O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu a Michel Barnier que permaneça no cargo após sua renúncia, nesta quinta-feira (5), até que um substituto seja nomeado. O primeiro-ministro pediu para sair um dia após parlamentares da ultradireita e da esquerda votarem para derrubar seu governo, aprofundando a crise política na segunda maior economia da zona do euro.
Barnier, um político veterano que se tornou premiê há apenas três meses, tornou-se o ocupante do cargo mais breve na história moderna francesa.
Ao entregar sua renúncia, Barnier conversou com Macron por mais de uma hora. O presidente francês fará um pronunciamento às 16h de Brasília (20h, horário local), confirmou o Palácio do Eliseu nesta quinta.
No dia anterior, após o Parlamento votar para derrubar seu governo, Barnier destacou a gravidade da situação econômica do país em um discurso com tom de despedida.
Entre os vários nomes especulados para substituí-lo estão François Bayrou, veterano centrista e próximo a Macron; Sébastien Lecornu, atual ministro do Exército, também fiel ao presidente; e Bernard Cazeneuve, ex-premiê da esquerda moderada. O presidente também pode pedir ao próprio Barnier que forme um novo gabinete.
Estava previsto que Bayrou se encontrasse com Macron no palácio do Eliseu ainda nesta quinta, relataram o jornal Le Parisien e a rádio RTL.
Embora a rejeição do Parlamento não afete diretamente Macron, cujo mandato termina em 2027, ela o enfraquece ainda mais, especialmente após ele ter decidido nomear Barnier, 73, como primeiro-ministro em setembro “em nome da estabilidade”. A oposição pede que ele também renuncie.
A queda de Barnier foi provocada por seu orçamento para 2025, que incluía medidas de austeridade consideradas inaceitáveis para a maioria legislativa, mas que ele considerava indispensáveis para estabilizar as finanças francesas.
O partido da líder da ultradireita, Marine Le Pen, a Reunião Nacional (RN), exigiu uma série de mudanças no orçamento, como a anulação de um aumento na conta de luz, para votar a favor. O governo aceitou algumas, mas não todas.
Macron tenta conter a crise política e financeira na França. O fim do breve governo de Barnier acontece após as eleições antecipadas de julho, que resultaram em uma
Assembleia Nacional sem maiorias claras e dividida em três blocos irreconciliáveis (esquerda, centro-direita e extrema direita).
A moção de censura interrompeu todo o plano financeiro do governo e levou à renovação automática do atual orçamento para o próximo ano, a menos que o governo consiga aprovar rapidamente uma nova proposta, o que parece pouco provável.
“A França possivelmente não terá um orçamento para 2025”, escreveu a ING Economics em uma nota, que prevê o início de “uma nova era de instabilidade política”.
A agência de classificação financeira Moody’s advertiu que a queda de Barnier “aprofunda a estagnação política” e “reduz a possibilidade de consolidar as finanças públicas”.
A Bolsa de Paris operava em queda nesta quinta e o rendimento dos títulos do governo francês voltou a enfrentar pressões de alta no mercado da dívida.
A presidente da Assembleia Nacional, Yael Braun-Pivet, fez um apelo a Macron para não perder tempo escolhendo um novo primeiro-ministro.
Não há indícios de quanto tempo o presidente levará para nomear o sucessor de Barnier ou qual será sua orientação política.
A votação que provocou a queda de Barnier foi a primeira moção de censura bem-sucedida desde que o governo de Georges Pompidou foi derrotado em 1962, durante a presidência de Charles de Gaulle.
Macron retornou a Paris pouco antes da votação, após uma visita de Estado de três dias à Arábia Saudita.
O clima de incerteza na França acontece antes da reabertura, no sábado (7), da catedral de Notre-Dame, restaurada após o incêndio de 2019.
Entre os convidados internacionais para o evento está o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.