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Trump vira réu pela 4ª vez; acusação inclui 18 aliados do ex-presidente

Donald Trump, candidato republicano à Presidência dos EUA, disse, nesta sexta-feira (12), que a atual vice-presidente Kamala Harris seria uma oponente mais fraca do que Joe Biden.
Donald Trump se tornou o primeiro ex-presidente considerado culpado pela Justiça em uma ação criminal na história dos Estados Unidos FOTO: divulgação

FERNANDA PERRIN

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Apenas duas semanas após ser denunciado por tentar reverter sua derrota nas eleições de 2020, o ex-presidente americano Donald Trump tornou-se réu mais uma vez nesta segunda (14). É o quarto processo criminal ao qual o republicano responde.

Além de Trump, mais 18 aliados foram acusados mesmo processo, resultado de uma investigação iniciada em fevereiro de 2021. Entre eles, o advogado e ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani e o ex-chefe de gabinete Mark Meadows.

Entre os crimes supostamente cometidos, o primeiro listado pela procuradoria é violação de uma legislação estadual usada contra o crime organizado, conhecida como Rico.
A nova acusação, divulgada tarde da noite, diz respeito às supostas tentativas de Trump e aliados de interferir no resultado eleitoral da Geórgia, onde o republicano foi derrotado pelo democrata Joe Biden por uma diferença de 0,02 ponto percentual.

“Veja, tudo o que quero fazer é isso: só quero encontrar 11.780 votos, um a mais do que nós temos [de diferença]. Porque nós ganhamos o estado [da Geórgia]”, afirmou o republicano em uma hoje famosa ligação à principal autoridade eleitoral local, o secretário estadual Brad Raffensperger. Uma gravação da conversa veio à público em janeiro de 2021.
“Bem, sr. presidente, o desafio que o senhor tem é que os dados que o senhor tem estão errados”, disse o secretário.

O número pedido por Trump é exatamente o necessário para que ele ultrapassasse Biden no estado-pêndulo, como são chamados aqueles que oscilam entre democratas e republicanos.

O ex-presidente e aliados também afirmaram diversas vezes, sem provas, que houve fraude eleitoral no estado. Em um tuíte publicado em seu perfil oficial em 1º de dezembro de 2020, Trump pediu que o governador da Geórgia, o também republicano Brian Kemp, “fizesse algo” e cancelasse a eleição. “Você permitiu que o seu estado fosse enganado”, escreveu.

São listadas 13 acusações contra Trump, entre elas violar a Rico, solicitar a um oficial público que violasse seu juramento, conspirar para se passar por um oficial público, conspirar para cometer falsificação de primeiro grau e conspirar para apresentar documentos falsos.

Considerando todos os 19 réus do processo, são 41 acusações no total.
“O réu Donald John Trump perdeu a eleição presidencial dos Estados Unidos ocorrida em 3 de novembro de 2020. Um dos estados no qual ele perdeu foi a Geórgia. Trump e os outros réus denunciados nesta acusação se negaram a aceitar que Trump perdeu, e conscientemente e voluntariamente se engajaram em uma conspiração para mudar ilegalmente o resultado da eleição em favor de Trump”, afirma a procuradoria na introdução do documento de 98 páginas.

O teor tem semelhanças com a acusação divulgada no início de agosto, que também afirma que o republicano buscou interferir na eleição. No entanto, a denúncia anterior tem escopo nacional e corre na Justiça Federal. Já a apresentada nesta terça diz respeito apenas à Geórgia, e corre na Justiça estadual.

A diferença mais importante em termos práticos é que, caso seja condenado, Trump não pode se conceder um perdão presidencial se voltar à Casa Branca -esse instrumento não vale para sentenças estaduais.

A denúncia da procuradora Fani T. Willis, do condado de Fulton -onde fica a capital da Geórgia, Atlanta-, também envolve mais pessoas do que a apresentada pelo conselheiro especial do Departamento de Justiça Jack Smith.

Como não há instrumento similar à Lei da Ficha Limpa nos EUA, as ações não afetam o pleito de Trump de concorrer outra vez à Presidência.

O republicano tornou-se réu pela primeira vez em abril, em um caso que corre na Justiça de Nova York que investiga a compra do silêncio de uma atriz pornô na campanha de 2016. Em junho, houve a segunda acusação, esta pela Justiça federal, por ter supostamente guardado consigo documentos secretos após deixar a Casa Branca.

A terceira acusação, também da Justiça federal, é considerada a mais grave até agora, porque envolve supostos crimes cometidos por Trump quando ele ainda era presidente. Tão importante quanto isso, as violações creditadas a ele nesse caso versam sobre o desrespeito a princípios básicos da democracia: o direito ao voto e o cumprimento do resultado das urnas por parte de todos os candidatos envolvidos.

Ele afirma ser inocente em todas as ações e diz estar sendo perseguido politicamente. Em uma postagem em seu perfil da rede Truth Social durante a tarde de segunda, Trump disse que “gostaria que alguém dissesse, por favor, ao grande júri do Condado de Fulton que eu não interferi nas eleições”.

No mesmo texto, ele acusa Willis de “falsa”, e diz ela “permitiu de modo chocante que Atlanta se tornasse uma das cidades mais perigosas em qualquer lugar do mundo”. “Ela só quer ‘pegar o Trump'”, completou.

Em uma nota divulgada pela campanha à noite, o republicano chama Willis de “democrata radical” e “partidária fanática”. “Willis estrategicamente atrasou sua investigação para tentar interferir ao máximo na corrida presidencial de 2024 e prejudicar a campanha dominante de Trump. Todas essas tentativas corruptas dos Democratas falharão”, diz o texto.

Durante entrevista a jornalistas concedida após a divulgação das acusações, a procuradora afirmou que “a lei não tem partido”. Segundo ela, os acusados têm até dia 25 de agosto para se apresentar à Justiça.