Cintia Magno
A expressão clássica que chama a atenção para o fato de serem os jovens de hoje que deverão vivenciar com maior intensidade as mudanças do clima não é à toa. Ainda que os efeitos climáticos estejam cada vez mais presentes, caso o mundo não consiga adotar maneiras de conter o aquecimento global, as consequências hão de ser muito mais graves e catastróficas no futuro próximo. Daí a importância fundamental de engajar a juventude nas discussões que envolvem as questões climáticas.
Para o graduando de relações internacionais, consultor do Centro Brasil no Clima (CBC) e membro da equipe do The Climate Reality Project Brasil, organização fundada pelo Nobel da Paz Al-Gore, o jovem Luan Werneck, 20 anos, considera que a principal necessidade de se engajar a juventude nas discussões acerca do clima está justamente no fato de que os jovens de hoje serão os principais afetados pelos efeitos das mudanças climáticas.
Apesar disso, ele lembra que os espaços de negociação formais como a própria Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças do Clima (UNFCCC) ainda são feitas sem a participação efetiva e maciça da juventude.
“São feitas por pessoas que não vão sofrer as principais consequências das mudanças climáticas, sejam porque têm uma idade avançada e, portanto, não vão sofrer as consequências das mudanças climáticas a longo prazo; ou por serem de classes sociais muito mais abastadas e já estarem preparadas para lidar com as mudanças climáticas, considerando aquele conceito de justiça climático que considera que enquanto uns vão sofrer muito, outros vão sofrer um pouco menos”.
Para que esse cenário se transforme, Luan acredita ser fundamental que os jovens estejam presentes nas mesas de negociação, debatendo o próprio futuro, discutindo outras perspectivas e alternativas que fujam do sistema atual e conseguindo pensar o que é possível fazer, enquanto juventude organizada e enquanto organizações de terceiro setor para alcançar esse objetivo.
No que se refere especificamente aos espaços de negociação das COPs, ele considera que este cenário ainda está distante de se concretizar.
“Nos últimos anos a gente teve um avanço muito grande. A UNFCCC é um dos espaços da ONU que mais tem participação dos jovens, mas ainda é muito longe do que seria necessário. Dentro das negociações em si, a gente tem poucos jovens que têm a oportunidade de falar. Os únicos que têm fala são os jovens da Youngo, que é a convenção da juventude para UNFCCC que é feita e organizada por jovens, mas apenas como observadores e membros do debate, não como votantes. Então, durante as COPs esses são um dos poucos espaços de negociações que a gente possui”.
Fora esse espaço, Luan lembra que algumas iniciativas recentes da presidência da COP buscaram incluir mais jovens, como o The Climate Champions Youth, que no ano passado possibilitou a participação de delegados da juventude na COP de Dubai, nos Emirados Árabes.
“Estão tentando institucionalizar essa presença na COP, mas é muito complicado porque é uma institucionalização vinculada à presidência, então, depende muito da presidência. E que transparência vai ter esse processo para incluir os jovens na COP se a iniciativa é vinculada à presidência que é rotativa todo ano?”.
Em contrapartida, o jovem ativista climático destaca que a sociedade civil tem se feito cada vez mais presente nas conferências do clima e com um número cada vez maior de jovens. Um auxílio importante para que se consiga vencer as barreiras ainda existentes para que a juventude se faça presente de forma mais intensa nos espaços de negociação.
“Do Brasil a gente tem o número gigantesco de jovens que vão todo ano, por isso que delegação brasileira é uma das maiores do mundo todo, mas falta engajar esses jovens para estarem presentes nas COPs acompanhando as negociações, vendo o que está acontecendo, fazendo pressão, enchendo salas de negociações como observadores para mostrar que todos os olhos estão voltados para eles”, avalia.
“Eu sinto essa dificuldade não por falta de interesse dos jovens, mas por dificuldade de acessibilidade mesmo. Primeiro já tem todo o problema de conseguir ir para a COP porque é um gasto gigantesco, depois tem todo o problema de conseguir credencial para entrar na COP, aí tem a questão linguística que já corta mais do que pela metade a juventude brasileira de conseguir estar presente no espaço, falando inglês fluente e um linguajar super técnico, que até mesmo quem já tem um inglês muito avançado pode ter certa dificuldade”.