Ao menos 70 pessoas morreram na região da Valência, no leste da Espanha, após uma forte inundação provocada pela pior chuva do século na região. Há dezenas de desaparecidos, milhares de desabrigados e pessoas presas em carros e edificações, segundo as autoridades.
Carlos Mazón, presidente da Comunidade Valenciana, a entidade governamental local, confirmou de madrugada ao jornal El País que as equipes de socorro estavam encontrando “corpos sem vida”. A contagem de mortos saltou de 13 para 51 em questão de horas e galgou durante o dia para 70 após a intensificação dos serviços de busca. “Estamos todos em choque.”
Um fenômeno chamado gota fria, uma tempestade com ventos fortes, granizo e trovoadas, característica do outono, era aguardada pelos meteorologistas, mas não na intensidade registrada, a maior deste século, com mais de 300 mm de chuva em cerca de 12 horas. Em depoimento ao El País, uma mulher descreveu pedras de granizo “do tamanho de bolas de golfe”.
De acordo com o Aemet, o serviço de meteorologia espanhol, as chuvas em Valência chegaram a superar 300 l/m2. Em Chiva, uma das localidades mais afetadas, a marca chegou a 491 l/m2. Choveu em oito horas o esperado para um ano inteiro, de acordo com publicação do Aemet no X.
Eventos climáticos extremos estão ocorrendo em todo o planeta em maior intensidade e frequência, afirmam cientistas, devido ao aquecimento global. Na Europa, nas últimas semanas, o estrago havia sido na França, assolada por fortes chuvas. Em setembro, países da Europa Central registraram mais de uma dezena de vítimas em seguidas inundações.
A chuva continua nesta quarta-feira (30), em menor intensidade, mas ainda provocando inundações em Albacete, Granada e por quase toda Andaluzia, região mais ao sul, de grande apelo turístico.
A tempestade, também chamada de Dana (depressão isolada em níveis altos, na sigla em espanhol), começou no início da noite de terça-feira (29), deixando milhares presos em escritórios e centros comerciais, sem condições de voltar para casa. Várias estradas ficaram bloqueadas pelas inundações. Bombeiros e equipes de resgate não conseguiam chegar aos locais mais afetados.
Mais de mil homens destacados
Mais de mil homens da Forças Armadas foram despachados para a região. “É um fenômeno sem precedentes”, declarou a ministra da Defesa, Margarita Robles. Boatos e desinformação também preocupam. Segundo a imprensa espanhola, rumores sobre o rompimento de uma represa e alertas falsos de tsunami prejudicaram os trabalhos de resgate.
Imagens de redes sociais mostram ruas e avenidas tomadas de água, carros boiando e ventanias com proporção de tornado. Nesta manhã, ruas de Valência acumulam lama, lixo e dezenas de veículos virados.
Muitas estradas continuam bloqueadas, e as linhas de trem voltam a circular de maneira irregular. O trem-bala entre Valência e Madri está com viagens suspensas; em outra linha do sistema, em Málaga, chegou a ocorrer um descarrilamento, sem consequências. O corte de energia afeta 155 mil residências, assim como há zonas sem sinal de celular ou internet.
O Congresso paralisou sessão de controle do governo federal para concentrar esforços no atendimento da população afetada e fez um minuto de silêncio. O primeiro-ministro, que decretou três dias luto no país, pediu para a população seguir as orientações das autoridades. “Tomem cuidado e evitem deslocamentos desnecessários”, escreveu no X.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prestou solidariedade à Espanha e afirmou que acionou o sistema de emergência do Copernicus, o serviço europeu de monitoramento por satélites. O aparato fornece imagens e dados atualizados das regiões afetadas às equipes de emergência.
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE/BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)