
A marca de luxo Prada anunciou nesta quinta-feira a compra da rival Versace por US$ 1,38 bilhão. O negócio foi acertado com o controlador da empresa, o grupo americano Capri (dono de Michael Kors e Jimmy Choo). Trata-se da maior aquisição dos 112 anos de história da maison italiana e a maior operação no mercado de luxo neste ano.
A união criará um grupo italiano de luxo com receitas de mais de US$ 6,6 bilhões, o que o tornará capaz de competir com gigantes do setor, como o grupo francês LVMH (de marcas como Louis Vuitton, Chistian Dior e Givenchy) e Kering (de Gucci e Balenciaga).
“Estamos muito felizes em receber a Versace no grupo Prada e construir um novo capítulo para uma marca com a qual compartilhamos um forte compromisso com a criatividade, o artesanato e o legado”, disse o presidente e CEO da Versace, Patrizio Bertelli, em um comunicado.
O CEO do Grupo Prada, Andrea Guerra, frisou que a aquisição é mais um passo para a evolução da empresa “trazendo uma nova dimensão, diferente e complementar”. A Versace tem um “enorme potencial”, acrescentou o executivo, acrescentando que haverá uma longa jornada de crescimento adiante.
Fundada em 1978 pelo designer Gianni Versace e seu irmão Santo, a Versace é um ícone da moda italiana, conhecida por seu estilo ostentoso.
A reviravolta causada pela política tarifária de Donald Trump na economia mundial também teve impacto na operação. Como revelou o Financial Times, a Prada conseguiu um desconto de US$ 200 milhões na compra da Versace em razão do impacto da guerra tarifária nos negócios da Versace.
As marcas premium e do segmento de luxo que ficam nos EUA tendem a ser mais impactadas pelas tarifas aplicadas por Donald Trump ao mercado asiático, por contarem com produção ou insumos daquela região.
A Capri, americana com sede em Nova York, até então era vista como concorrente dos grandes grupos de moda europeus, adquiriu a Versace em 2018 por US$ 2,04 bilhões em valores da época. A empresa teve agora que aceitar um corte acentuado no preço, em meio a um contexto macroeconômico instável devido à crise no setor de luxo e ao aumento das tarifas anunciado por Trump.
Os dois pontos sensíveis na negociação entre as empresas foram o preço, inicialmente a Capri queria mais de US$ 3 bilhões pela empresa e o futuro da diretora criativa da Versace, Donatella Versace. No mês passado, Donatella deixou o cargo após 30 anos à frente da direção criativa da grife e foi substituída por Dario Vitale, diretor de design da Miu Miu, uma das marcas do Grupo Prada.
A aquisição anunciada nesta quinta-feira vai na contramão de uma tendência de negócios no setor de luxo nos últimos anos, quando grandes nomes da moda italiana, como Gucci, Fendi e Bottega Veneta, passaram para as mãos de rivais franceses
O Grupo Prada está entre os poucos exemplos de crescimento no segmento de luxo em meio a uma baixa nesse mercado. Em 2024, a receita cresceu 17% sobre o ano anterior. A expansão veio em grande parte puxada pelo sucesso da Miu Miu, que viu suas vendas saltarem 93% no ano passado.
Do outro lado, a Capri relatou estimativas de uma queda do faturamento da Versace este ano de US$ 1 bilhão para US$ 810 milhões.
A compra da Versace pela Prada faz sentido do ponto de vista estratégico já que ambas passam por ciclos de moda, contam com múltiplas marcas e têm estéticas diferentes, o que pode ajudar a suavizar o impacto do aspecto cíclico de performance, escreveu a analista da Morningstar Jelena Sokolova em relatório citado pela Fortune.
– A Prada será capaz de ressuscitar uma marca que estava morrendo e dar a ela uma nova vida, uma nova luz – previu o consultor de design Antonio Bandini Conti.
De acordo com o Financial Times, a estética sofisticada da Prada e o estilo mais ostentoso, de exuberância barroca, da Versace são vistos no mercado como potencialmente complementares, mas alguns especialistas do setor consideram o relançamento da Versace uma tarefa complexa.
O entendimento para a compra da Versace foi selado no momento que o setor de luxo enfrenta um período difícil, com muitas empresas afetadas pelo freio nos gastos do consumidor. As tarifas devem representar um revés adicional ao afetar o sentimento do consumidor e puxar os preços para cima.
(AG)