtra e limpa o sangue, fazendo parte do trabalho que o rim doente não pode fazer. O procedimento retira do corpo os resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos. Também controla a pressão arterial e ajuda o organismo a manter o equilíbrio de substâncias como sódio, potássio, ureia e creatinina.
A hemodiálise está indicada para pacientes com insuficiência renal aguda ou crônica grave. As sessões de hemodiálise são realizadas geralmente em clínicas especializadas ou hospitais, no mínimo três vezes por semana e cada uma tem duração de aproximadamente quatro horas.
Conforme a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), se um paciente parar de fazer hemodiálise, isso pode levar a complicações graves como acúmulo de toxinas no corpo, inchaço, pressão alta, anemia e problemas cardíacos. Em casos extremos, pode ser fatal.