Cintia Magno
À medida em que se adentra o território de um dos bairros mais populosos de Belém, a Terra Firme, um universo de possibilidades se apresenta nos mais variados segmentos, seja no comércio, no esporte, na produção cultural, na organização social e popular.
E foi justamente em busca de conhecer e reconhecer essa diversidade de equipamentos que nasceu o projeto Cartografia Social da Terra Firme, que divulgará atualizações acerca de sua segunda versão no próximo dia 11, em alusão ao aniversário de 407 anos de Belém. A iniciativa do projeto é do Coletivo Tela Firme e do projeto Nós Na Tela.
Idealizador do Tela Firme e do Nós Na Tela, além de diretor da Cartografia Social da Terra Firme, o geógrafo Francisco Batista explica que já houve uma primeira edição da cartografia que, em 2019, passou por atualizações que serão apresentadas para o bairro e para a sociedade.
“A Cartografia surge com o intuito da gente mostrar um levantamento sobre o que tem aqui no bairro nas várias categorias. Então, começamos a refletir sobre isso, fizemos contato com vários profissionais da área e iniciamos esse trabalho”, lembra ao pontuar que a cartografia conta com o apoio da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Incubadora de Linguagens Digitais da Faculdade de Audiovisuais.
“Quando a gente começou essa imersão no território começamos a perceber quão rico e diverso ele é, de fato. A gente mapeou todas as ruas, são mais de 80 logradouros. Nós mapeamos logradouros que, por exemplo, não estão registrados nem no Google e a gente fez essa atualização nessa segunda versão”.
Além de constatar o óbvio, que é a grandeza da diversidade presente no bairro, o mapeamento também chamou a atenção para algumas curiosidades, como a presença de uma fábrica de máquinas de bater açaí já na fronteira da Terra Firme com o bairro do Marco.
“Se você analisar mais a fundo o mapa, você vai perceber onde estão concentrados os serviços. Nós temos a porção Sul como a parte mais densamente ocupada do território e aonde os serviços são mais carentes. Mapeamos academias, salões de beleza, barbearias”, conta Francisco.
PRESENTE
“Você tem aqui um rico instrumento que pode ser utilizado, primeiro, pela comunidade, para se localizar, e segundo pelo poder público que pode verificar as potencialidades. Hoje você tem um equipamento no bairro que é a Usina da Paz, que é um equipamento super importante e que pode, a partir dessas informações, dinamizar o seu funcionamento no território”, considera Francisco.
“Belém fazendo 407 anos e tendo uma periferia que consegue mapear os diversos equipamentos existentes seja no campo cultural, comercial, religioso, torna-se um presente para Belém dentro de uma outra perspectiva”.
Uma das propostas é de solicitar sinalização das ruas
Francisco lembra, ainda, que a equipe do projeto pretende, a partir das informações levantadas pelo mapa, fazer uma proposta frente à Prefeitura de Belém para que as ruas sejam sinalizadas na Terra Firme.
“Isso também traz dignidade ao espaço, ao território, saber onde é a Lauro Sodré, onde é a Comissário, onde é o Beco do Santo Antônio, o Beco da Esperança, a Rua da Paz. A gente precisa que, internamente, as pessoas visualizem o nome de suas ruas até por uma questão de dignidade mesmo. Como nós conseguimos mapear ruas que nem estavam no Google, nem estavam no mapa, a gente tem como apresentar o mapa com as ruas atualizadas”.
Para que tais informações fossem levantadas, todos os recenseadores que participaram da coleta dos dados são moradores do bairro da Terra Firme, como é o caso do Fabrício Assunção de Souza, 21 anos, morador da Terra Firme desde o seu nascimento e que participou da coleta de dados da Cartografia.
“Eu, particularmente, não conhecia todas as duas do bairro. Então, foi uma descoberta para mim também. Tinha ruas que eu conhecia, que tinham amigos meus que moravam lá, mas que eu não sabia o nome. Então, essa participação na Cartografia, o levantamento das ruas do bairro, conversar com algumas famílias e explicar para elas o que era esse trabalho, foi um momento de muito aprendizado. Foi uma experiência muito valiosa”, considera.
“Eu acho que valorizou mais o bairro. A partir de olhar o mapa e até mesmo sinalizar que no mapa aparece o seu ponto de açaí ou a igreja que a pessoa frequenta, até mesmo isso é muito importante. Todo esse trabalho foi justamente para valorizar o nosso bairro e também para poder dar destaque para essas famílias e para esses moradores.