As Sisters of the Valley, conhecidas como as “freiras da cannabis”, formam uma comunidade espiritual que há dez anos mistura fé, ativismo e medicina natural no Vale de San Joaquin, na Califórnia. O grupo acredita que a cura física e espiritual vem da relação direta com as plantas e se tornou um símbolo de resistência em meio à crise do mercado legal de maconha nos Estados Unidos.
A fundadora, Christine Meeusen, conhecida como Sister Kate, nasceu em Wisconsin, foi criada em uma família católica e trabalhou como consultora na Holanda antes de criar a comunidade. Inspirada pelas beguinas — mulheres que viviam em comunidades semi-monásticas durante a Idade Média —, ela decidiu unir espiritualidade e sustentabilidade.
A fazenda, administrada por cerca de dez mulheres, produz óleos, pomadas e extratos à base de CBD, substância terapêutica da cannabis. Apesar de seu nome, a comunidade não tem ligação com a Igreja Católica; suas crenças giram em torno do respeito à natureza, simplicidade e cura por meio das plantas. As integrantes seguem os ciclos da lua e realizam rituais silenciosos durante o cultivo, acreditando que o equilíbrio espiritual da terra se reflete nos medicamentos produzidos. “Trabalhamos em silêncio e com devoção, porque tudo é feito com respeito espiritual”, afirma Sister Kate.
O grupo chegou a faturar cerca de US$ 1,2 milhão antes da pandemia, mas viu a renda cair para US$ 350 mil em 2024, devido à queda do mercado de cannabis medicinal na Califórnia. Para sobreviver, decidiram ampliar a produção e iniciar parcerias com dispensários locais, incluindo variedades com maior teor de THC, componente psicoativo da planta.
A fama internacional veio com o filme “Uma Batalha Após a Outra”, dirigido por Paul Thomas Anderson e estrelado por Leonardo DiCaprio e Sean Penn. No longa, um grupo de mulheres isoladas nas colinas da Califórnia cultiva maconha e acolhe fugitivos, inspirado diretamente nas Sisters of the Valley. Quatro integrantes participaram das filmagens, realizadas em uma antiga missão espanhola.
Mesmo diante das dificuldades financeiras, Sister Kate afirma que o propósito do grupo permanece o mesmo. “O que fazemos é sobre cura, fé e propósito”, disse. “Continuaremos firmes, porque acreditamos que a espiritualidade e a medicina natural podem caminhar juntas.”