A japonesa ispace tentará na tarde desta quinta-feira (5), já madrugada de sexta-feira em Tóquio, tornar-se a primeira empresa não americana a realizar um pouso suave na Lua.
A alunissagem está prevista para as 16h24 (pelo horário de Brasília), na segunda tentativa da companhia de realizar tal manobra com um módulo de pouso Hakuto-R. A primeira foi lançada em 11 de dezembro de 2022, com tentativa de pouso conduzida em 26 de abril do ano seguinte. Uma falha na fase final da descida levou à perda de contato com o veículo.
Ainda assim, a empresa contabilizou 8 de 10 objetivos atingidos durante a missão e prometeu tentar de novo. A segunda missão é conduzida com uma réplica do primeiro Hakuto-R, com algumas atualizações para melhoria de performance. Batizado de Resilience, ele já cumpriu os mesmos oito objetivos de seu predecessor e deve pousar com uma massa de 340 kg na superfície lunar.
Ele passou pelas preparações de lançamento (objetivo 1), foi efetivamente lançado, por um foguete da empresa americana SpaceX, em 15 de janeiro (objetivo 2), iniciou operações independentes no espaço (3), realizou um sobrevoo da Lua e a primeira manobra de controle de órbita (objetivos 4 e 5), fez todas as manobras requeridas em sua longa trajetória de baixa energia, que chegou a levá-la a 1,1 milhão de quilômetros da Terra, para inserção orbital lunar (objetivo 6) e se estabeleceu numa órbita elíptica ao redor da Lua em 7 de maio (objetivo 7), ajustando-a para uma órbita circular de cerca de cem quilômetros de altitude em 28 de maio (objetivo 8). Agora, restam a sequência de pouso (9) e o início das operações em solo lunar (10).
“O Resilience está agora pronto para tentar um pouso histórico na Lua, carregando não só as cargas úteis de nossos clientes, mas também as esperanças de nossos funcionários, suas famílias, nossos parceiros e todos os nossos apoiadores”, disse em nota Takeshi Hakamada, fundador e CEO da ispace. “Aproveitamos a experiência operacional ganha na Missão 1 e durante esta atual viagem à Lua, e estamos confiantes em nossas preparações para o sucesso do pouso lunar.”
Missões Lunares Privadas e Falhas
As estatísticas colocam alguma sombra sobre esse cenário otimista. Considerando apenas missões privadas conduzidas à Lua, que começaram em 2019, tivemos duas falhas no pouso (a israelense Beresheet, da SpaceIL, de 2019, e a japonesa Missão 1 do Hakuto-R, da ispace, de 2022-23), uma falha antes do pouso (Peregrine, da americana Astrobotic), dois sucessos parciais (módulos americanos Odysseus, de 2024, e Athena, de 2025, pousaram na superfície, mas tombaram, e tiveram suas operações limitadas) e apenas um sucesso total (o americano Blue Ghost, da Firefly Aerospace, de 2025).
A tendência, claro, é que, a cada novo voo, o desempenho melhore, e os japoneses estão otimistas com essa nova tentativa. O Resilience deve tentar pousar no Mare Frigoris, no hemisfério norte lunar, e levar à superfície um pequeno rover (5 kg) chamado Tenacious, projetado e fabricado em Luxemburgo, para explorar os arredores do local de pouso.
Experimentos e Cargas Úteis
O módulo também leva experimentos e cargas úteis de diversas instituições, como a empresa japonesa Takasago Thermal Engineering, a Universidade Central Nacional de Taiwan, a americana Quantum Aerospace e a empresa de mídia Bandai Namco.
O Crescente Interesse Comercial na Lua
O interesse crescente pela Lua passa não só pela corrida que americanos e chineses agora travam pelos primeiros pousos tripulados do século 21, mas também pela exploração comercial do satélite. Estimuladas pelas agências espaciais, em particular a americana Nasa, empresas estão desenvolvendo seus módulos próprios para oferecer acesso barato à superfície lunar para experimentos científicos e outras atividades. O Japão pode se tornar o segundo país a ter um ente privado operando na superfície lunar.
*Texto de SALVADOR NOGUEIRA