Há 9 anos, quando “John Wick – De Volta ao Jogo” foi lançado, quase passou despercebido pelos cinemas no mundo. A carreira de Keanu Reeves estava em baixa e apenas o nome de Willem Dafoe atraía atenção no elenco. Além disso, parecia mais uma história de vingança de um assassino aposentado, um tipo de trama extremamente manjado desde os primórdios do cinema.
Também era o primeiro filme de Chad Stahelski como diretor, mesmo sendo um coordenador de dublês veterano. Mas, aí, vieram as primeiras críticas elogiosas, o interesse público, potencializado com o lançamento no streaming e…ganhamos um novo cult de ação. Mas não sem razão. Era um filme simples, mas bem filmado e fotografado, e que prendia a atenção pela violência, cenas de ação perfeitamente coreografadas e alguns plots bem absurdos.
Mal sabiam todos os envolvidos que o quarto filme não apenas se tornaria a maior bilheteria do gênero este ano, como surpreenderia a todos pela qualidade absurda da produção. Sendo direto: “John Wick 4 – Baba Yaga” é um grande filme do início ao fim e se você estiver disposto a se despir de todos os preconceitos com o cinema de ação, vai se deliciar com a produção impecável e uma ousadia técnica pouco vista no cinema atual.
Stahelski entende do riscado. Ele se mostra capaz não apenas de coreografar os atores e figurantes bem, mas também de posicionar a câmera e seus movimentos para favorecer os elementos de cena. É muito bom assistir a um filme onde nós conseguimos entender o que acontece e onde tudo vai parar. Méritos também do diretor de fotografia Dan Laustsen, que esteve em todos os filmes da franquia. Há duas cenas que demonstram o domínio técnico da equipe. Na casa abandonada, onde a câmera se move em um único plano sequência, enquadrando os personagens de cima, como um videogame. E a sequência de luta final, na escadaria da igreja de Paris. Palmas ainda para o design de produção, edição de som e os dublês, que conseguiram usar os cenários e elementos de cena para criar cenas de lutas empolgantes.
O diretor também distribui muitas referências de outros gêneros cinematográficos, como os westerns spaghettis, os wuxia (filmes orientais de artes marciais com elementos de fantasia) e os clássicos do cinema como “Warrior – Selvagens da Noite”, “Bullit” e “Lawrence da Arábia”. E o que dizer do elenco? Carismático (como Ian McShane e Shamier Anderson se divertindo à beça com seus personagens) ou especializado em porradaria (Donnie Yen e Hiroyuki Sanada, distribuindo pancada e carisma), além de um vilão factível (Bill Skarsgård, à vontade, mesmo com alguns cacoetes típicos de inimigo do cinema de ação dos anos 1980).
E, bem, Keanu Reeves é um caso à parte. Não é bem um ator de interpretações, mas tem muita sorte por estar em franquias que crescem exponencialmente, além de ser focado no que está fazendo.
“John Wick 4” é um filme com personalidade, divertido, bem executado e um dos melhores do ano até agora. E, claro, indispensável assistir no cinema, com tela grande e som de qualidade.