Para o bem ou para o mal, Darren Aronofsky sempre foi um diretor que se permitiu ousadias e técnicas que acabaram criando uma marca pessoal nos seus filmes. Seja no tom mais pessimista, carregado de referências bíblicas ou literárias, ou levando a interpretação dos atores ao limite. Nem sempre acerta, mas não podemos dizer que sua carreira não seja importante para o cinema e peculiar, além de premiada.
É curioso que seu projeto mais recente seja o mais “normal” de todos: Ladrões (2025), que passou a jato pelos cinemas e só consegui assistir agora. Talvez Aronofsky queira redefinir sua carreira. Ou então queria apenas testar se saber fazer algo mais banal, vai saber. A questão é que ele acabou dirigindo um bom filme, que emula narrativas geralmente atribuídas aos Irmãos Coen. É uma comédia de erros, com grandes pitadas de drama e doses cavalares de violência.
Mesmo com a quantidade de sangue e personagens dúbios, há um sentimento agridoce que permeia o trabalho, principalmente pela resiliência dos personagens, reforçada por um elenco primoroso. Austin Butler defende seu personagem, Hank, com segurança. Trata-se de um jogador fracassado de baseball que se vê no meio de uma teia de acontecimentos com envolvimento da máfia após o vizinho pedir para ele cuidar do gato. Matt Smith e Zoe Kravitz esbanjam vitalidade em personagens secundários que cercam o protagonista. Enquanto isso, a parte da vilania, com Regina King à frente, parece estar se divertindo à beça.
Há fragmentos da assinatura do diretor aqui e ali, como a montagem fragmentada em alguns momentos e a falta de perspectiva dos personagens no geral, mas investir em uma comédia criminal é um passo significativo. Não vai mudar o cinema ou virar cult, mas é um trabalho divertido de assistir num sábado à noite. O que pode ser também um alívio pessoal para um diretor acostumado a temas profundos e pesadamente reais, mas que decidiu fazer um trabalho só por lazer mesmo.
Drew Struzan
O cinema teve uma perda gigantesca essa semana. O lendário ilustrador Drew Struzan faleceu aos 78 anos, após anos lutando contra o Alzheimer. Struzan criou pôsteres cultuados de filmes famosos como Star Wars, Indiana Jones, Blade Runner e Os Goonies. Ele criou um estilo único, com desenhos imitando o rosto dos atores e cenas, com muito colorido, influenciando uma geração de artistas. Em um momento onde os cartazes dos filmes são em sua maioria sofríveis e sem criatividade, cabe lembrar desse artista importantíssimo para a indústria cinematográfica.