No conceito geral, os perfumes servem para garantir uma fragrância duradoura no corpo. Porém, na feira do Ver-o-Peso, os perfumes, além dos cheiros bem característicos, possuem também outras funções além de deixar o corpo com um cheiro agradável ao olfato. “Passa no concurso”, “Afasta olho gordo” e “Chama marido rico” são alguns dos nomes curiosos das famosas fragrâncias místicas que chamam a atenção dos visitantes no local.
A criatividade dos permissionários com os nomes dos perfumes serve para garantir as boas vendas no principal cartão-postal de Belém. Há também as fragrâncias que despertam risadas nos clientes, geralmente essências atrativas para o amor com nomes impublicáveis, cabendo ao leitor sanar a curiosidade indo nos diferentes boxes das erveiras e conferir as opções disponíveis.
Os variados vidrinhos das essências cheirosas e coloridas custam, em média, o valor de dez reais. Os perfumes são feitos artesanalmente a partir de conhecimentos passados pela família e entre as erveiras, agregando aprendizados de diferentes culturas, como a indígena e ribeirinha. São produzidos a partir de variadas matérias-primas, o que inclui ervas e raízes típicas da Amazônia.
A erveira Elizangela Costa, 51 anos, vem de uma família que trabalha há décadas com a venda dos famosos perfumes e ervas. No ramo há vinte anos no Ver-o-Peso, Costa explica que os perfumes marcantes e coloridos fazem muito sucesso com os visitantes locais e de fora do Pará. Na barraca onde trabalha diariamente, as opções são as mais diversas para prosperidade, amor e carreira profissional, como “Vence tudo”, “Afasta homem feio” e “Passa no concurso”.
“Cada perfume tem um toque especial e é feito com uma erva diferente”, destaca Costa. As principais procuras na venda da permissionária correspondem a essências relacionadas a emprego e sucesso. Além das compras individuais para uso próprio, os clientes também adquirem os vidrinhos para oferecer como presentes em diversas ocasiões. “Muitas gente compra para dar de brinde em festas, como em casamentos”, comentou.
Uma das veteranas na comercialização das essências é Edna Dias, 64, que atua com a venda dos itens há quatro décadas no Ver-o-Peso. A variedade das essências na venda da dona Edna chama a atenção com nomes curiosos, entre eles “Velho da lancha”, “Passa na OAB”, “Afasta caloteiro”, “Amansa chefe” e “Desencalha mulher”. De acordo com a erveira, os perfumes com nomes divertidos e cômicos possuem maior saída com a clientela.
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Dependendo da ocasião, há essências que fazem ainda mais sucesso entre os consumidores, como o perfume “Chama gringo”, voltado principalmente para quem busca um amor internacional. E o marketing no Ver-o-Peso já está intenso para esta essência. “O perfume pra chamar gringo vai bombar durante a COP 30”, diz animada a erveira sobre a expectativa de vendas para novembro. Ainda segundo ela, muitos clientes vêm do Maranhão para comprar e revender as essências no estado nordestino.
Desde 1986 atuando com a venda dos itens, José Alexandre Trindade, 63, afirma que faz até promoção para não perder a clientela. “O preço individual do vidrinho com o perfume custa 10 reais, mas faço três por 20 reais. Não podemos perder a oportunidade nas vendas”, explica o erveiro. Entre as opções disponíveis na barraca do José estão “Afasta olho gordo”, “Quebra barreira” e “Só Deus pode comigo”.
Conforme explica Trindade, a maior procura pelos famosos perfumes é com relação à prosperidade, seguido pela saúde. “Os clientes pedem muito, por exemplo o ‘Talismã do emprego’ e ‘Atrativo da fortuna’ para usar diariamente”. Uma das curiosidades que José conta é que quando vai cliente masculino, eles gostam de levar para os amigos as essências “Amansa corno”, “Levanta o que tá morto”, “Afasta chifre” e “Desencalha meu amigo”. Ainda conforme o feirante, “as mulheres não gostam quando o homem compra o perfume ‘Afasta mulher que pede Pix’. Elas ficam bravas”, brinca.
Para o historiador Leonardo Torii, a feira do Ver-o-Peso sempre foi marcada pela diversidade cultural amazônica, resultando na grande riqueza de atividades no local. Conforme ressalta Torii, desde o período colonial a venda de ervas e plantas medicinais existe no Ver-0-Peso. Ou seja, é de longa data a atividade das erveiras no principal cartão-postal da capital paraense.
“Junto deste comércio, havia todo conhecimento e saberes indígenas, negros e portugueses”, ressalta Torii sobre as diferentes influências ao longo dos séculos nas atividades de comércio do Ver-o-Peso, refletindo, inclusive, no trabalho das permissionárias com a venda dos perfumes e ervas ao longo das gerações no local.
