CIÊNCIA

Nasa reprograma Artemis 2 para levar humanos ao redor da Lua em 2026

Descubra as últimas novidades sobre a missão Artemis 2 da Nasa e seus planos para a exploração lunar tripulada.

astronautas que irão compor a tripulação da Artemis 2: Jeremy Hansen, Victor Glover, Reid Wiseman e Christina Koch. Foto: Divulgação
astronautas que irão compor a tripulação da Artemis 2: Jeremy Hansen, Victor Glover, Reid Wiseman e Christina Koch. Foto: Divulgação

A Nasa anunciou nesta quinta-feira (5) que seguirá com a condução da missão Artemis 2 sem precisar trocar o escudo térmico da cápsula Orion, que apresentou desgaste inesperado no primeiro teste. Mas a previsão mudou para abril de 2026, um pequeno atraso com relação ao plano original, que mirava um lançamento no fim de 2025.

Em uma entrevista coletiva, Bill Nelson, administrador da agência espacial americana, disse que a recomendação foi unânime para prosseguir com o voo, como planejado, incluindo uma alteração na trajetória de reentrada para preservar o escudo térmico. Será a primeira viagem de humanos além da órbita da Terra desde a missão Apollo 17, em 1972.

O ajuste do cronograma também empurra a missão Artemis 3, que pretende fazer o primeiro pouso lunar tripulado do século 21, para maio de 2027. Originalmente, o voo deveria acontecer até o fim de 2026.

A apresentação provavelmente foi a mais contundente ao enfatizar que há uma nova corrida para a Lua. Bill Nelson enfatizou que, mesmo com o cronograma reajustado, a primeira missão de alunissagem tripulada do programa Artemis está “bem à frente dos chineses, que têm uma meta de declarada de 2030”.

DECISÃO

De acordo com o administrador da Nasa, a decisão de seguir com a Artemis 2 no estado em que está foi tomada de forma definitiva na manhã desta quinta, após a apresentação do relatório final da investigação do desempenho do escudo térmico na missão Artemis 1.
Em seu retorno não tripulado da Lua, em dezembro de 2022, a estrutura de proteção contra o calor da reentrada da cápsula Orion exibiu um desgaste acima do esperado, com várias rachaduras e perda de material, a despeito do bom desempenho protegendo o interior da espaçonave.

O desafio da agência passou a ser compreender o fenômeno e se assegurar de que o escudo térmico da próxima cápsula Orion, destinada para a missão Artemis 2, poderia proteger adequadamente os astronautas.

Pam Melroy, vice-administradora da Nasa, deu detalhes do que teria acontecido, indicando que a perda de material aconteceu durante uma manobra em que a cápsula chega a entrar na atmosfera, mas “quica” e volta a sair, para depois entrar novamente, com isso perdendo velocidade.

“Determinamos que quando a cápsula estava fazendo essa manobra, calor se acumulou na camada externa, produzindo gases que ficaram presos no escudo térmico, causando rachaduras”, disse. “Entendemos a questão, e só depois disso criamos um plano para prosseguir.”

A opção adotada foi manter a cápsula da Artemis 2 como está, sem troca do escudo térmico (o que exigiria muito mais tempo de espera, até a fabricação do novo escudo e sua substituição, exigindo dar vários passos para trás na integração da espaçonave), e em vez disso alterar o plano de retorno para tornar o processo de reentrada menos exigente.
Isso permitiu um atraso apenas modesto no cronograma, empurrando de setembro de 2025 para abril de 2026, motivado em parte também pela necessidade de testes do sistema de suporte de vida da nave, conhecido pela sigla ECLSS.

FUTURO DO ARTEMIS

A grande dúvida que paira sobre o programa, contudo, é o potencial impacto da mudança de governo nos EUA. Nelson foi perguntado a respeito disso na entrevista coletiva e destacou que as decisões que tomaram mantêm a missão Artemis 2 na trilha para um lançamento “em um tempo adequado”, motivo pelo qual acredita que o cronograma será mantido mesmo com a troca de comando na agência.

O presidente eleito Donald Trump anunciou na quarta-feira (4) que Jared Isaacman, bilionário que realizou dois voos espaciais privados com a SpaceX, será o próximo administrador da agência. Nelson disse que telefonou para Isaacman e já o convidou para vir à Nasa, mas não teve tempo ainda de compartilhar as decisões sobre o Artemis, tomadas imediatamente antes da entrevista desta quinta-feira.

Nos bastidores, há discussões sobre o futuro do sistema SLS-Orion, que só pode ser lançado uma vez a cada dois anos a um custo de US$ 4 bilhões, e até o momento é peça essencial para as missões lunares tripuladas. Transições de governo costumam vir acompanhadas por ajustes em programas, que por sua vez costumam gerar atrasos.

Não é por acaso que Nelson quis mencionar os chineses na entrevista coletiva, inclusive citando o interesse nos recursos disponíveis no polo sul lunar, em particular água. Uma mudança muito radical nos planos da Nasa pode impedir a agência de ser a primeira a levar astronautas à Lua no século 21.