SÍMBOLOS

Os muitos elementos que compõem a festa de Nazaré

Os símbolos do Círio de Nazaré são facilmente reconhecidos nas procissões e programações, como os ex-votos, os carros, a corda e a berlinda Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
Os símbolos do Círio de Nazaré são facilmente reconhecidos nas procissões e programações, como os ex-votos, os carros, a corda e a berlinda Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Na medida em que preenche cada espaço possível ao longo do percurso de 3,6 Km, o Círio de Nazaré é imediatamente reconhecido pela multidão que acompanha os passos da Imagem que segue embalada por seus fiéis.

Mas o olhar mais atento é capaz de identificar a riqueza de elementos que compõem a procissão do segundo domingo de outubro. Um a um, diferentes símbolos acompanham o fluxo da romaria e contam um pouco da história da devoção dos paraenses pela Virgem de Nazaré.

EX-VOTOS

Ainda antes de a grande procissão ter início, durante a madrugada do segundo domingo de outubro, já é possível ver surgir uma enorme quantidade de objetos que reproduzem as mais variadas graças alcançadas pela intercessão de Nossa Senhora. Ora feitos de cera, ora de isopor e outros materiais, os ex-votos simbolizam a gratidão de seus devotos ou mesmo o pagamento de alguma promessa feita. Seja durante a madrugada ou ao longo de toda a procissão, os ex-votos se destacam entre a multidão. São partes do corpo humano feitas em cera, tijolos, miniaturas de casas, livros e o que mais simbolizar o pedido atendido.

CARROS

Além de estarem presentes nas mãos e até mesmo apoiados nas cabeças dos devotos, durante a procissão os ex-votos também são levados nos carros de promessas que seguem conduzidos pelo mar de gente que os cerca durante o Círio de Nazaré. Além de guardarem as mais diversas representações de graças alcançadas e pedidas, os Carros de Promessas representam, eles próprios, a memória de milagres atribuídos à padroeira dos paraenses ao longo dos anos.

O primeiro carro de promessas a integrar o Círio foi chamado de Carro Dom Fuas Roupinho. Incluído a partir de 1805, o carro teria atendido a um pedido da Rainha de Portugal, Dona Maria I, em gratidão ao milagre ocorrido em 1182, quando o fidalgo português que dá nome ao carro, Dom Fuas Roupinho, recorreu à Nossa Senhora de Nazaré quando estava prestes a despencar de um abismo, sendo salvo. Em memória do milagre, o carro traz a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré diante da representação de Dom Fuas Roupinho montado em seu cavalo.

Na medida em que preenche cada espaço possível ao longo do percurso de 3,6 Km, o Círio de Nazaré é imediatamente reconhecido pela multidão que acompanha os passos da Imagem que segue embalada por seus fiéis. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Já o Carro de Plácido faz referência ao achado da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré, episódio que, anos mais tarde, viria a dar origem ao Círio em Belém. A história conta que ao andar pela área que abrangia o Igarapé do Murutucu, em 1700, Plácido José de Souza foi atraído por uma luz e encontrou a imagem da Virgem de Nazaré. Após o achado, a imagem da Santa foi levada, por Plácido, para sua casa.

Porém, a imagem teria retornado para o local de origem, às margens do Igarapé. Diante do fato recebido como um milagre, o caçador decidiu construir a morada da imagem no local onde ela foi encontrada, sendo essa pequena construção o primeiro vestígio do que posteriormente veio se transformar na Basílica Santuário de Nazaré. Tal história é rememorada pelo carro que traz a representação de Plácido ajoelhado.

Espalhados ao longo do percurso da procissão, os carros vão se integrando à romaria. O primeiro deles é o Carro de Plácido, seguido pela Barca da Guarda Mirim, pela Barca Nova, pelo primeiro Carro dos Anjos, pelo Cesto de Promessas, pelo segundo Carros dos Anjos, pela Barca com Velas, pelo terceiro Carro dos Anjos, pela Barca Portuguesa, pelo quarto Carro dos Anjos, pela Barca com Remos, pelo Carro Dom Fuas Roupinho, pelo Carro da Sagrada Família e pelo carro da Carro da Saúde. Como o próprio nome faz referência, os quatro Carros dos Anjos levam consigo as crianças que, fantasiadas de anjos, muitas vezes cumprem promessas feitas por seus familiares.

CORDA

Um dos grandes símbolos de fé dos paraenses inicia a madrugada de domingo estirado no chão. A corda que hoje adota um formato linear e tem 400 metros de comprimento, dividida em cinco estações, é atrelada à Berlinda que guarda a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré ainda no início da procissão, à altura do Complexo do Ver-o-Peso. Depois de atrelada, é ela que dita o ritmo da romaria, sendo puxada por milhares de fiéis que se unem em busca de um pequeno espaço onde possam agarrar a mão.

Foto: Círio de Nazaré/divulgação

Apesar da enorme representatividade que este elemento tem, hoje, para o Círio, a corda nem sempre esteve presente. Ela passou a fazer parte do Círio no ano de 1885, quando uma cheia da Baía do Guajará alagou a rua no entorno do mercado do Ver-o-Peso, fazendo com que a Berlinda ficasse atolada e os cavalos utilizados à época não conseguissem puxá-la. Como solução, uma corda foi emprestada para que os fiéis puxassem a Berlinda, retirando-a do atoleiro. Surgia, ali, uma das maiores tradições da festividade em homenagem à Virgem de Nazaré.

BERLINDA

No ponto final da corda que segue a procissão tomada por homens e mulheres, a berlinda concentra as atenções. Em estilo barroco, a estrutura foi produzida em cedro vermelho e, conforme a tradição, todos os anos é ornamentada com flores naturais para que possa ser usada no Círio.

Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará

A berlinda utilizada atualmente é a quinta já construída, confeccionada em 1964 pelo escultor João Pinto. É ela a responsável por abrigar a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, que é conduzida por seus fiéis da Igreja da Sé até a Basílica Santuário de Nazaré. Somente quando a Berlinda com a Imagem chega à porta da Basílica, é que o Círio de Nazaré é encerrado e as famílias seguem para suas casas e de familiares para vivenciar outro grande elemento de tradição da festividade, o almoço do Círio.