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Trump agora quer esvaziar o G20 de pautas sociais e ambientais

EUA anunciam “volta às origens” e prometem reduzir debates sobre clima, inclusão social e paz quando assumirem presidência do bloco em 2026

O governo do presidente Donald Trump está decidido a esvaziar o G20 quando assumir a presidência do grupo em 2026
O governo do presidente Donald Trump está decidido a esvaziar o G20 quando assumir a presidência do grupo em 2026

O governo do presidente Donald Trump está decidido a esvaziar o G20 quando assumir a presidência do grupo em 2026. Durante reunião de autoridades do bloco nesta quinta-feira, 25 de setembro, às margens da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, a representante americana Allison Hooker deixou claro que Washington pretende retirar da agenda todos os temas considerados “secundários”, especialmente os ligados à justiça social, proteção ambiental e garantia da paz.

Segundo Hooker, o G20 “precisa voltar às suas origens”, quando era um fórum limitado a ministros da Fazenda, criado em 1999 para discutir crises financeiras internacionais. “A agenda do G20 se expandiu para áreas muito além de seu limite original. Em vez de se concentrar nas questões econômicas globais urgentes, o G20 passou a debater todas as questões políticas controversas do momento”, criticou.

A representante americana detalhou a estratégia do mandatário republicano. “Primeiro, vamos reorientar o G20 para sua missão econômica central. Não passaremos horas debatendo questões de gênero ou vigilância de pandemias. Segundo, vamos simplificar os processos do G20, reduzir o número de grupos de trabalho e aprimorar nossas linhas de ação. Terceiro, vamos nos concentrar em resultados. Palavras vazias não resolvem guerras, nem colocam comida na mesa das pessoas”, anunciou.

A mensagem foi clara: enfraquecer o G20 faz parte da política isolacionista americana, baseada no lema “America First”. Isso contrasta com os avanços recentes do bloco, que se consolidou como um dos espaços mais importantes para enfrentar crises globais que extrapolam a economia, como clima, fome e desigualdade.

Nos últimos anos, o Brasil teve papel de destaque ao assumir a presidência do G20 em 2024, promovendo a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a primeira Cúpula Social do G20, dedicada a inclusão e igualdade. Também houve avanços na reforma de bancos multilaterais para ampliar crédito a países do sul global. Este ano, a África do Sul ocupa a presidência temporária, mantendo a pauta social e ambiental ativa.

Líderes de outros países, como o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, reagiram à intenção americana. “Sem paz, não pode haver desenvolvimento sustentável”, afirmou, destacando que mais de 85% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão fora do caminho e que retrocessos no combate à fome, pobreza extrema e desigualdade exigem atenção coletiva.

O G20, que ganhou relevância até acima da própria ONU em certos temas, corre risco de ser reduzido a um espaço técnico limitado a finanças e crescimento. A história mostra que a administração Trump não hesita em adotar medidas isolacionistas: os EUA já saíram do Acordo de Paris, reduziram contribuições a agências da ONU, abandonaram a Unesco e bloquearam iniciativas na Organização Mundial do Comércio.

Enquanto líderes globais buscam coordenação multilateral para problemas que não respeitam fronteiras — mudanças climáticas, crises de saúde, pobreza e conflitos — a lógica americana tenta restringir o fórum a planilhas e metas financeiras. Se o G20 aceitar esse recuo, não será apenas uma derrota diplomática, mas um retrocesso prático para quem depende de liderança global efetiva.