O presidente da Argentina, Javier Milei, transformou o lançamento de seu livro, intitulado “La Construcción del Milagro”, em um verdadeiro espetáculo de rock na noite de segunda-feira, 6 de outubro de 2025, em Buenos Aires. Vestido de preto e com imagens de bombardeios projetadas no palco, Milei não apenas apresentou seu livro, mas também cantou músicas do gênero rock, além de uma canção folclórica judaica, em um evento que atraiu quase 15 mil pessoas na Movistar Arena.
O livro, que discute o que Milei considera ser o “milagre” econômico da Argentina, surge em um momento crítico, já que o país solicitou ajuda financeira aos Estados Unidos apenas duas semanas antes do lançamento. Durante a apresentação, Milei iniciou sua performance com a música “Panic Show”, da banda La Renga, e “Demoliendo Hoteles”, de Charly García. Ele também apresentou sua banda, a Banda Presidencial, composta por deputados aliados.
Um show político e musical
Após cantar cerca de dez canções, Milei aproveitou a oportunidade para repudiar um ataque antissemita ocorrido em Buenos Aires, afirmando: “Não vamos permitir esta xenofobia que a esquerda está tentando instalar”. Em seguida, ele entoou a canção folclórica “Hava Nagila”, que foi acompanhada timidamente pelo público. O presidente também provocou os presentes ao cantar “Cristina Tobillera”, uma referência à prisão domiciliar da ex-presidente Cristina Kirchner, sua arqui-inimiga.
Os quase 15 mil espectadores aplaudiram quando imagens do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do ativista conservador Charlie Kirk, assassinado no mês anterior, foram projetadas. O evento pareceu buscar reviver a imagem de Milei como economista e astro do rock, uma estratégia que ele utilizou durante sua campanha presidencial em 2023.
Contexto político e econômico
O livro de 573 páginas compila discursos e publicações de Milei, a maioria datada do ano passado, e é lançado em um dos piores momentos de seu governo ultraliberal. O presidente enfrenta uma crise política, acentuada pela renúncia de um de seus principais candidatos para as eleições legislativas de 26 de outubro, que foi acusado de ter laços com o narcotráfico. Essa situação gera incertezas sobre a governabilidade do país.
Durante o evento, milhares de militantes libertários se reuniram nas imediações da Movistar Arena, expressando apoio a Milei. Leonardo Saade, um trabalhador do setor de turismo de 37 anos, comentou: “Temos que decidir se acabamos com a decadência de 100 anos”. Por outro lado, manifestantes contrários ao presidente protestaram em frente ao local, exibindo cartazes com a frase “Fora Milei”. Apesar de um princípio de confusão entre os grupos, não houve incidentes significativos.
Reações e críticas
A popularidade do governo Milei vem caindo, e a tensão com o Congresso aumentou após a derrubada de dois vetos presidenciais relacionados ao financiamento de universidades e à saúde pediátrica. Essa derrota gerou dúvidas sobre a capacidade de governabilidade e provocou uma corrida cambial, que foi contida após promessas de ajuda dos Estados Unidos.
Um dos economistas próximos a Milei, que também integra a Banda Presidencial, o baterista Bertie Benegas Lynch, escreveu no prólogo do livro que o presidente “provou que apenas o interesse pessoal e o individualismo fazem florescer a paz e a prosperidade”. Contudo, a realidade nas ruas contrasta com essa visão otimista. Um cartaz próximo à Movistar Arena dizia: “Milei, é um milagre que alguém venha comprar alguma coisa”.