RAFAEL BALAGO
GENEBRA, SUIÇA (FOLHAPRESS)
A ordem de colocar os celulares em modo avião deverá ser abandonada nos voos na União Europeia a partir do ano que vem. O comando do bloco determinou que as operadoras poderão oferecer acesso 5G aos passageiros enquanto eles estão no ar.
Anunciada no fim de novembro, a decisão determina que os países estejam prontos para implantar a mudança até 30 de junho de 2023. No entanto, a UE não divulgou detalhes de como isso será feito.
“O 5G permitirá serviços inovadores para as pessoas e oportunidades de crescimento para as companhias europeias. O céu não é mais um limite para as possibilidades oferecidas pela conectividade super rápida e de alta capacidade”, disse Thierry Breton, comissário europeu para Mercado Interno, ao anunciar a medida. O bloco reúne 27 países do continente.
O veto ao uso de celulares ligados nos voos foi adotado no mundo todo, desde a popularização dos celulares, por temor de que eles pudessem atrapalhar a comunicação entre os aviões e as torrres de controle, bem como os sensores e sistemas digitais das aeronaves.
“Não há risco de segurança. As pesquisas em que se baseavam a determinação de desligar os celulares nos aviões eram muito limitadas. As circunstâncias que causariam alguma interferência são muito remotas: uma chance em 10 milhões de que algo possa acontecer”, diz Willie Walsh, diretor-geral da Iata (Associação Internacional de Transportes Aéreos.
No entanto, nos EUA, a adoção de sinal 5G nos arredores dos aeroportos foi adiada após queixas das empresas aéreas de que as novas antenas podem interferir nas comunicações dos sistemas das aeronaves com o dos aeroportos. A questão principal envolve o rádioaltímetro, usado para determinar a altitude com precisão e evitar colisões.
O governo americano determinou que as empresas façam ajustes nos aviões até julho de 2023, mas os fabricantes dizem que não dará tempo. Em uma carta enviada em outubro e divulgada pela Reuters, elas alegaram que a ruptura nas cadeias de suprimento impossibilitará o cumprimento da meta e pediram extensão do prazo ao menos até o fim do ano que vem.
“A FAA (autoridade americana de aviação) documentou mais de cem potenciais incidentes de potencial interferência de 5G. Infelizmente, as agências do governo dos EUA não parecem estar na mesma página em relação a questões de segurança”, diz a missiva, assinada por Airbus, Boeing, Embraer e outros nomes.
Nos EUA, a rede 5G opera nas frequências de 3,7 a 3,98 GHz, mais próxima da usada pelo sistema dos aviões, que ficam na faixa de 4.2 a 4.4 GHz. Na Europa, para minimizar interferências, o 5G destinado aos aviões usará a faixa de 5 GHz.
Em julho deste ano, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aprovou regras para a instalação de antenas 5G perto de aeroportos no Brasil. Elas deverão usar a faixa entre 3.3 e 3.7 GHz.
Na Europa, os passageiros dos aviões poderão receber o sinal 5G enviado das antenas em solo, quando estiverem em altitudes mais baixas. Em altitudes maiores, como as usadas por voos internacionais, as aeronaves deverão ter a bordo um picocell, espécie de roteador de grande potência, capaz de criar uma rede celular em uma pequena área.
Para Walsh, da Iata, a medida pode ser adotada rapidamente pelas empresas aéreas. “Muitas delas já possuem estes equipamentos nos aviões, que são usados para se comunicar com o solo”, diz o diretor da Iata.
Com o uso de 5G, é possível ver vídeos ao vivo, jogar games online e usar a internet para muitas outras funções. Walsh acredita, no entanto, que as empresas devem vetar chamadas de voz a bordo. “Os passageiros não querem que a pessoa do lado delas no avião fique falando no telefone”, considera.
Desde 2008, a União Europeia reserva frequências de sinal para tráfego de dados rumo às aeronaves. Isso permitiu que as companhias passassem a oferecer acesso à internet aos usuários, quase sempre de forma limitada, com pacotes de dados pequenos e cobrança de tarifas extras. Não se sabe se as operadoras vão cobrar valores extras pelo uso do sinal nas alturas.