Durante discurso em uma das principais conferências pró-Israel dos EUA, Donald Trump afirmou que, caso perca a eleição, eleitores judeus terão muito a ver com isso.
Trump reclamou que seu apoio entre esse eleitorado subiu apenas de 24% para 29% entre 2016 e 2020, apesar de ele se considerar “o melhor presidente para Israel e para o povo judeu, de longe”.
O republicano elencou uma série de medidas que adotou em seu governo, como o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel, sob forte aplauso do público, que ficou em pé ao vê-lo no palco. O clima, porém, mudou quando o empresário começou a citar as estatísticas.
Apesar do estranhamento palpável diante do rumo do discurso, Trump prosseguiu, dizendo que “o povo judeu não tem desculpa” e que “não se tratou bem” por não terem votado em massa nele na disputa contra Joe Biden.
“O que me deixa mais chateado é que as pesquisas atuais mostram que estou com 40%. Isso significa que 60% vão votar em Kamala [Harris] ou em um democrata. Honestamente, vocês precisam ter a cabeça examinada. Esses votos podem ser necessários para nós vencermos”, completou.
Não é a primeira vez que Trump alude à ideia de que judeus são desleais um comentário tipicamente antissemita. Apesar disso, um advogado de New Jersey que participava do evento disse à Folha que gostou do discurso. Ele minimizou as reclamações do ex-presidente sobre a falta de votos. “É só o Trump sendo Trump”, disse.
O republicano participou da abertura da conferência anual do Conselho Americano-Israelense (IAC, na sigla em inglês), uma organização comandada por Elan Carr, enviado especial para combate ao antissemitismo durante o governo do empresário.
Trump também disse no evento que Israel “vai acabar em dois anos” se Kamala for eleita. “Israel não vai encarar apenas ataques como o do 7 de outubro, mas aniquilação total. Vocês têm um grande protetor em mim, não no outro lado”, disse, sob aplausos.
Ainda no campo das ameaças, o empresário disse que não têm dúvidas de que o Irã conseguirá armas nucleares caso os democratas continuem na Casa Branca.
O republicano prometeu ainda reinstaurar a proibição de entrada nos EUA de cidadãos de países predominantemente muçulmanos.
Judeus são cerca de 2% da população americana e, politicamente, tendem a votar em democratas. Uma pesquisa feita em abril a pedido do Instituto do Eleitorado Judeu mostrou que o então candidato do partido, Joe Biden, tinha 67% de apoio, contra 26% de Trump.
Apesar de pequeno, o grupo é relevante na Pensilvânia, estado que caminha para ser o principal palco de batalha da eleição neste ano. Cerca de 3% do eleitorado, ou 300 mil votos, é judeu, de acordo com o Projeto da População Americano-Judaica na Universidade Brandeis.
Em 2020, Biden venceu o estado por uma diferença de menos de 81 mil votos.
Trump prometeu nesta quinta que, se eleito, vai garantir o que chamou de “direito de Israel de vencer sua guerra ao terror”, criticando Kamala por defender um cessar-fogo. Ele acusou a oponente de querer adotar um embargo total da venda de armas para Israel e disse que ela será pior para o aliado no Oriente Médio “do que Barack Hussein Obama”, enfatizando o nome do meio do ex-presidente.
FERNANDA PERRIN/WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)