Durante visita oficial à Casa Branca, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni adotou uma estratégia de aproximação cuidadosamente orquestrada com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na tentativa de mitigar os efeitos da guerra comercial iniciada por ele com tarifas punitivas.
Meloni e Trump trocaram elogios públicos e demonstraram sintonia política em diversos temas — da crítica à “cultura woke” à repressão à migração ilegal — como forma de reforçar o vínculo bilateral.
Trump afirmou que Meloni realiza “um trabalho fantástico” e chegou a classificá-la como “uma amiga” especial.
Trump passou vários minutos agradecendo nominalmente as autoridades presentes na ocasião. Quando chegou na vez de Meloni, o presidente afirmou: “Itália. Temos uma mulher, uma jovem mulher que é… eu não posso falar, porque geralmente é o fim da sua carreira política, mas ela é uma linda jovem mulher”.
A primeira-ministra apenas sorriu e agradeceu ao americano. Ele também afirmou que a italiana é “bem-sucedida” e muito respeitada.
Entre charme e política comercial
Embora Meloni tenha utilizado o gesto simbólico da diplomacia pessoal para agradar Trump, a visita não produziu acordos concretos imediatos. No entanto, o clima amistoso ajuda a moldar expectativas favoráveis para negociações futuras entre Estados Unidos e União Europeia (UE).
Giorgia Meloni: da extrema-direita à liderança da Itália
Aos 48 anos, Giorgia Meloni fez história ao se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra da Itália, após vencer as eleições nacionais em 2022. Em pouco mais de uma década, levou seu partido, o Irmãos da Itália (Fratelli d’Italia), de um grupo marginal da extrema-direita ao centro do poder político no país.
Nascida em Roma, em 15 de janeiro de 1977, Giorgia cresceu em uma família de origens humildes. Seu pai, Francesco, de orientação política de esquerda, abandonou a família quando ela tinha apenas um ano de idade, mudando-se para as Ilhas Canárias. A mãe, Anna, era de direita — um contraste ideológico que, segundo especulações, pode ter influenciado a trajetória política da filha, vista por muitos como uma forma de afirmar-se em oposição ao pai ausente.
Criada no bairro operário de Garbatella, uma tradicional zona de influência da esquerda em Roma, Giorgia iniciou sua militância aos 15 anos, ao se juntar à Frente Juvenil, braço jovem do então partido neofascista MSI (Movimento Social Italiano). Posteriormente, tornou-se presidente da ala estudantil da Aliança Nacional, sucessora do MSI.
Em seu livro autobiográfico, Io sono Giorgia (“Eu sou Giorgia”, 2021), ela nega ser fascista, mas afirma carregar o legado político da direita italiana: “Peguei o bastão de uma história de 70 anos”, escreveu. A obra reforça sua identidade como mulher comum e nacionalista. “Sou Giorgia. Sou mulher, sou mãe, sou italiana, sou cristã”, declarou em um discurso viral em 2019 — frase que se tornou um de seus lemas mais conhecidos.
Durante a juventude, dividia-se entre a militância e trabalhos como babá e camareira. Em 1996, assumiu a liderança do sindicato estudantil Azione Studentesca, conhecido pelo uso de símbolos da ultradireita, como a Cruz Celta.
Em 2006, tornou-se jornalista licenciada, foi eleita deputada e nomeada vice-presidente da Câmara dos Representantes. Dois anos depois, entrou no governo de Silvio Berlusconi como ministra da Juventude, cargo que ocupou até 2011.
Fora da política, Meloni mantém uma vida pessoal discreta. É mãe de uma menina nascida em 2006 e vive com o pai da criança, um jornalista de televisão, embora não sejam casados oficialmente.