Ninguém pode dizer que M. Night Shyamalan não é persistente. Entre sucessos, fracassos e obras controversas, o cineasta continua trabalhando em uma cinematografia que, no mínimo, o mantém em evidência. Em “Batem à Porta” (2023), talvez tenhamos um resumo da situação atual de “Shy” (para os íntimos): um suspense mais simples e minimalista, onde ele mostra toda sua categoria na direção, mas cujo roteiro não foge do lugar comum. Ele se ancora na curiosidade que sua assinatura autoral ainda gera, entretanto não traz nenhum elemento novo para sua extensa obra.
Nesse sentido, “Batem à Porta” lembra outro trabalho recente do diretor, “A Visita” (2015), com histórias se passando praticamente em um único ambiente, com poucos atores e elementos de cena. Se naquele exemplar, o foco é nas crianças que desconfiam das atitudes dos avós, aqui temos um casal gay e sua filha adotiva que são feitos reféns, em sua cabana de férias, por quatro pessoas que afirmam terem visões do fim do mundo e que só o sacrifício da família pode salvar a humanidade.
O roteiro, do próprio Shyamalan (ao lado de Steve Desmond, baseado no livro de Paul Tremblay), até traz pontos importantes sobre preconceito social contra LGBTQIA+s e paranoia religiosa, mas apenas arranha a superfície, já que o foco é na tensão crescente entre os personagens.
Nesse sentido, o indiano domina totalmente a direção. Ele sabe como construir angústia no espectador com longas cenas paradas, travellings lentos e enquadramentos precisos, inclusive na distribuição do espaço cênico, onde mesmo as mortes em off são capazes de chocar o público pela própria situação em si. É preciso destacar ainda o bom elenco, onde Dave Bautista mostra uma evolução na atuação até surpreendente.
Se o trabalho por trás das câmeras é impecável, o mesmo não se pode dizer do enredo, recheado de diálogos risíveis, comportamentos inexplicáveis e pequenos plot twist sem impactos. A maneira com a história é construída também pouco explica as atitudes dos personagens e toda a construção sobrenatural que os levou até ali, a não ser por notícias de TV (ridiculamente falseadas) e efeitos especiais bem capengas (o que tem se tornado um padrão em Hollywood. Excesso de trabalho ou boicote dos especialistas?).
Em suma, “Batem à Porta” é um bom suspense, mas parece um desses trabalhos que o diretor precisa demonstrar sempre alguma coisa para o público, e não uma sequência de trabalho que mostraria maturidade de alguém que já tem anos de estrada no cinema, mas comete ainda os mesmos erros de outrora. O que falta (ou faltou) para Shyamalan dominar o gênero totalmente? Talento não é… Fica o questionamento.