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Trabalhadores com mais de 50 anos ainda são minoria

Trabalhadores com mais de 50 anos ainda são minoria

Cintia Magno

A última edição do Censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, em 2022, o grupo de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil já representava 15,6% do total da população, um aumento de 56,0% em relação a 2010, quando o índice não passava de 10,8%. Os números revelam que a população brasileira está ficando cada vez mais madura, o que reflete não apenas em pessoas com mais idade vivendo nas cidades e acessando os serviços, mas também na maior presença no mercado.

Ainda que a realidade já esteja posta, o que se observa é que o mercado de trabalho ainda não está preparado para aproveitar a experiência que profissionais mais maduros podem oferecer. Uma pesquisa realizada pela plataforma especializada em recrutamento de empregos Catho, aponta que o etarismo, como é chamada a discriminação baseada na idade, é um fenômeno que ainda afeta indivíduos a partir de determinada faixa etária no mercado de trabalho e que se intensifica conforme mais avançada a idade, tal como se observa em outros contextos.

Realizada em 2024 com a participação de mais de 1.400 trabalhadores e 300 recrutadores/empresas, a pesquisa revelou que 40% dos gestores entrevistados demonstraram resistência em contratar ou desenvolver profissionais com 50 anos ou mais e que 70% dos trabalhadores entrevistados nesta faixa etária estavam desempregados.

A diretora da unidade de recrutadores da Catho, Christiana Mello, considera que quando se fala em profissionais 50+ no mercado de trabalho, o que se observa é um cenário que ainda pode melhorar significativamente. “Pessoas acima dos 50 anos representam 26% da população brasileira e apenas 3% a 5% fazem parte do quadro de colaboradores de uma empresa, conforme dados da consultoria Maturi”, aponta. “A pesquisa da Catho vem, justamente, para evidenciar esses fatores e criar uma rede de conscientização para mostrar que os colaboradores mais experientes podem contribuir dentro das companhias e devem ter mais oportunidades.

“Com a pesquisa da Catho, também identificamos que, por parte das empresas e recrutadores, um dos desafios ao contratar esses profissionais é a suposta dificuldade que eles teriam de se adaptar a novas tecnologias e eventual resistência às mudanças. Os pontos, no entanto, podem ser trabalhados com programas de capacitação e desenvolvimento para evoluir essas características, visto que 20% dos profissionais maduros investem em cursos e 17% em networking”, destaca Christiana. “Vale ressaltar que, de acordo com a pesquisa da Catho, 48% acreditam em um contexto de evolução para estes profissionais e 20% acham que há um avanço positivo na interação entre colaboradores.

Quando a idade mais avançada acaba sendo um empecilho para a contratação de um profissional, não só o trabalhador pode sair perdendo, mas também a empresa. “Os profissionais 50+ carregam uma bagagem relevante e que agrega valor para as empresas. Como também observamos na pesquisa, as empresas reconhecem a experiência, ética, flexibilidade e resiliência como as melhores qualidades destes profissionais. A diversidade entre as gerações na equipe também pode ocasionar em grandes resultados, o segredo é promover uma cultura de diálogos francos e respeitosos, além de potencializar os aspectos positivos. A diversidade, as trocas de experiências e de visões de mundo, quando reunidas, proporcionam um ambiente de trabalho criativo e rico que impulsiona a empresa”.

Como forma de mudar a realidade que ainda se faz presente no mercado de todo o Brasil e, naturalmente, também do Estado do Pará, a diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-PA), Anna Padinha, destaca que algumas empresas já vêm adotando estratégias para tornar o seu quadro funcional mais diverso. “Infelizmente, ainda existe uma resistência significativa de gestores em contratar ou desenvolver profissionais com 50+, e essa resistência é motivada por questões culturais, econômicos e tecnológicas”, considera. “Mas algumas empresas já vêm associando o processo inclusivo para absorver especificamente esta mão de obra, no entanto trabalhos braçais e pessoas que estão muito tempo fora do mercado são as mais prejudicadas e recorrem a trabalhos informais ou buscam profissões alternativas não condizentes com a sua bagagem profissional”.

Para se preparar para o cenário em que profissionais mais maduros ocupem uma parcela cada vez maior da força de trabalho, a especialista considera que as empresas precisam adotar processos que envolvam a todos. “O ideal para esta ação é a implantação de um programa de diversidade e inclusão, inserindo a diversidade etária como um critério de contratação, tendo como ações o acompanhamento do progresso pelo RH, Lideranças e Diretorias para a inclusão de profissionais mais velhos, além de gerar programas para garantir a retenção destes talentos”, aponta.

EM NÚMEROS

70%

dos trabalhadores entrevistados com 50 anos ou mais estão desempregados no momento.

69%

dos entrevistados 50+ acreditam ter perdido oportunidades de emprego devido à idade, mesmo se candidatando às vagas abertas e participando de processos seletivos.

55%

já sentiu que suas capacidades e habilidades foram subestimadas no ambiente corporativo ou em entrevistas de emprego.

36%

dos profissionais 50+ afirmaram já ter sofrido algum tipo de descriminação no trabalho por conta da idade.

24%

acreditam não receber uma remuneração adequada ao cargo que exerce, por preconceito devido à idade.

61%

das empresas entrevistadas não possuem algum programa de inclusão, reconhecimento ou capacitação para profissionais maduros.

Fonte: Pesquisa Catho sobre Etarismo. A pesquisa foi realizada em 2024 e entrevistou mais de 1.400 trabalhadores e 300 recrutadores/empresas no Brasil.