Não basta ser gore. É preciso ser criativo, encontrar certa sofisticação na violência extrema. Ser visceral, mas sem fazer com que o espectador desvie o olhar. Ao contrário, o objetivo é deixá-lo hipnotizado pelo vermelho sangue que explode na tela. Nesse aspecto, “Skull: a máscara de Anhangá” (2020), de Armando Fonseca e Kapel Durma, cumpre com louvor a tarefa de ser uma das mais recentes fábulas do horror no cinema brasileiro.
Na história, após décadas desaparecido, um artefato místico conhecido como “A Máscara de Anhangá” ressurge na Amazônia e é levado para São Paulo. A máscara tem o poder de encarnar uma entidade milenar e o seu portador deixa um rastro de sangue e brutalidade por onde passa.
Personagens como o herdeiro responsável pela guarda do artefato, um empresário inescrupuloso e uma policial que investiga a onda de assassinatos passeiam pela trama em histórias que se convergem no fim. Porém, nem sempre em situações verossímeis, o que leva à constatação de que se deter ao roteiro em si não é crucial. Há espaços em branco na narrativa, pontas soltas aqui e ali.
A força do longa-metragem, portanto, é o seu exercício estilístico. Quando Anhangá “acorda” a partir de rituais macabros e assume o controle, partindo para sua jornada, o que vemos são momentos de carnificina completamente aleatórios. Daí advém o horror. Do fato de estarmos lidando com um inimigo implacável, sobrenatural e mundano ao mesmo tempo. Essa dualidade nos brinda com cenas oníricas, como as do “inferno” que habita essa entidade, praticamente tiradas de um manual do horror italiano, e as de matança desenfreada, dignas dos melhores slashers.
Pessoalmente, eu gostaria de ver mais da mitologia e menos da investigação criminal. Até por causa de toda essa questão de abraçar o absurdo. Se esquecer a coerência é uma opção, ao tentar um equilíbrio entre as duas vertentes, isso acaba comprometendo um pouco a imersão nesse universo fantasioso. A experiência do filme, contudo, não é afetada, no balanço final. A presença do mal em sua manifestação física é válida e encontra eco no que já foi feito de melhor em termos de cinema de gênero, mesmo que a sua execução aqui não seja perfeita.
Fiquemos então com o culto ao grotesco, sempre subversivo na sua concepção, especialmente aos olhos do público, que enxerga além da superfície e admite a estética e a mitologia de uma obra como pilares fundamentais para o atesto da sua qualidade. “O cinema do medo pode exorcizar a realidade bruta dos dias de hoje, e transformar até os piores pesadelos em uma fértil fantasia”. Lucio Fulci aplaudiria.
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