Poucas novelas conseguiram capturar o espírito de uma época como Rainha da Sucata. Exibida originalmente em 1990, a trama de Silvio de Abreu, dirigida por Jorge Fernando, marcou a virada da década. Agora, 25 anos após sua estreia, a obra retorna às telas da Globo a partir do dia 3 de novembro, no tradicional espaço do “Vale a Pena Ver de Novo”, em meio às comemorações pelos 60 anos da emissora.
Ambientada em São Paulo, a novela mergulha no contraste entre o luxo e a simplicidade, colocando frente a frente duas mulheres de mundos opostos: Maria do Carmo, interpretada por Regina Duarte, e Laurinha Figueroa, vivida por Glória Menezes.
A primeira é filha de um vendedor de ferro-velho, Onofre (Lima Duarte), que enriquece e tenta conquistar o respeito da alta sociedade; já a segunda, uma socialite falida, disposta a tudo para manter o status e esconder sua paixão proibida pelo enteado, Edu (Tony Ramos).
Na história, Maria do Carmo herda o negócio do pai Onofre, e transforma o ferro-velho em um império. Com ambição e orgulho, decide dar o troco na elite que a desprezou ao se casar com Edu – um playboy, antigo colega de escola que a humilhava e agora vê a família à beira da falência.
O casamento de conveniência abre caminho para sua entrada triunfal na mansão dos Albuquerque Figueroa, nos Jardins, bairro nobre da capital paulista. Mas o sonho de ser aceita entre os ricos rapidamente se transforma em um pesadelo, especialmente sob a convivência com Laurinha, cuja frieza e manipulação se tornaram ícones da teledramaturgia.
Desde o drama aos tons de comédia, a novela apresentou duas personagens femininas em contraponto, consagrando Maria do Carmo como uma das mocinhas mais memoráveis da TV e inserindo Laurinha Figueroa no grupo das vilãs mais marcantes da dramaturgia nacional.
Além dos dramas familiares e das disputas por poder, Rainha da Sucata também trouxe uma crítica mordaz ao consumismo e ao “novo rico” dos anos 90. Entre os elementos mais marcantes estavam os figurinos extravagantes de Maria do Carmo – com laçarotes, bolsas de correntes e chapéus que viraram febre – e o inusitado escritório montado sobre a frente de um Chevrolet 1958, símbolo de sua origem e determinação.
A abertura da novela também entrou para a história: ao som de “Me Chama que Eu Vou”, de Sidney Magal, uma boneca feita de sucata dançava lambada com dançarinos reais – uma metáfora visual para a mistura de luxo e simplicidade que permeia toda a narrativa. A música se tornou um sucesso nacional e ajudou a consagrar o ritmo da lambada na década.
Escrita por Silvio, a novela teve colaboração de Alcides Nogueira e José Antonio de Souza, e reuniu um elenco de peso: Aracy Balabanian, Nicette Bruno, Raul Cortez, Renata Sorrah, Claudia Raia, Antônio Fagundes, Marisa Orth, Andrea Beltrão, Daniel Filho, entre outros nomes de destaque da televisão brasileira.
Editado por Clayton Matos