COMPORTAMENTO

A nova Geração Beta está chegando ao mundo!

Nomeados assim, os bebês que nasceram ou nascerão em 2025 presenciarão novas formas de aprendizagem, comunicação e interação.

Priscila Cordeiro entende que o mundo onde a Ava irá crescer é diferente do dela
Priscila Cordeiro entende que o mundo onde a Ava irá crescer é diferente do dela. Foto: Antonio Melo

A nova geração Beta crescerá em um mundo extremamente tecnológico. Nascidos a partir de 2025, essas crianças devem presenciar novas formas de educação, comunicação e interação com a sociedade. Com o avanço cada vez mais acelerado da tecnologia, essa geração vai presenciar a personalização da Inteligência Artificial (IA), o uso massivo da realidade virtual e da Realidade Aumentada nas escolas e a socialização cada vez mais digital. Além disso, as mudanças climáticas e a fusão entre o real e o virtual devem marcar a experiência dessas novas pessoas no mundo.

De acordo com Denise Machado Cardoso, docente da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA, as “gerações” surgiram a partir dos estudos sobre infância, na segunda metade do século XX, nos Estados Unidos. Assim, foi definido que a geração seria formada por um grupo de pessoas que nasceram em uma mesma época, tendo o comportamento influenciado pelos acontecimentos históricos, culturais, políticos, sociais e econômicos. E isso também inclui a presença das tecnologias de informação e comunicação.

De acordo com Denise Machado Cardoso, docente da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA, as “gerações” surgiram a partir dos estudos sobre infância, na segunda metade do século XX, nos Estados Unidos. Foto: Antonio Melo

Foi depois da Segunda Guerra Mundial que surgiu a primeira geração existente: os Baby Boomers. O termo se refere ao aumento súbito da taxa de natalidade após o fim do conflito, que ocasionou um grande número de nascimentos em um curto período de tempo. A partir dessa definição iniciou uma classificação mais detalhada do que seriam as “gerações”, nomeadas a partir do alfabeto romano (X, Y e Z) e, mais recentemente, pelo alfabeto grego (Alpha e Beta).

Culturalmente, os Baby Boomers estavam inseridos em um período de euforia e efervescência marcadas pelo surgimento dos movimentos sociais e culturais atrelados às ideologias. É o período em que o mundo está presenciando a Guerra Fria, mas também é um momento de libertação da juventude que desafiava as normas sociais hegemônicas da época por meio dos movimentos hippie, negro, feminista, indígena e a ascensão do rock and roll, todos caracterizados pela rejeição dos valores convencionais.

Quase 80 anos depois, os nascidos a partir de 2025, conhecidos como a atual geração Beta, enfrentarão um cenário mundial bem diferente, marcado principalmente pela consolidação das relações sociais através da internet acessada pelos dispositivos móveis e a presença cada vez mais permanente da Inteligência Artificial (IA). Conforme a docente Denise Cardoso, a presença massiva da internet nas relações sociais resultará em modificações nas comunicações, consumo, mercado de trabalho, entre outros aspectos da vida humana.

“Nós teremos a incidência maior da Inteligência Artificial e de produtos que não serão mais plenamente produzidos por seres humanos. Isso terá um impacto em termos de mercado, consumo de produtos e serviços e ideais. Em termos de profissão, isso pode ocorrer tanto presencial como por home office, além da questão da educação e da formação profissional. Temos também a questão da saúde. Assim como nas gerações anteriores, principalmente a geração Alpha, talvez tenha um aumento de problemas de ansiedade, depressão, questões ligadas ao uso excessivo da tecnologia”, reflete a professora.

FUTURO

A consolidação das relações sociais através do uso pleno da tecnologia é a principal mudança para a nova geração Beta. Grávida de cinco meses, Pâmela Amaral, 38 anos, dará à luz ao seu primeiro filho ainda no primeiro semestre de 2025 e já reflete sobre o contexto social e tecnológico em que essa criança estará inserida durante a infância e, logo após, na adolescência, uma realidade que será bem diferente da geração Millennial, da qual “faz parte”.

Nascida em 1987, a fisioterapeuta e guarda municipal relata que foi criada com costumes bem diferentes dos atuais. Longe das telas e de qualquer aparelho eletrônico portátil, ela é de uma geração em que as relações sociais eram mais “pessoais”, quando as crianças ainda brincavam nas ruas do bairro enquanto os pais conversavam com os vizinhos sentados à porta de casa, mesmo período em que o tráfego de veículos era mais tranquilo, assim como a sensação de segurança era maior.

Hoje, com o contato precoce com as redes sociais e jogos online, as crianças estão inseridas desde os primeiros anos de vida na internet. Por isso, Pâmela vislumbra que o seu bebê vai presenciar avanços tecnológicos ainda mais acelerados, que devem propiciar a concretização da maioria das relações sociais através da rede. Dessa forma, o ambiente virtual e presencial se mesclam em um só, formando uma nova percepção de realidade em que o online está completamente misturado às experiências offline.

“Essa nova geração Beta vai ter vários desafios na sociedade, já vão nascer enfrentando problemas climáticos e culturais. Eu sou de 1987 e presenciei toda a questão do surgimento da internet e das redes sociais. A minha criança já vai nascer literalmente dentro desse mundo tecnológico e, agora, com a presença de Inteligência Artificial. Essa geração vai ter dificuldade de entender o que é real e o que não é por causa de imagens e vídeos produzidos por IA. Para a gente isso é novidade, mas para eles vai ser o novo real, vão vivenciar isso na escola, no ambiente de trabalho”, refletiu a futura mãe.

Para enfrentar as futuras mudanças, que devem embaralhar o sentido do que é “real” e do que é “fake”, a responsabilidade com as redes sociais e a valorização do contato humano devem guiar a criação da criança. “Como eu sou de uma geração totalmente diferente, eu presenciei como era bom o contato social mais próximo, mas também como a revolução da internet foi boa. Quero tentar capturar o melhor das duas realidades. Eu não quero que minha criança esteja inserida de forma alienada na internet, quero que tenha pé no chão, interaja entre as pessoas, que ela tenha respeito, cuidado, que ela tenha empatia, isso a gente só consegue ter com contato social presencial”, conclui Pâmela.

Tacobol, queimada e elástico foram as brincadeiras que marcaram a infância de Priscilla Cordeiro, de 40 anos, entre a década de 1980 e 1990, uma época anterior à popularização da internet no Brasil. Hoje mãe de três crianças, sendo a mais nova integrante da geração Beta, ela reconhece que a infância e o desenvolvimento dos filhos foi bastante diferente, muito devido ao avanço da tecnologia e dos estudos na área da saúde, além de novas formas de brincar, agora com a presença do espaço online.

De encontro ao esperado para infância e adolescência da caçula Ava, de apenas 13 dias de vida, em contato constante com o mundo digital, os pais pretendem incentivar a filha com práticas “offline” através de brincadeiras ao ar livre e em contato com a natureza, fazendo do contato virtual uma realidade mais distante.

“Nós sempre falamos sobre planejar uma vida para a Ava com menos internet. Esperamos que ela tenha mais contato com a natureza, com o espaço físico, com as pessoas, com as sensações reais. Isso não quer dizer que a gente vai conseguir cem por cento, mas enquanto a gente conseguir vamos fazer brincadeiras lúdicas mais próximas daquelas que a gente cresceu. Mas a tecnologia está aí e as crianças já nascem ligadas, e nós queremos aproveitar essas transformações digitais para usar a nosso favor para desenvolver a nossa bebê”, contou a mãe.

+INFO:

CARACTERÍSTICAS DAS GERAÇÕES ANTERIORES

Baby Boomer (1946 – 1964)

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os anos seguintes são marcados pela euforia e efervescência de um novo momento com expectativas positivas. Foi um período marcado pela libertação da África e da Ásia através de lutas pela independência. O período do pós-guerra é também marcado pela Guerra Fria, mas por ideologias de libertação da juventude que iam de encontro aos modelos hegemônicos. Foi o período da ascensão do rock and roll, dos movimentos hippie, negro, indígena e do feminismo.

Geração X (1965 – 1980)

As crianças nascidas nesse período presenciam o avanço das tecnologias de informação e comunicação, sendo a principal delas a televisão. Além disso, há a popularização dos meios de comunicação de massa e a consolidação dos movimentos da juventude. Essas pessoas presenciam o início do surgimento da internet e vivenciam a transição do mundo offline para o mundo online, mas ainda com pouca ou quase nenhuma interatividade com essas tecnologias. A geração X também marca a presença mais forte dos movimentos sociais, do ativismo, da liberdade e da criatividade.

Geração Y ou Millennial – (1981 – 1994)

A geração Millennial é aquela que tem os primeiros contatos com a internet e desenvolve maior autonomia em termos de busca por conhecimento, de interagir de maneira online. Isso vai refletir na saúde, relações familiares, no mercado de trabalho, na velocidade e fluidez das relações amorosas, com a ideia dos “ficantes”. Temos também o surgimento do celular, que vai impactar em uma maior autonomia.

educação, concentrada na imagem do professor, já pode ser buscada de maneira autônoma na internet. Há também certa ansiedade devido a mudança das profissões causada pela intensificação da globalização. É uma geração que presencia o início da popularização da internet e a criação dos ambientes virtuais, dos sites e das redes sociais. Eles têm uma relação mediada pela internet.

Geração Z (1995 – 2010)

A geração Z vai estar muito marcada pelos impactos da fluidez e da independência intelectual muito mais naturalizada. A constante produção de imagens fotográficas e audiovisuais causa grande impacto e, consequentemente, uma sensação de estresse.

Geração Alpha (2010-2024)

No início da década de 2010, a geração Alpha vivencia plenamente o espaço online, momento em que a relação com dispositivos online é ainda mais popularizada através dos notebooks e, depois, dos smartphones. Dessa forma, a internet e os dispositivos tecnológicos de acesso a rede são uma extensão do indivíduo.