A confraternização pela vitória diante do Império, na floresta de Endor, marcou o fim de uma era sombria. A Aliança Rebelde tomava as rédeas do jogo político da galáxia e Luke Skywalker poderia reerguer a Ordem dos cavaleiros Jedi, garantindo sua posição como mantenedores da paz. Um clássico final feliz com o triunfo do bem sobre o mal. Dessa forma, a saga de Star Wars chegou ao fim em 1983, em “O Retorno de Jedi”. Mas, a partir daquele momento, livros, quadrinhos, séries, videogames e, claro, novos filmes, expandiram o rico universo criado por George Lucas com histórias nas mais diversas linhas do tempo. Por vezes, elas causaram decepção, mas em outras foram tão surpreendentes e fantásticas quanto a original.
Nesse sentido, um dos aspectos mais interessantes que Star Wars carrega é a sua capacidade de mudar de tom quando necessário: uma obra pode ser uma aventura escapista, de caráter infanto-juvenil e maniqueísta, enquanto outra tece uma trama complexa, repleta de zonas cinzentas e personagens de moral duvidosa. Ao menos, a Disney, desde que comprou a Lucasfilm, entendeu essa pluralidade e a tem tentado implantar no universo expandido da saga, especialmente nas séries, muito mais bem-sucedidas do que os filmes – à exceção de “Rogue One” e “Os últimos Jedi”, os demais são extremamente problemáticos e digo o porquê: cometeram o pecado de ter um universo inteiro de possibilidades e o medo (dos fãs xiitas?) os impediu de cair de cabeça nele. Yoda já dizia… “O medo é o caminho para o lado sombrio”.
Sendo assim, as séries chegaram com o pé na porta. A maioria delas com identidade própria e explorando a galáxia como se deve. Agora, estreou “Ahsoka” (Que carisma exuberante tem Rosario Dawson!), cujos dois primeiros episódios foram liberados pelo Disney+ e, pelo menos por enquanto, tem se mostrado divertida, com aquele toque de fantasia clássica e unindo dois períodos, já que possui ecos do que aconteceu na série animada “Rebels” (entre “A Vingança dos Sith” e “Uma nova esperança”) e situa-se após a destruição do Império, com a Nova República tentando se estabelecer politicamente e identificar inimigos para impedir o ressurgimento da ameaça imperial.
Fica claro que a Disney tenta pavimentar o caminho para ligar o universo das séries com os acontecimentos da trilogia sequencial e a ascensão da Primeira Ordem. Já vimos relances disso em “O Mandaloriano”, que dialoga bastante com “Ahsoka”, tendo a nova protagonista até feito participação especial nas aventuras de Grogu (já me derreto todo só de pensar naquele Yodinha) e seu pai pelo espaço. É uma tentativa válida, exatamente porque a trajetória no cinema foi irregular ao extremo. E pode dar certo. O Episódio I, “Ameaça fantasma”, por exemplo, é um filme bem mediano, mas cresceu aos meus olhos quando li “Darth Plagueis”, sobre Palpatine e seu mestre, cujo plot desemboca justamente nas ações do filme.
A própria relevância da personagem principal é uma prova que não devemos nos limitar aos filmes quando se trata de Star Wars. Afinal, ela nunca esteve presente na telona – a não ser sua voz, rapidamente, em “Ascensão Skywalker” – e, mesmo assim, tornou-se uma favorita das fãs. Sua relação com o seu mestre, ninguém menos do que o futuro Darth Vader, durante as guerras clônicas, foi bastante minuciosa e a sua personalidade sobressaiu. Ganhou um livro só seu e foi introduzida aos poucos no live-action.
Claro, um filme deve existir por si só e não depender de outras obras/mídias para ser entendido ou considerado bom. Mas essa é a beleza de se ter um universo expandido em Star Wars. Quem se dispuser a fazer essa jornada, poderá ter boas surpresas, com personagens e tramas novas. Como o grão-almirante Thrawn, que já deu as caras em livros e em “Rebels” e agora será o vilão de “Ahsoka” – a busca pelo seu paradeiro é o que move a série. Para quem nunca ouviu falar, ele é um humanoide de pele azul, descrito como um gênio militar, tão bem construído nesse universo que chega ao ponto de temermos a sua chegada ao local das batalhas – mesmo ele não tendo treinamento nas artes Sith – da mesma forma que receávamos a presença dos antigos líderes, como Vader e o Imperador.
Fico na expectativa de ver o que vai representar e entrada de Thrawn em “Ahsoka”, além da real natureza de Baylan Skoll (mercenário? Jedi caído?), pois o tom dos episódios iniciais deve perder um pouco o colorido e ganhar ares sombrios. Mas não há problema. Por enquanto, as lutas com os sabres de luz bastam, assim como a relação de Ahsoka com sua aprendiz, Sabine Wren, e os conflitos que surgem daí. Sem muito subtexto, tudo bastante óbvio e mastigado. Esses são os mocinhos, esses estão do outro lado. Resgatamos aqui alguns robôs legais, temos até um gatinho intergaláctico fofo. É como se a série dissesse: “Divirta-se… enquanto pode. Daqui a pouco tudo pode mudar” – seja aqui mesmo ou em outra produção. Lembre-se, em Star Wars, tudo é realmente possível. É uma obra que transcendeu o seu criador e os adendos à mitologia, normalmente, são muito bem-vindos.
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