Com a chegada do Setembro Amarelo, campanha nacional de prevenção ao suicídio, cresce a necessidade de ampliar o debate sobre saúde mental, escuta ativa e os sinais de alerta que muitas vezes passam despercebidos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o suicídio é uma das principais causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
No Brasil, ocorrem cerca de 14 mil casos por ano, a maioria poderia ser evitada com suporte emocional e acesso a tratamento adequado. Os dados chamam a atenção para a realidade brasileira e a importância em promover a saúde mental e as discussões relacionadas ao assunto. A psicóloga clínica Hagniz Conde ressalta que o mês de setembro foi escolhido como Setembro Amarelo aqui no Brasil porque o dia 10 deste mês é o Dia Mundial de Prevenção ao suicídio.
“Com o conhecimento técnico e o acolhimento humanizado, é possível levar informação para pessoas que precisam sair dessa situação. Hoje em dia, além das informações que estão cada vez mais se propagando pela internet, e as pessoas cada vez mais se informando, ainda é muito presente o estigma em relação à saúde mental. Isso é algo que nós profissionais da saúde e educação lutamos para que seja quebrado.”
A psicóloga clínica alerta sobre o tabu e preconceito em relação à procura por ajuda psicológica, e que o cérebro é um órgão como qualquer outro no nosso organismo, podendo adoecer e precisar de acompanhamento qualificado para que a pessoa possa sair do quadro depressivo.
“O que acontece é que por conta do Brasil ser um país bastante religioso, muitas pessoas acreditam que somente a fé é o suficiente para que a cura da depressão seja realizada. Quando a gente fala em psicologia, não falamos em cura, mas sim em tratamento e remissão de sintomas. Quando a gente fala sobre fé, não excluímos ela. A fé pode entrar como um complemento, como fonte de rede de apoio, porém um não anula o outro. Se a pessoa tem uma religião, ela ainda precisa sim de ajuda psicológica.”
Conde explica que familiares e amigos podem ser fundamentais a quem precisa de apoio para a saúde mental. “A partir do momento em que a pessoa se informa e realmente compreende que depressão e ideação suicida são fenômenos complexos e da ciência psicológica, o primeiro passo para incentivar a pessoa que está passando por sofrimento intenso é procurar ajuda especializada, como psicólogos e psiquiatras.”
Empresas e escolas podem contribuir de forma assertiva e pontual em relação ao cuidado com a saúde mental. “Agora por lei, empresas têm a obrigação de contratar psicólogos para darem diagnóstico psicossocial em suas empresas. O que isso sugere? Que o psicólogo vai investigar se a situação dos trabalhadores está insalubre, se tem gente com depressão, com ansiedade, e ele vai fazer um papel para conseguir orientar e manejar o que anda ocorrendo nas empresas.”
Conforme Hagniz Conde, o ideal é que em todas as escolas existisse um psicólogo presente no ambiente de ensino. “Dentro da realidade em que vivemos, hoje isso não é tão comum assim”, salienta sobre o contexto escolar brasileiro. “Mas quando há um psicólogo lá atento a contribuir de forma assertiva e pontual, levando informação, acolhimento e orientação para os alunos, o psicólogo vai fazer a intermediação entre escola até um acompanhamento psicológico.”
Caso você se identifique com os principais sintomas da depressão, que são humor mais para baixo, dificuldade em dormir, perda no interesse em atividades que antigamente eram prazerosas, pensamentos/ideias que possam machucar você, é hora de buscar ajuda. “Procure profissionais qualificados, como psicólogos e psiquiatras para lidar com isso. Compartilhe o que pensa e sente com um amigo ou familiar próximo. Contar com a rede de apoio é essencial.”