As quase 40 ilhas que compõem a região insular da capital paraense, assim como as praias e rios espalhados pelas diferentes regiões do estado, são um convite para um tipo de turismo que valoriza o interesse do turista pelo contato próximo com a natureza.
Neste ponto, o Estado do Pará guarda um potencial enorme e que já vem sendo aproveitado por iniciativas de pessoas que, não apenas buscam aproveitar as belezas naturais do Pará, como também se preocupam em fazer isso de maneira sustentável.
Tendo como pano de fundo os cenários exuberantes das praias localizadas no município de Barcarena, Daniel Lemes de Oliveira não pôde deixar de perceber o que tantos visitantes perdiam quando iam à cidade e praticamente não saíam dos hotéis se não fosse para cumprir suas agendas de trabalho.
Morador de Barcarena há 15 anos, e um apaixonado declarado pelo município, Daniel viu aí a oportunidade de aproveitar o potencial da região para o ecoturismo, se preocupando em alinhar sua atuação aos princípios da sustentabilidade.
“Isso foi um grande start para a gente iniciar a nossa agência. Hoje, a gente traz o contexto da comunidade, das belas praias que nós temos no município e isso faz com que os trabalhadores que estão na região tenham a possibilidade de conhecer um pouquinho mais a Amazônia”.
Daniel conta que a ideia surgiu quando ele participava de um programa chamado Embarca Amazônia, realizado pelo Centro de Empreendedorismo da Amazônia em parceria com a Hydro, e que tinha o objetivo de fomentar a criação de negócios sustentáveis na Amazônia. Inicialmente, a agência de turismo iniciou com um único roteiro, hoje já são 10.
“Dentro do projeto que a gente participou, o programa Embarca Amazônia, uma das dores que a gente identificou em Barcarena é que a gente não tinha uma agência de turismo para oferecer o melhor que a gente tem. Então, quando a gente visualizou isso: é uma agência de turismo e é uma agência de turismo com base comunitária, com o turismo receptivo que a gente precisa desenvolver e foi isso que aconteceu”.
Além do turismo receptivo, que envolve a participação de comunidades locais; a agência também atua com turismo imersivo, levando os próprios barcarenenses para conhecer outras localidades do município, e ainda como operadora de turismo comercializando pacotes aéreos e de cruzeiros para outros países. Dentro do leque de atuação da agência, as comunidades tradicionais de Barcarena desempenham um papel fundamental.
Turismo Comunitário e a Valorização da História Local
“Hoje, a gente trabalha com duas comunidades, a da Ilha de Trambioca e do Arapari. As duas comunidades abraçam o nosso projeto, fazem com que as pessoas cheguem e sintam-se à vontade, sintam-se em casa. Essa é a nossa maneira de abraçar o turismo comunitário, gerar renda para essas famílias e mostrar o potencial turístico que Barcarena tem”.
Não apenas nos roteiros, mas também no nome da iniciativa, Mortiguras Turismo, Daniel destaca que mantém sempre a preocupação de resgatar e valorizar a história do município. Mortiguras é o nome de uma grande aldeia indígena que ficava localizada às margens da Baía do Marajó, no município de Barcarena, e que na época da colonização foi transformada em uma Missão Jesuítica.
“Em 1658, a chegada dos jesuítas na região de Barcarena, no baixo Tocantins, traz uma experiência para eles de uma tribo gigantesca, uma comunidade gigantesca indígena. Então, paralelo a isso, teve muitas pessoas vindo para essa região. E o nome de Mortiguras estava ficando apagado, esquecido na história. A gente foi lá, recuperou toda essa cultura, essa história do município”, conta Daniel. “Hoje, por onde andamos, levamos um pouco de Barcarena, mostrando e evidenciando que o nosso município tem muitas riquezas históricas e culturais e de uma beleza natural exuberante”.
Ecoturismo Sustentável na Região de Belém
Uma beleza natural exuberante também margeia a região das ilhas de Belém. Não à toa, até mesmo a mais rápida visita à capital do Estado do Pará, hoje, costuma incluir uma esticada até a Ilha do Combu, onde algumas iniciativas buscam oferecer essa conexão próxima com a natureza, mas sem abrir mão dos princípios da sustentabilidade.
“Nada começou para empreendimento, era apenas um espaço para descanso das proprietárias, que são a Graziela e a Ana. E aos poucos alguns amigos começaram a pedir para fazer um aniversário, uma reunião e as coisas foram acontecendo. Hoje, nós somos um espaço de locação e realizamos mais eventos corporativos”, conta a gerente do Espaço Aruna, Kátia Dalmoneck.
Com uma vista privilegiada de Belém a partir do rio, o espaço costuma receber eventos comemorativos e corporativos na Ilha do Combu desde 2017, mas sempre buscando uma convivência de respeito com a natureza e com as comunidades que ali vivem. Erguido com materiais naturais e regionais, o espaço mantém a prática da coleta e separação do lixo para a reciclagem, fossa ecológica e busca eliminar ou reduzir ao máximo a utilização de plástico em seus processos e eventos.
Para a professora da Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), Silvia Helena Ribeiro Cruz, para que o turismo ligado à natureza faça sentido, ele precisa ser sustentável. E lembra, ainda, que qualquer tipo de turismo pode e deve ser sustentável, se adotadas as medidas adequadas.
“Nós entendemos o turismo sustentável como uma prática que pode ser adotada por qualquer outro segmento do turismo. O turismo sustentável é como se fosse um eixo transversal para qualquer tipologia do turismo, para qualquer segmento do turismo. Eu digo isso porque a sustentabilidade é uma prática que qualquer pessoa pode adotar nos seus meios de produção e o turismo é um desses”, esclarece.
“Então, se eu desenvolvo o turismo de sol e praia, por exemplo, eu posso adotar práticas sustentáveis dentro dele. Eu crio alguns procedimentos, por exemplo, de usar o meio de transporte para transportar os meus turistas, que não tenha queima de combustível fóssil; eu posso não usar plásticos dentro dos produtos que eu vou consumir; eu posso ter uma prática de usar insumos alimentícios que estejam dentro de uma alimentação orgânica. Então, o turismo sustentável é, na verdade, um processo transversal para qualquer prática de turismo”.
Tendo isso como balizador da atividade, o que não falta no Estado é potencial para o desenvolvimento de um turismo que valorize os recursos naturais. “Nós temos, no estado do Pará, cinco ou seis regiões turísticas. Então, cada região do estado tem as suas especificidades, as suas características. Por exemplo, o Marajó é uma dessas regiões turísticas que apresenta grandes potencialidades, tem recursos. Já se desenvolve o turismo, principalmente na região dos campos, dentro dessa perspectiva do ecoturismo”, pontua.
“Então, em várias regiões do Estado do Pará, a gente diz que existem as potencialidades para isso. Tem a potencialidade do Marajó; da própria Região Metropolitana de Belém com as nossas ilhas; a região do Nordeste Paraense, que não é só praia, é riquíssima em praias, em manguezais, em florestas; nós temos a região do Sul e Sudeste do Pará; o próprio Oeste do Pará com a própria região de Santarém. Então, nós temos, sim, recursos”.