PREÇO

Por que a castanha-do-pará está mais cara

A venda do quilo da castanha-do-pará por R$ 200 viralizou. Segundo pesquisador da Embrapa, há uma baixa oferta no mercado.

A castanha que abastece Belém vem principalmente da região do Baixo Amazonas, de municípios como Óbidos e Oriximiná. Há também produção extrativista em áreas próximas, como o Vale do Acará, além de cultivo em municípios como Tomé-Açu.
( NIVEA SANTOS,55 ,FEIRANTE A 25 ANOS) Foto: Antonilo Melo

Um vídeo gravado por um vendedor ambulante em Belém viralizou nas redes sociais nesta semana ao mostrar a venda de um quilo de castanha-do-pará por R$ 200. O vídeo, que mostra a empolgação do vendedor ao concluir a negociação, dividiu opiniões na internet. Enquanto alguns internautas criticaram o valor, outros defenderam o preço como compatível com a qualidade e a escassez do produto.

Segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Urano Carvalho, o valor elevado da castanha tem uma explicação: a baixa oferta no mercado. “Este ano, a safra foi menor do que em 2023. A média de produção mundial gira em torno de 73 mil toneladas por ano, o que é muito pouco quando comparado com outras castanhas, como a de caju ou amêndoas, que ultrapassam 3 milhões de toneladas”, explicou.

O especialista acredita que a redução em 2024 faz parte do ciclo natural da planta. “A castanheira tem um comportamento alternante. Um ano produz muito, no outro, pouco. Tivemos boas safras em 2022 e 2023. Era esperado que em 2024 fosse menor”.

Ele reforça que o extrativismo tradicional já não dá conta da demanda. “O cultivo é a única saída viável para aumentar a oferta, mas requer pesquisa e investimento”.

A safra da castanha acontece entre novembro e março, e os preços costumam cair ligeiramente logo após esse período. No entanto, a preferência dos paraenses pela castanha fresca (úmida e descascada na hora) também influencia o preço. “Na feira, a castanha que parece fresca foi colhida há seis ou oito meses. Eles mantêm a umidade com água, para dar a sensação de produto recém-colhido”, explica.

A castanha torrada, seca e pronta para exportação, é mais resistente e tem menor teor de umidade. “Os padrões internacionais exigem castanhas bem secas, com menos de 7% de umidade. É o tipo que vai para os Estados Unidos, consumido no Natal e no Dia de Ação de Graças”, explica.

Na feira da 25, bairro do Marco, em Belém, a castanha-do-pará é um dos produtos mais procurados. A vendedora Nívea Santos, 55 anos, comanda o box “Castanha da Nívea” há mais de 15 anos. “Hoje o quilo da castanha natural está entre R$ 140 e R$ 150, e a torrada, entre R$ 150 e R$ 170. Mas a gente vende também em pacotes menores, de 70g por R$ 10 e 150g por R$ 20. Isso facilita para quem não pode levar o quilo”.

Segundo Nívea, a castanha torrada pode durar até um ano, o que a torna ideal para levar em viagens. “Tem muita saída. Quem compra uma vez, volta ou pede de novo. Entregamos para todo o Brasil”, diz.

ENANILSON FERREIRA 35, FEIRANTE. Foto: Antonio Melo – Diário do Pará

O vendedor Evanilson Ferreira, 34, comanda o box “Mix de Castanhas”. “Muitos clientes são paraenses que moram fora ou turistas que conheceram aqui. A gente já embala a vácuo, pronto para viajar”. Ele já se prepara para o Círio de Nazaré e a COP 30, dois eventos que devem atrair mais turistas. “O preço está mais alto, mas a gente se prepara para ter estoque e atender bem”, diz.

“Eu como todo dia. É bom para a saúde. Dizem que previne várias doenças”, conta Firmina da Silva, turista de 81 anos. No entanto, segundo Urano Carvalho, a produção atual não seria suficiente para manter esse hábito para todos os brasileiros. “Se dividíssemos toda a produção mundial para a população do Brasil, daria cerca de 40 castanhas por pessoa. O suficiente para apenas 20 dias de consumo anual”.

A castanha-do-pará enfrenta desafios para manter sua produção. “A castanha é, para mim, o produto mais importante do extrativismo florestal não madeireiro. Mas vive à margem de políticas públicas, com produção estagnada e pesquisas escassas. Se nada for feito, ela vai continuar sendo um produto caro, raro e valorizado apenas por quem entende seu verdadeiro valor”, conclui Urano.

Trayce Melo

Repórter

Jornalista com experiência em redação, planejamento de estratégias e produção de conteúdo digital. Escreveu uma série de materiais independentes para o Portal Leia Já. Também atuou como social media na Secretaria de Estado de Turismo do Pará e como assessora de comunicação na Prefeitura de São Sebastião da Boa Vista, no Marajó. Além disso, atuou como analista de marketing na Enter Agência Digital. Recebeu o prêmio Internacional Premium Cop 30 Amazônia, concedido pelo ICDAM. Atualmente, é repórter do Jornal Diário do Pará.

Jornalista com experiência em redação, planejamento de estratégias e produção de conteúdo digital. Escreveu uma série de materiais independentes para o Portal Leia Já. Também atuou como social media na Secretaria de Estado de Turismo do Pará e como assessora de comunicação na Prefeitura de São Sebastião da Boa Vista, no Marajó. Além disso, atuou como analista de marketing na Enter Agência Digital. Recebeu o prêmio Internacional Premium Cop 30 Amazônia, concedido pelo ICDAM. Atualmente, é repórter do Jornal Diário do Pará.