As campanhas de Remo e Paysandu na Série B ilustram com clareza o quanto o futebol é capaz de apresentar realidades absolutamente distintas
As campanhas de Remo e Paysandu na Série B ilustram com clareza o quanto o futebol é capaz de apresentar realidades absolutamente distintas Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

A participação na Série B garantiu ao Re-Pa um merecido lugar de destaque na cobertura dos canais esportivos nacionais, encantados com a grandeza das torcidas e a força da tradição centenária. Hoje à noite, no 780º capítulo da saga de rivalidade mais bonita do futebol brasileiro, a história do clássico será justificadamente reverenciada.

É um passo importante para que o país do futebol se conscientize ainda mais da importância de Remo e Paysandu no contexto dos campeonatos brasileiros. A ausência de ambos ou de um deles nas divisões de elite atrapalhou esse processo de reconhecimento. É hora de reparar essa injustiça – e isso cabe obrigatoriamente aos próprios clubes.

Tudo começa pela capacidade competitiva e pela qualidade do jogo. Na partida desta noite, no Mangueirão, bicolores e remistas entram com missões diversas. O clássico é decisivo porque o PSC precisa manter viva a chama da esperança, mesmo remota, de sobrevivência. O Remo sonha com o acesso e precisa se manter próximo ao G4.

Como ocorreu em todos os confrontos recentes, este também deve ser decidido mais nos erros do que propriamente nos acertos. Nada que deprecie a imagem do Re-Pa, afinal quase todos os clássicos no Brasil se decidem dessa forma às vezes fortuita, às vezes acidental.

A tomar por base o que ocorreu no último jogo, válido pelo primeiro turno da Série B, imagina-se um Remo mais atento e competitivo. A própria campanha e as três vitórias em sequência fazem crer nisso. Independentemente de ser um clássico, a partida representa a chance de consolidação na disputa pelo G4.

Pelo lado bicolor, com todos os problemas que atormentam o comando técnico, a batalha será igualmente por mostrar intensidade e capacidade de equilibrar as ações. Não seria surpresa se, diante desse cenário, o time adotasse um sistema conservador, fechando o meio-campo para conter a velocidade de extremas e laterais do adversário.  

Encontrar as alternativas certas para se sobrepor ao adversário é o desafio que se apresenta para os técnicos Márcio Fernandes e Guto Ferreira.

Ausências afetam o poderio dos rivais

O Remo deve manter o esquema adotado desde a chegada de Guto Ferreira, com laterais avançados e pontas bem abertos. A ausência de Marcelinho enfraquece o lado direito, principalmente na parte ofensiva, mas pela esquerda Sávio pode ganhar função tática importante, aparecendo mais adiantado caso as condições do jogo permitam.

Na frente, Pedro Rocha não é nome certo para começar, mas é provável que Nico Ferreira e Diego Hernández sejam os ponteiros, depois das boas atuações contra CRB e Athlético-PR. João Pedro pode ser mantido no centro do ataque, como referência, embora tenha tido participação discreta nos jogos em que atuou como titular.

O meio-campo segue inalterado: Nathan Camargo, Panagiotis e Caio Vinícius. Jaderson, definitivamente, passa a ser alternativa para o decorrer da partida. Ou nem isso. Contra o Athlético nem foi utilizado. O ponto forte do Remo atual é a transição rápida, explorando o contra-ataque.

No PSC, com apenas seis pontos ganhos em 36 disputados no returno, a situação é de quase desolação, mas o clássico surge como esperança de redenção final. Márcio Fernandes terá a zaga completa, com Thalisson e Maurício no centro, Edilson e Reverson nas laterais. O meio não deve sofrer mudanças – Ronaldo Henrique, André Lima e Denner.

O ataque depende de Garcez. Com ele confirmado, o esquema pode ter Marlon e Vinni Faria pelos lados. Marlon pode voltar para recompor o meio-campo, principalmente quando o time está sem a bola. A ausência de Diogo Oliveira pode determinar a entrada de Denilson, com o objetivo de explorar os cruzamentos na área.  

Alto risco na ideia de mandar jogos no Baenão  

Estourou como pequena bomba, na manhã desta segunda-feira (13), a informação de que o Remo pretende mandar no estádio Baenão todos os jogos que terá após o Re-Pa. Se isso for confirmado, o time enfrentará Athletic, Chapecoense e Goiás dentro do centenário estádio. São nove pontos importantíssimos em disputa.   

Trata-se de um recuo na proposta inicial de manter jogos no Mangueirão, onde o time turbinou a campanha pelo acesso nas primeiras rodadas, ainda sob o comando de Daniel Paulista. A maciça presença da torcida botou o Remo na liderança do ranking de público.

Abraçar o risco contido no “caldeirão” é uma ousadia que pode derrubar definitivamente as chances de acesso. Está vivo na memória de todos um episódio emblemático da história recente: a queda para a Série C em 2021.

Na última rodada, com o Baenão lotado, o time martelou, sufocou e não conseguiu superar o rebaixado Confiança. A ansiedade excessiva, combinada com a retranca do visitante, derrubaram as boas chances que o Remo tinha de permanecer na Série B. Apenas uma lembrança a ser considerada.