TRAGÉDIA

Mianmar intensifica esforço de resgate após terremoto com mais de 1.600 mortes

O tremor foi um dos maiores a atingir a nação no último século, deixando 1.644 mortos, segundo o último balanço das autoridades.

O tremor foi um dos maiores a atingir a nação no último século, deixando 1.644 mortos, segundo o último balanço das autoridades.
O tremor foi um dos maiores a atingir a nação no último século, deixando 1.644 mortos, segundo o último balanço das autoridades.

Para ajudar nas buscas por sobreviventes do terremoto de magnitude 7,7 que atingiu Mianmar na sexta-feira (28), a junta militar que governa o país no Sudeste Asiático permitiu a entrada de socorristas estrangeiros neste sábado (29). O tremor foi um dos maiores a atingir a nação no último século, deixando 1.644 mortos, segundo o último balanço das autoridades.

O Serviço Geológico dos Estados Unidos estima que o número de vítimas em Mianmar pode passar de 10 mil. O órgão também afirma que o custo financeiro desta catástrofe pode ser de dezenas de bilhões de dólares.

Sem equipamentos e maquinários adequados para resgate, os sobreviventes do desastre em Mandalay, a segunda maior cidade do país e a mais atingida por ser próxima à região de Sagaing, o epicentro do abalo, cavam com as próprias mãos para tentar salvar pessoas que ainda estão presas sob os escombros.

Mianmarenses ouvidos pela agência de notícias Reuters afirmam que a resposta na cidade não tem sido suficiente diante da destruição provocada pelo terremoto. Os relatos são de que há ainda muitas pessoas presas, mas não há ajuda a caminho simplesmente porque não há mão de obra, equipamentos ou veículos.

Em Mandalay, Htet Min Oo, 25, foi resgatado por moradores debaixo de uma parede que prendia metade de seu corpo. Ele tentou salvar a avó e dois tios dos destroços de um prédio, mas não conseguiu mover os blocos de concreto. “Não sei se eles ainda estão vivos. Depois de tanto tempo, não acho que haja esperança. Há muitos escombros, e nenhuma equipe de resgate veio nos ajudar.”

Quando o tremor atingiu Mianmar, ele estava em uma mesquita e fazia as purificações que antecedem as orações feitas pelos muçulmanos, que desde o início de março celebram o mês sagrado do Ramadã. Partes da mesquita e da casa dele, que ficava ao lado, desabaram durante o abalo. A parede que atingiu Htet também prendeu suas duas tias, e apenas uma sobreviveu.

Mais de 50 mesquitas sofreram danos, segundo o Governo de Unidade Nacional da oposição de Mianmar, e centenas de muçulmanos estão entre os mortos. O terremoto aconteceu no momento em que estes fiéis se reuniam para as orações de sexta-feira.

Sem listar mesquitas no relatório de danos, a junta militar afirma que 670 mosteiros e 290 templos budistas, religião predominante no país, foram atingidos. Nos últimos anos, governos, grupos ultranacionalistas e monges extremistas têm incitado a violência e reprimido a minoria islâmica.

Mianmar está em crise política desde 2021, quando o Exército deu um golpe de Estado e depôs o governo civil eleito afirmando que havia fraude nas eleições. Agências humanitárias avaliam que o tremor ocorreu em um momento de alta vulnerabilidade para o país, que vive em contexto de violência generalizada e está com o sistema de saúde sobrecarregado por surtos de cólera e outras doenças.

“O estresse adicional de atender às necessidades daqueles que foram feridos no terremoto vai causar uma tensão sem precedentes em recursos já escassos”, disse Mohammed Riyas, diretor do Comitê Internacional de Resgate em Mianmar.

Em janeiro, a ONU diagnosticou em Mianmar uma crise múltipla, marcada por colapso econômico, conflito intensificado, riscos climáticos e pobreza crescente. Mais da metade do país não tem acesso à eletricidade, e hospitais em zonas de conflito não estão operando.

Na sexta-feira, o chefe da junta que governa Mianmar, Min Aung Hlaing, pediu que “qualquer país, qualquer organização” ajudassem nos esforços de socorro. Trata-se de um pedido raro, já que a administração militar é isolada e, em ocasiões anteriores, recusou suporte estrangeiro mesmo após grandes desastres naturais.

Em Rangoon, capital comercial do país, uma equipe de resgate chinesa desembarcou no aeroporto e viajará de ônibus até o interior, segundo a mídia estatal. Suprimentos de higiene, cobertores e alimentos enviados pela Índia também chegaram em uma aeronave militar, e espera-se aviões com ajuda da Rússia, da Malásia e de Singapura.

A Coreia do Sul disse que fornecerá uma ajuda humanitária inicial de US$ 2 milhões (cerca de R$ 11,5 milhões) por meio de organizações internacionais. O dirigente da China, Xi Jinping, afirmou que Pequim encaminhará o equivalente a US$ 13,77 milhões (R$ 79,4 milhões), incluindo tendas, cobertores e kits médicos de emergência. Os EUA, que têm uma relação tensa com a junta mianmarense, afirmaram que oferecerão alguma assistência.

A ONU alertou neste sábado que há uma grave escassez de suprimentos médicos, e ressaltou que os itens mais necessários são kits de trauma (para tratamento de ferimentos graves), bolsas de sangue, produtos anestésicos e alguns medicamentos essenciais.

Aeroportos (incluindo os internacionais de Naypyitaw e Mandalay), pontes e rodovias estão paralisados. Uma avaliação inicial do Governo de Unidade Nacional da oposição de Mianmar, que reúne remanescentes do governo civil deposto por militares no golpe de 2021, estima que pelo menos 2.900 edifícios, 30 estradas e sete pontes foram danificados pelo terremoto.

Os danos nas estradas dificultam o acesso a hospitais, e as instituições no centro e no noroeste do país lutam para lidar com a quantidade de pessoas feridas, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

Em Bancoc, na Tailândia, onde nove pessoas morreram, uma operação de resgate usa escavadeiras, drones e cães de busca para encontrar 47 desaparecidos no local em que uma torre de 33 andares que estava em construção desabou. Até 5.000 estruturas, incluindo prédios residenciais, podem ter sido danificadas na capital, segundo Anek Siripanichgorn, membro do conselho do Conselho de Engenheiros da Tailândia.

Khin Aung, operário mianmarense que trabalhava na obra tailandesa, conta que saiu do local minutos antes do desabamento. Mas o irmão dele, assim como muitos amigos, ainda está sob os escombros do arranha-céu, que seria destinado a escritórios do governo. Os dois trabalhavam em Bancoc há seis meses.

“Tudo aconteceu num piscar de olhos. Fiz uma videochamada para meu irmão e amigos, mas apenas um respondeu. Não consegui ver seu rosto e ouvia que ele estava correndo. Naquele momento, todo o edifício tremia, mas eu ainda estava na ligação com ele. A chamada caiu e o edifício desabou”, conta. Aguardando notícias, familiares dos trabalhadores se reuniram ao redor dos destroços neste sábado.