Pará

Agronegócio paraense só recebeu R$ 300 mil do Governo Federal em 2022

O governo Bolsonaro investiu pouco no setor agrícola do Pará. Foto: Divulgação
O governo Bolsonaro investiu pouco no setor agrícola do Pará. Foto: Divulgação

Luiza Mello

O agronegócio contribui em média 21% para a composição do PIB dos municípios paraenses, representando a base econômica de grande parte deles e fonte de ocupação para parcela substantiva da população. O campo absorve cerca de 1.500.292 milhões de pessoas, o que corresponde a 42,68% dos trabalhadores no Estado, informa a Federação da Agricultura do Estado do Pará (Faepa).

Apesar desse quadro pujante, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) só repassou R$ 300 mil para fomentar o setor neste ano de 2022. Comparado a outros estados produtores, o Pará teve o menor valor de transferências realizadas pelo Governo Federal quando somados os últimos quatro anos (2019 a 2022). Foram R$ 103,9 milhões transferidos nesse período.

O DIÁRIO fez uma extensa pesquisa no Painel de Transferências Abertas +Brasil, mantido e atualizado pelo Ministério da Economia. Foram comparados dados dos 10 estados com os maiores VBP, ou faturamento bruto dentro dos estabelecimentos rurais, considerando as produções agrícolas e pecuárias, e a média de preços recebidos pelos produtores de todo o país.

O Pará é o 10º nesta lista, na qual não aparece, por exemplo, o Tocantins. No entanto, quando são comparadas as transferências realizadas pelo governo Jair Bolsonaro, os valores para o agronegócio no Pará são 55% inferiores ao que foi liberado pelo governo Jair Bolsonaro ao Tocantins (R$ 178,7 milhões) nos últimos 4 anos.

Santa Catarina, que é a nona colocada no ranking, recebeu R$ 391 milhões nos quatro anos deste governo. Já o Pará ficou com apenas 103,9 milhões, 230,3% a menos que o estado do Sul do país.

Pior é comparar o valor total pago nas 137 transferências feitas ao setor da agricultura e pecuária paraenses com estados comandados por aliados, por exemplo. O Paraná é o segundo no ranking de VBP com um total de recurso pago de R$ 731,456,198,00, em 1.286 transferências realizadas. O Estado é comandado por um governo aliado ao atual presidente da República.

O Mato Grosso do Sul, estado que elegeu a ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para a única cadeira do Senado, recebeu quase 425 milhões considerando somente os anos de 2019, 2020 e 2021 repassados 305 transferências. No painel coordenado pelo Ministério da Economia não constam os valores pagos ao Mato Grosso do Sul em 2022, o que significa que o total transferido pode ser muito maior.

Tereza Cristina foi ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil entre 2019 e 2022. No ranking dos maiores produtores, Mato Grosso do Sul aparece em 7º lugar quando avaliado o VBP. O primeiro lugar é do Mato Grosso, com quase 150 bilhões de reais a mais de Valor Bruto da Produção Agropecuária que o estado da ex-ministra. Porém, o valor de recurso liberado e pago para o MT é pelo menos R$ 223 milhões menos que o do estado que elegeu a então ministra. Comparado às transferências feitas para o Pará, Mato Grosso do Sul teve orçamento 242% superior ao agronegócio paraense.

O Mato Grosso ocupa a primeira posição, com R$ 225,6 bi neste ano. São Paulo está em segundo lugar, com R$ 157,0 bilhões, Paraná (R$ 144,7 bilhões), Minas Gerais (R$ 143,8 bilhões) e Goiás (R$ 111,8 bilhões). Na sequência aparecem: Rio Grande do Sul (R$ 87,70); Mato Grosso do Sul (R$ 76,36); Bahia (R$ 55,16); Santa Catarina (R$ 45,56); e o Pará com R$ 28,2 bilhões.

 

PARÁ É DESTAQUE NO SETOR E SEGUE ESQUECIDO PELO GOVERNO FEDERAL

O Pará é líder na produção nacional de açaí, abacaxi, cacau, dendê, mandioca e pimenta-do-reino. Também é destaque na produção de limão, banana e coco, ocupando, respectivamente, o 2º, 3º e 4º lugar no ranking nacional. Apesar disso, o Estado não figura entre os 10 maiores produtores na agricultura, segundo relatório produzido pelo Mapa.

Os principais estados produtores de grãos em 2022 foram (em toneladas): Mato Grosso, 84,2 milhões; Paraná, 35,8 milhões; Goiás, 29,2 milhões; Rio Grande do Sul, 25,1 milhões; Mato Grosso do Sul, 20,7 milhões; Minas Gerais, 18,0 milhões; Bahia, 11,9 milhões; São Paulo, 9,9 milhões; Maranhão, 6,6 milhões; e Tocantins 6,4 milhões. A produção do Pará foi de 3,8 milhões de toneladas. (Fonte: Conab).

De acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Pará, a soja foi, em 2018, o principal produto da pauta de exportação brasileira, atingindo o volume recorde de 1,4 milhão de toneladas, equivalente a, aproximadamente, US$ 568 milhões. No Pará, o complexo da soja já constitui o principal item da pauta de exportação do agronegócio, representando cerca de 25% do valor exportado pelo setor.

A soja paraense vem apresentando ritmo significativo de crescimento, expandindo sua área cultivada, no período de 2010/2017, de 85,4 mil para 500,4 mil hectares, equivalente a 30% do total da área de lavouras, sendo a de maior representatividade dentre as culturas.

A produção paraense de soja compreende três grandes polos: o do Nordeste paraense, de maior expressão, liderado pelo município de Paragominas; o do sul do Pará, tendo como principal município produtor, Santana do Araguaia; e o do oeste, capitaneado por Santarém.

Vale ressaltar, que a expansão da soja, no Estado, vem sendo efetuada em campos naturais e áreas já alteradas (áreas de pastagem). Isso significa, que não está utilizando área de floresta nativa, evitando-se, assim, o desmatamento.

O Estado vem ampliando a produção de cítricos, com a expansão do cultivo de laranja, no polo de Capitão Poço, no nordeste do Estado, favorecida pela implantação da primeira fábrica de suco de laranja do Pará, considerada a maior do Norte e Nordeste do País.

Outro produto que também vem ganhando destaque é o limão, cultivado, principalmente, no município de Monte Alegre, no oeste paraense. “As expectativas de crescimento da fruticultura paraense são bastante promissoras, tanto no segmento de frutas exóticas como no de frutas regionais, tendo em vista o aumento do consumo desses produtos, alguns deles com crescimento considerável de demanda, nos mercados nacional e internacional, como é o caso do cacau e açaí”, revela texto produzido pela Faepa.

Na pecuária, o Pará ocupa o 4º lugar no ranking nacional, com um rebanho de aproximadamente 22 milhões de cabeças (IBGE, 2017), incluindo o rebanho bubalino (cerca de 513 mil cabeças), o maior do país, concentrado principalmente no arquipélago Marajoara. “O rebanho paraense se distingue pelo seu elevado padrão genético, assim como pela qualidade da carne que produz. Em se tratando de padrão sanitário, o Pará goza do status de Certificação Internacional de Área Livre de Aftosa com vacinação”.