Puxando rapidamente da memória, qual filme você considera mais marcante: “Cisne Negro” ou “O Discurso do Rei”? “O Segredo de Brokeback Mountain” ou “Crash – No Limite”?. Se suas respostas foram os primeiros indicados, saiba que eles perderam o prêmio do Oscar de melhor filme para o segundo da pergunta em seus respectivos anos.
Esses são apenas dois exemplos de como funcionam as premiações da indústria americana. E até a estatueta dourada está careca de saber que todo o esquema de votação envolve muita politicagem, lobbies e dinheiro para marketing e divulgação.
Quem não lembra da nossa Fernanda Montenegro injustiçada em 1999, perdendo o Oscar de Melhor Atriz para Gwyneth Paltrow por um filme que ninguém lembra mais, chamado “Shakespeare Apaixonado”?
Naquela época, a Miramax, dos enrolados irmãos Bob e Harvey Weinstein, dava as cartas no evento, após campanhas regadas a muitos brindes e festas. Com o passar dos anos, a Academia, responsável pela premiação, mudou diversos critérios para tornar a votação mais transparente e ampla, mas o poder da grana ainda move os estúdios.
É só ver a influência que a Netflix tem hoje, emplacando muitas indicações (algumas bem duvidosas, diga-se).
Mas por que esse preâmbulo todo sobre o Oscar? Para falar sobre a discussão das possíveis indicações do brasileiro “Ainda Estou Aqui” na premiação, principalmente de Fernanda Torres como atriz.
E para dizer que, independente de ter indicações ou não, isso não diminui em nada o valor da obra e nem deve ser motivo de frustração para quem gostou do filme. Como dito, deixar de estar em uma lista como essa não rebaixa a qualidade de uma obra, já que o cinema é muito mais complexo, rico e multifacetado do que a indústria de um país pode fazer parecer.
Fernanda foi indicada ao Globo de Ouro, mas terá pedreiras como adversárias, no nível de Cate Blanchett, Tilda Swinton, Angelina Jolie e Nicole Kidman. No meio de tanta atriz queridinha da indústria, estar aqui já é motivo de celebração.
Os memes da internet são divertidos, sendo uma característica dos brasileiros pós-redes sociais em botar toda energia em algo, mas sempre com o risco de colher frustração mais na frente. Fernanda continua maravilhosa, o filme continua sendo comovente e um retrato histórico importante da nossa sociedade.
Por fim, uma pequena moral da história: não deixe que seus gostos por filmes sejam influenciados só por premiações e burburinhos. Acrescente suas próprias percepções e vivências na equação. E bons filmes!