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Perdido no espaço e no personagem

Perdido no espaço e no personagem
Adam Driver com cara de “me lembrem de demitir meu agente depois desse filme aqui” FOTO: REPRODUÇÃO/FILME

 

“Jurassic Park”, em 1993, meio que trouxe de volta o interesse do público cinéfilo pelos dinossauros, algo perdido entre o stop-motion de Ray Harryhausen e a popularização dos computadores para efeitos especiais. Se a película de Steven Spielberg deixou todos embasbacados naquele ano, ao criar criaturas pré-históricas quase reais, o mesmo não se pode dizer das produções posteriores, pois até mesmo a franquia teve uma queda de qualidade impressionante, do ruim ao esquecível.

Esquecível talvez seja o melhor adjetivo para qualificar também “65”, filme que passou rapidamente pelos cinemas e já está disponível na plataforma da HBO Max. Além de não ter nenhuma ideia relativamente nova, o filme dirigido e roteirizado pela dupla Scott Beck e Bryan Woods (por incrível que pareça, a dupla responsável pelo roteiro do ótimo “Um Lugar Silencioso”) peca pelo simplismo burocrático. Aqui, eles parecem perdidos na ânsia de entregar um filme grandioso, mas sem um fiapo de roteiro definido, ou mesmo alguma experiência para enrolar o espectador o máximo possível.

Isso fica claro já nos primeiros 15 minutos da película, com uma sucessão de cortes rápidos, que não conseguem situar o espectador nos dramas do protagonista, já que não temos como entender a relação dele com a família, e os diretores não fazem a menor questão de trabalhar isso para que nos importemos com os destinos dos personagens. Também não sabem como trabalhar a possível “surpresa” da trama, que já é revelada no título inicial. E não sabemos exatamente se o protagonista viajou no tempo ou pertence a outra era, já que ninguém se dá ao trabalho de informar isso.

Para piorar, temos Adam Driver precisando pagar as contas e atuando sem nenhum tipo de carisma ou esforço na pele de um explorador espacial que cai em um planeta desconhecido para ele (a Terra), perde toda a tripulação e precisa salvar a única sobrevivente, uma adolescente irritante e que nem fala a língua dele, dos dinossauros que povoam o habitat há 65 milhões de anos (sim, o número do título do filme).

Nenhum problema em ter uma história tão básica, se houvesse um cuidado mínimo em ter uma escala de ameaça ou sequências de suspense que funcionassem. Afinal, temos um sub-”Jurassic Park” que deveria imitar as coisas boas do ótimo decano anterior. Sobram apenas cenas de sons das feras e Driver olhando para cima, ou correndo para lá e para cá, fazendo caras e bocas e expondo toda sua má vontade de estar nesse projeto.

Somando a isso, temos uma trilha sonora preguiçosa e irritante, somada com efeitos especiais até bons, mas muito aquém das possibilidades, já que Spielberg conseguiu dinossauros muitos melhores há três décadas. Aqui, tem o agravante de eles aparecerem pouco menos de 10 minutos, já no clímax final, que é tão risível quanto sem criatividade. Ou seja, não serve nem como uma boa ficção científica, nem como um thriller com seres gigantes da nossa história.

Parece que a Sony busca uma nova franquia para os cinemas, mas tem derrapado na falta de criatividade ou má vontade dos realizadores. Melhor tentativa na próxima.