Notícias

No fim das contas, o filme nem importa mais...

A Marvel se meteu em uma “sinuca de bico” com seu atual status de produtora de cinema, indo de bilhões em bilheteria até o fracasso das produções recentes, seja com a redução significativa das bilheterias, seja com as críticas. E “As Marvels” (2023) veio sacramentar a má fase da empresa, não por seus defeitos e qualidades, mas pelo próprio contexto em que o filme de Nia DaCosta está inserido neste momento.

Antes de entrar no filme em si, é preciso entender que a editora/produtora tem um problema nas mãos após “Vingadores Ultimato”, não conseguindo organizar sua própria mitologia e nem dar passos importantes para a prometida próxima grande saga. Isso porque as produções carecem de criatividade, bons roteiros ou interesse do público, que parece se esvair em desinteresse (à exceção de “Guardiões da Galáxia 3”).

Então, o fato de não conseguir mais criar expectativa para suas próximas histórias é um problema, já que a Marvel também precisa atrair os jovens e antigos leitores de volta para os cinemas. E tem ainda o streaming da Disney no caminho, que administra a janela de lançamentos pós-cinema e também controla as séries inseridas no tal MCU, que trazem elementos que são apresentados aqui e não explicados no cinema, deixando os espectadores menos engajados perdidos com tantas informações.

E “As Marvels”, definitivamente não deve mudar esse panorama nada amistoso para Kevin Feige e cia. Para apreciar o novo capítulo do MCU, é preciso seguir um manual anterior que inclui as séries “Wandavision” e “Ms. Marvel”, quando as obras deveriam funcionar de maneira independente, provocando uma fuga de interesse de quem assiste.

E tem um bode na sala que poucos querem trazer às discussões: os “fanboys nerds de ultradireita incels”, que não aceitam diversidade e despejaram todo o ódio na internet contra a história de três mulheres, incluindo uma agente negra e uma jovem muçulmana. Há uma campanha deliberada de fracasso, para exultação e legitimação dos interesses deles, anti-lacração, sabe-se lá que diabo seja isso.

Então, a empresa vai se render a essa turma ruim e fazer igual Star Wars, destruindo a própria construção mitológica para agradar o conservadorismo? Ou pretende continuar o trabalho de diversidade dos quadrinhos, em um processo que se iniciou nos anos 2000? São questões, afinal X-Men está vindo aí, com histórias cheias de camadas sobre intolerância e preconceito, a que muitos preferem tapar os olhos.

Mas e as Marvels? É divertido, quase inofensivo, como outros da empresa. Tem boas cenas de ação, efeitos especiais bem feitos e a dinâmica entre as três heroínas funciona. Mas infelizmente, o roteiro é fraco, a vilã excessivamente caricata e conta com uma montagem desastrosa. Pelo menos as cenas pós-créditos já demonstram uma certa mudança de rumo para o movimento cinematográfico dos quadrinhos. Mas nessa altura do campeonato, quem se importa com o filme, né?

Trio de protagonistas funciona, mas não salva “As Marvels” do fracasso.
FOTO: divulgação