O ELEITO

Macron escolhe centrista como primeiro-ministro, o quarto de seu mandato

Conheça François Bayrou, o novo primeiro-ministro escolhido por Emmanuel Macron para liderar o governo francês.

Emmanuel Macron escolheu um centrista para tentar amainar a crise política francesa. Nesta sexta-feira (13), em Paris, anunciou François Bayrou para suceder Michel Barnier, o mais breve premiê desde 1958, que durou apenas 90 dias no cargo.
Emmanuel Macron escolheu um centrista para tentar amainar a crise política francesa. Nesta sexta-feira (13), em Paris, anunciou François Bayrou para suceder Michel Barnier, o mais breve premiê desde 1958, que durou apenas 90 dias no cargo.

Emmanuel Macron escolheu um centrista para tentar amainar a crise política francesa. Nesta sexta-feira (13), em Paris, anunciou François Bayrou para suceder Michel Barnier, o mais breve premiê desde 1958, que durou apenas 90 dias no cargo.

O nome do quarto primeiro-ministro deste governo Macron foi divulgado após algumas horas de suspense. Bayrou, 73, compareceu ao Palácio do Eliseu no começo da manhã. Veterano da política, já era um dos cotados nos últimos dias para a complexa missão de tocar o governo em meio a uma Assembleia Nacional polarizada.
Segundo a imprensa francesa, porém, Macron havia telefonado para Bayrou para informá-lo de que ele não seria nomeado primeiro-ministro. O político então seguiu para o Eliseu, onde a conversa teria ficado tensa, na descrição de interlocutores, quando o presidente lhe ofereceu o posto de número 2 do próximo governo. De acordo com o Le Monde, o escolhido seria Roland Lescure, macronista histórico.

Segundo os relatos, Bayrou não só recusou a oferta como ameaçou deixar a coalizão de governo. Ele é líder do MoDem (Movimento Democrático) e aliado de primeira hora do presidente. Macron recuou.

O novo primeiro-ministro terá a tarefa de conversar com todos os partidos políticos, excluindo a Reunião Nacional e A França Insubmissa, os extremos à direita e à esquerda, a fim de encontrar estabilidade, disseram assessores de Macron à AFP.

“O bom é que, quando você traça um caminho e sabe para onde está indo, não há um minuto perdido, não há um minuto desagradável. Então, é um longo caminho, todo mundo sabe disso. Eu não sou o primeiro a fazer um longo caminho”, afirmou Bayrou, em sua primeira declaração como primeiro-ministro.

“Todos estão dizendo que precisamos encontrar uma maneira de unir as pessoas em vez de dividi-las. Acho que a reconciliação é necessária”, disse, lembrando da figura de Henrique 4º (1553-1610). Bayrou tem vários livros publicados, e a biografia “Henrique 4º, o Rei Livre” é uma de suas obras mais populares.

Nos últimos dias, Macron tentou costurar um pacto de não censura à sua indicação, principalmente com siglas da esquerda. Na quarta-feira (11), o primeiro-secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, rejeitou publicamente a opção de Bayrou, pedindo um primeiro-ministro de seu espectro político.
Nesta sexta (13), a sigla afirmou antes mesmo da confirmação do centrista que apresentará uma moção de censura contra Bayrou. Marine Tondelier, secretária-geral dos Ecologistas, deu seu diagnóstico sobre a escolha do presidente à TV francesa: “Quanto mais Emmanuel Macron perde terreno eleitoralmente, mais ele se agarra às pessoas muito próximas a ele que encarnam o macronismo mais leal”.

Talvez por isso Bayrou, em uma de suas primeiras falas, tenha se lembrado justamente de um socialista, François Mitterrand, o primeiro a se tornar presidente da França, em 1981. “Na noite em que foi eleito, sua primeira palavra, quando lhe trouxeram os resultados, foi: ‘Enfim começam os problemas’.”
Também eram cotados para o cargo Bernard Cazeneuve, o último primeiro-ministro do presidente François Hollande, de dezembro de 2016 a maio de 2017, e Sébastien Lecornu, senador e ministro dos Exércitos (o equivalente a ministro da Defesa), um dos nomes mais fiéis a Macron. Já Jean-Yves Le Drian, ex-ministro das Relações Exteriores, declarou à imprensa na Bretanha que chegou a ser sondado pelo presidente.

A nomeação encerra oito dias de governo demissionário neste mês de dezembro. No total, desde 9 de junho, quando Macron tomou a controversa decisão de dissolver a Assembleia após a ascensão da direita nas eleições parlamentares europeias, foram 75 dias de governo perdidos, algo sem precedente na história da Quarta e Quinta Repúblicas.

Nesses períodos, a administração pública funcionou de forma precária, com obras paralisadas e pagamentos adiados. O planejamento do orçamento de 2025 —que Barnier tentou aprovar contornando o Congresso, em uma manobra constitucional que provocou uma moção de desconfiança e o fim do seu governo— foi prejudicado pela falta de
decisões anteriores.

No último verão europeu, a França recebeu os Jogos Olímpicos em Paris com um gabinete demissionário.
A opção de Barnier pelo “49.3”, como é chamada a manobra, era inevitável porque o então premiê não conseguiu convencer a líder da ultradireita, Marine Le Pen, a apoiar
o projeto, que previa economia de € 18 bilhões (cerca de R$ 115 bilhões). Além da instabilidade política, há uma crise fiscal no país. Os títulos da dívida francesa encontram-se em patamar semelhante aos da Grécia, algo antes impensável para a segunda economia da Europa.
“Minha linha de conduta será não esconder nada, não negligenciar nada e não deixar nada de lado”, afirmou Bayrou no discurso de posse. “Acho que temos o dever, em um momento tão grave para o país, para a Europa e diante de todos os riscos do planeta, de enfrentar de olhos abertos, sem timidez, a situação herdada de décadas inteiras”, disse.

Após a indicação, Le Pen pediu a Bayrou “que faça o que seu antecessor não quis fazer: ouvir e escutar as oposições para construir um orçamento razoável e ponderado”. “Qualquer outra política que seja apenas a continuação do macronismo, rejeitado duas vezes nas urnas, só levará ao impasse e ao fracasso”, escreveu a presidente da Reunião Nacional no X.

O líder conservador Laurent Wauquiez seguiu linha parecida, declarando aguardar o projeto do novo primeiro-ministro. “Sempre dissemos que não iríamos bloquear. O que importa é o plano de ação”, afirmou o líder dos Republicanos.
Prefeito de Pau (pronuncia-se “pô”), Bayrou é um centrista em um país polarizado entre esquerda e direita. Nunca foi considerado um pretendente viável nas três vezes em que tentou ser presidente, apesar de um honroso terceiro lugar em 2007, com 18,6% dos votos. Com a ascensão de Macron ao poder, assumiu o papel de conselheiro próximo do jovem presidente. Foi ainda ministro da Educação de 1993 a 1997, em gabinetes de direita.
“A principal corrente da vida política está no centro. Esse é o movimento que os franceses estão esperando”, afirmou ele em meados de outubro, em conversa com jornalistas.

Macron havia prometido o anúncio na terça-feira (10), quando convidou líderes partidários para conversas no Eliseu. A eles o presidente disse que queria nomear um primeiro-ministro em 48 horas. O prazo expirou na quinta-feira, mas foi então estendido para a manhã desta sexta. “É para hoje ou amanhã?”, provocou a emissora BFM-TV.
Segundo alguns dos participantes, Macron pregou a ideia de um “governo de interesse geral”. A antecipação das eleições em junho, em um equívoco do presidente, segundo seus críticos, deixou a Assembleia Nacional sem uma maioria clara e dividida em três blocos: esquerda, centro-direita e ultradireita.

PREMIÊS DO GOVERNO MACRON

  • François Bayrou (13.dez.24 – presente)
  • Movimento Democrático
  • Michel Barnier (5.set.24 – 13.dez.24)
  • Republicanos
  • Gabriel Attal (9.jan.24 – 5.set.24)
  • Renascimento
  • Élisabeth Borne (16.mai.22 – 8.jan.24)
  • Renascimento
  • Jean Castex (3.jul.20 – 16.mai.22)
  • Independente
  • Édouard Philippe (15.mai.17 – 3.jul.20)
  • Republicanos e Independente

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE/BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)