À margem dos grandes estúdios, Roger Corman colocou a sua assinatura, seja como roteirista, diretor ou produtor, em mais de 400 filmes de baixo orçamento e extremamente rentáveis. Além disso, abriu as portas para diversos atores hoje consagrados e influenciou grandes cineastas. A sua trajetória, contada de forma brilhante no documentário “O mundo de Corman – Proezas de um rebelde de Hollywood”, empolga e emociona todos aqueles que curtem um bom ‘filme B’ e o cinema feito na garra e na vontade. Ousar e arriscar eram suas principais características e que foram deixadas como um legado para as novas gerações, segundo o próprio, que completa 97 anos nesta quarta-feira (5).
A indústria norte-americana tentou pagar sua dívida em 2009, ao lhe oferecer um Oscar pela sua contribuição ao cinema. Mais do que merecido. Essa, aliás, é uma das cenas mais curiosas e irônicas do documentário. Na cerimônia de entrega da premiação, estavam na plateia vários cineastas já contemplados com a estatueta e que foram pupilos de Corman – ou admitem a influência que ele exerceu em suas carreiras. Scorsese, Bogdanovich, Copolla, Ron Howard, James Cameron, Tarantino, Jonathan Demme… O antes renegado era ovacionado.
A série de filmes baseados na obra de Edgar Allan Poe e o clássico “A Pequena Loja dos Horrores” (este filmado em apenas dois dias) estão entre suas produções mais destacadas, que ainda incluem uma penca de ficções científicas e filmes de terror que marcaram a época dos drive-ins nos Estados Unidos. Corman não tem pudor algum em dizer que fazia cinema comercial, pensando no retorno gerado pelo público. Pelo contrário, se orgulha disso. Botava a mão no bolso para levar adiante as suas ideias, sem sofrer interferência dos estúdios, e nunca se arrependeu. A própria indústria norte-americana nos anos 1970 apostou no sucesso do formato. A era dos blockbusters poderia não existir sem o pioneirismo de Roger Corman.
Mas Corman não se restringiu ao puro entretenimento. Também foi responsável por distribuir vários filmes considerados de arte (Bergman, Fellini…) neste circuito alternativo. E tentou uma incursão no rol dos cineastas “sérios” com a realização de “O Intruso”, sobre o racismo, que foi massacrado pela crítica conservadora e se tornou um raro fracasso comercial na sua filmografia, que hoje é exaltado como uma obra de grande valor social e cinematográfico.
Para finalizar, um dos pontos altos do documentário foi saber da existência de um filme dirigido por Corman chamado “Viagem ao mundo da alucinação” (The Trip), escrito por Jack Nicholson e estrelado por Peter Fonda e Dennis Hopper, que mergulha fundo no psicodelismo e no uso do LSD, com direito a várias experimentações na linguagem da sétima arte. Fiquei com muita vontade de assisti-lo. Até porque este filme é praticamente a base para o clássico da contracultura “Sem Destino”, um dos melhores que já vi.
Nicholson, aliás, é dono dos depoimentos mais emocionantes do documentário, lembrando-se de quando Corman era o único a lhe dar emprego em Hollywood. Reverência esta corroborada por Robert De Niro, Bruce Dern, Joe Dante e muitos outros que não têm dúvida alguma do que Roger Corman representa para eles e para o cinema: um mestre.
ONDE ASSISTIR:
- O filme não disponível em nenhum serviço de assinatura de streaming, apenas em mídia física e em aplicativos como o Stremio.
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