Os desinformados costumam dizer que o Re-Pa é como outro jogo qualquer, valendo três pontos e sem consequências. Quem conhece o futebol paraense sabe que não é assim. O clássico tem o poder de ressuscitar equipes em baixa e afundar times em ascensão. Funciona quase sempre como um divisor de águas, principalmente dentro de uma competição seletiva e difícil como a Série B.
A vitória do PSC, sábado, causou um rebuliço monumental. O efeito mais contundente é na autoestima. Como que por milagre, os bicolores passaram a ver o time de Claudinei Oliveira como ajustado e confiável. Os azulinos condenam o Remo de Antônio Oliveira à condição de uma equipe fracassada e sem futuro.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Os exageros são ingredientes naturais do maior clássico da Amazônia e costumam ser amplificados pela paixão do torcedor. No calor das comemorações, é normal que os bicolores se entusiasmem. Isso é futebol. É perfeitamente compreensível também que a tristeza pela derrota deixe os azulinos frustrados.
Há, porém, um terreno diferente, o da lucidez. Torcedores dos dois lados irão entender com clareza o resultado do primeiro duelo na Série B após 19 anos. A forma de atuação do PSC impressionou pela entrega e por um senso de responsabilidade a cada lance. Não foi algo novo. Nos outros três clássicos da temporada, o Papão foi sempre mais intenso e guerreiro.
A formatação do time, focada em bloquear o meio-campo, foi uma demonstração de humildade por parte de Claudinei, que mostrou respeito pela campanha do rival no Brasileiro. Ocorre que, após consolidar a marcação, o PSC dedicou-se a buscar o ataque, priorizando a transição ofensiva com Maurício Garcez. E deu certo.
O atacante conseguiu três finalizações de grande perigo e transformou-se na principal arma ofensiva da equipe, respaldado pelas participações de Marlon, Rossi e Diogo Oliveira, que substituiu Benitez logo aos 7 minutos.
No 1º tempo, através de Garcez, o PSC esteve muito perto de abrir o placar, mesmo com uma postura cautelosa quando não detinha a posse de bola. Do outro lado, o Remo desperdiçava tempo e paciência com toques improdutivos para os lados, estabelecendo 65% de posse de bola.
Após a partida, o próprio técnico Antônio Oliveira reconheceu que muitas vezes o predomínio na posse de bola é completamente inútil. Foi exatamente o que se viu sábado no Mangueirão.
Quando o confronto exigiu objetividade, o PSC mostrou sua arma. Escanteio mal vigiado pela zaga do Remo – que estava temporariamente sem Camutanga, em atendimento médico – e muito bem executado por Vinni Faria resultou em jogada aérea mortal.
A bola foi desviada para o segundo pau, onde Diogo Oliveira usou a envergadura para saltar e tocar a bola para o fundo das redes. Um belo e decisivo gol. Apesar das 300 mudanças feitas, o Remo não conseguiu se organizar adequadamente para buscar o empate.
Vitória merecida do time que teve mais aplicação e soube explorar suas virtudes – força de marcação e intensidade nos duelos diretos – e anular os pontos fortes do adversário – os avanços pelos lados.
Claudinei usa melhor estratégia e sai vitorioso
Vencer o Re-Pa é item para engrandecer qualquer currículo. Claudinei Oliveira já pode contabilizar um triunfo no maior clássico do planeta. Usou a estratégia acertada, o time correspondeu e o triunfo aconteceu. Mais importante: ele superou as dúvidas quanto à confiabilidade do time, após 11 jogos sem vencer na Série B.
Com a inclusão de três novos jogadores – Maurício Garcez, Thalison e Diogo Oliveira –, a equipe ganhou em qualidade e se impôs ao Remo, praticando um esquema de marcação forte nos setores centrais do campo e vigilância nas laterais. Essa estratégia funcionou bem, principalmente no 1º tempo, quando o Remo aceitou passivamente a imposição.
Na etapa final, com a mudança de postura do Remo, o confronto ficou mais equilibrado, mas foi o PSC que conseguiu chegar ao gol na cobrança de um escanteio. O lance, ensaiado, permitiu que a bola fosse desviada por Thalison para a entrada fulminante de Diogo Oliveira na pequena área.
Uma vitória que dá mais tranquilidade a Claudinei para organizar a reação do PSC na Série B. O primeiro objetivo é acumular pontuação suficiente para fugir à zona de rebaixamento.
Oliveira perdeu a chance de mostrar humildade
Ninguém gosta de perder. Antônio Oliveira estreou com derrota no clássico e aproveitou a entrevista coletiva para analisar os erros de seu time, apontando os pontos que não funcionaram. Ia muito bem nas avaliações até destacar a superioridade técnica sobre o rival.
Essa diferença pode até existir pontualmente, mas o jogo de sábado mostrou justamente o contrário. O PSC levou a melhor ao ser mais objetivo e organizado. No fundo, Oliveira talvez quisesse evidenciar a diferença entre os times na classificação da Série B, mas foi apenas deselegante.
Em resposta, Claudinei optou pela diplomacia, embora deixando uma pequena farpa a respeito da maior posse de bola dos azulinos no clássico. “Ah, teve o controle de bola, ficou com a bola, paciência, leva a bola para casa, a gente leva os três pontos, não tem problema”, disse.
Tretas que formam o cardápio de acontecimentos que envolvem o Re-Pa. Em poucos dias estarão esquecidas. Fica apenas, para a posteridade, o registro de que o Papão saiu vitorioso.