Faltando pouco mais de um mês para a COP30 em Belém, a mobilização do setor privado vem ganhando uma dimensão inédita. A Semana do Clima de Nova York mostrou a força dessa presença ao reunir, por meio da Sustainable Business COP (SB COP), iniciativa liderada pela CNI, um conjunto de 23 prioridades entregues oficialmente ao presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, em uma cerimônia que contou com líderes globais como Michael Bloomberg, enviado especial da ONU.
Trata-se do maior esforço coordenado já realizado pelo setor privado mundial para apoiar negociações climáticas, representando empresas em mais de 60 países. No mesmo evento, apresentamos as dez recomendações para uma economia de baixo carbono na Amazônia, construídas pela Jornada COP+, movimento multissetorial liderado pela FIEPA pela transição justa. Essas propostas nascem de um território específico, mas enfrentam questões universais. E é justamente por isso que uma agenda amazônica, quando bem construída, se conecta de forma direta e legítima com os debates globais.
Essa ousadia de transformar realidades locais em soluções globais é o que diferencia o momento que estamos vivendo. Na mesma semana, tivemos também a oportunidade de destacar outra iniciativa da FIEPA contra o desmatamento ilegal, um programa pioneiro do setor privado amazônico que responde à meta nacional de eliminar o desmatamento ilegal até 2030.
O setor privado brasileiro, seja no âmbito nacional, seja no âmbito amazônico, nunca se mobilizou de forma tão coletiva. O mesmo espírito se repetirá em outubro, em Brasília, na Pré-COP, onde novamente estaremos presentes para reforçar nossa capacidade de convergência e preparar o terreno da COP30.
Mas há um paradoxo que não pode ser ignorado. Uma pesquisa apresentada pela Assobio em Nova York mostra que a relação dos brasileiros com a Amazônia ainda é marcada por distanciamentos e estereótipos. Cerca de 65% da população afirma desconhecer a região. Essa falta de contato direto alimenta uma visão idealizada e, ao mesmo tempo, fatalista.
Como cobrar do mundo um olhar mais atento se, dentro do próprio Brasil, ainda existe uma distância tão grande entre imaginário e realidade? Esse é um desafio adicional: revelar a Amazônia real, com sua floresta, mas também com seus mais de 28 milhões de habitantes, cujos direitos, modos de vida e aspirações devem estar no centro de qualquer estratégia de sustentabilidade.
Temos aproveitado cada oportunidade nos debates climáticos para reafirmar que não existe contradição entre conservar a floresta e gerar desenvolvimento econômico. Ao contrário. são dimensões indissociáveis de um mesmo futuro.
A Amazônia é dinâmica, repleta de desafios e oportunidades.
Não cabe reduzi-la nem à negação da crise climática, nem a uma visão romantizada de “museu verde”, fruto de ativismos exacerbados e desconectados da realidade das populações que vivem na região.
O setor privado brasileiro assume agora uma posição de liderança global, oferecendo contribuições concretas e compartilhando responsabilidades com todos os atores desse debate. Será assim durante a COP30 em Belém e nas próximas conferências internacionais. Queremos falar e ouvir mais, buscar convergências e construir pontes para uma transição justa, capaz de proteger a floresta e, ao mesmo tempo, garantir desenvolvimento e dignidade para quem vive nela.
Por Alex Carvalho – Presidente da FIEPA, Jornada COP+ e integrante da equipe de engajamento da SB COP