
Cerca de 16,4 milhões de pessoas vivem em favelas e periferias do Brasil, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais do que um dado demográfico, esse número revela a potência das periferias e comunidades urbanas do país para um tipo de economia que vem ganhando cada vez mais espaço: o mercado de influência.
Basta abrir o aplicativo de alguma rede social para observar que a atuação de influenciadores de comunidades periféricas vem aumentando. A partir de relatos focados na sua realidade local – que acaba sendo a mesma de boa parte da população em geral –, esses influenciadores movimentam a economia, constroem tendências e chamam a atenção para o impacto social das mídias digitais.
O cofundador, sócio e CCO da Digital Favela – empresa focada em influenciadores de favela –, Tiago Trindade, chama a atenção para a representatividade das periferias no mercado consumidor brasileiro. “O mercado de influência está, cada vez mais, abraçando as vozes e as realidades das periferias que representam uma grande fatia de consumidores do Brasil. Somos mais de 70% da população brasileira. Então, a periferia, ao contrário do que todos pensam, não é nicho. A gente sempre vê uma grande oportunidade para criadores de conteúdo que vivem nas periferias do Brasil”.
Tiago explica que, observando esse potencial, a Digital Favela buscou conectar a potência criativa periférica com as grandes marcas, o que vem dando muito certo. “A criatividade não vem só de um lugar específico, a gente tem que derrubar essa grande verdade do mercado. O potencial do público periférico é imenso e o nosso trabalho é descentralizar essas narrativas e a gente vê cada vez mais marcas reconhecendo a importância das vozes periféricas e abrindo um grande leque de possibilidades para os criadores de conteúdos periféricos e para as marcas também”.
CRIATIVA
Não apenas para as marcas, mas também para os próprios criadores de conteúdo que vivem nas periferias do Brasil, essa economia criativa pode render bons frutos. Para os influenciadores, a atuação nas redes é capaz de garantir visibilidade, oportunidades, valorizar as culturas locais e, ainda, proporcionar maior capacidade financeira para os próprios criadores de conteúdo e para as suas comunidades, na medida em que o dinheiro passa a circular localmente.
E para que a partida para esse cenário seja possível, não é necessário possuir, de pronto, um grande volume de equipamentos de áudio e vídeo. Muitas vezes, a criatividade é suficiente para iniciar um trabalho com boas perspectivas. “Sempre há o preconceito, olhando de fora, sobre os criadores periféricos, sobre a dificuldade, a falta de recursos como câmeras, equipamentos. Mas a favela, a periferia, está online, tem acesso à internet. Claro, os celulares não são dos melhores no início das suas carreiras, mas com a capacitação e com o tempo eles vão evoluindo”, avalia Tiago Trindade.
“Com o tempo, eles conseguem celulares, equipamentos e luzes melhores, e isso vai aumentando o nível de qualidade de conteúdo deles. É, sim, possível criar conteúdo com qualidade, com excelência, com criatividade usando ferramenta simples. A criatividade pode vir de qualquer lugar, desde que haja espaço para ela acontecer”.
DICAS
l Autenticidade
Tiago destaca que a palavra, para quem está começando, é autenticidade. “Seja verdadeiro, seja autêntico, conte a sua história. Nenhum outro influenciador do mundo pode contar a sua história do jeito que você conta, então, seja genuíno em suas postagens, compartilhe o conteúdo que ressoe com a sua realidade e que conte verdadeiramente a sua história”.
l Constância
A outra dica é entender que o mercado de influência não é uma corrida de curto prazo. “Você precisa de constância e comprometimento para criar uma base de seguidores que seja engajada e fiel”.
l Comece com as ferramentas que tiver em mãos
Por fim, o especialista recomenda começar essa atuação no mercado de influência utilizando as ferramentas que tiverem disponíveis. “Não fique esperando o melhor celular, a melhor câmera para produzir conteúdo de qualidade. Use sempre a sua criatividade e lembre-se que a sua voz tem um valor. A potência criativa periférica é algo muito forte. Seja você, conte a sua história e faça conteúdos verdadeiros que eu tenho certeza de que vão engajar”.