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EUA vão fazer pente-fino em pedidos de vistos para Harvard

O pente-fino pode afetar não apenas estudantes estrangeiros, alvo preferencial da cruzada de Donald Trump contra Harvard.

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O governo dos Estados Unidos vai realizar um pente-fino em todos os pedidos de vistos de pessoas que tenham o objetivo de visitar a Universidade Harvard “por qualquer motivo”, de acordo com documentos internos vistos pela agência de notícias Reuters.

Segundo a reportagem, publicada nesta sexta-feira (30), o Departamento de Estado ordenou que todos os consulados e embaixadas dos EUA conduzam uma “análise adicional de pessoas que buscam visto para os EUA com o propósito de visitar a Universidade Harvard”. O comunicado teria sido assinado pelo próprio secretário de Estado, Marco Rubio, o chefe da diplomacia americana.

O pente-fino pode afetar não apenas estudantes estrangeiros, alvo preferencial da cruzada de Donald Trump contra Harvard, mas também professores, funcionários, convidados e até turistas, disse Rubio no comunicado.

No texto, o secretário de Estado diz ainda que Harvard “não foi capaz de criar um ambiente em seu campus que seja livre de violência e antissemitismo“, e que os funcionários consulares devem procurar por “um histórico de assédio antissemita” em suas análises de postulantes ao visto. Com frequência, o governo Trump tem considerado críticas a Israel e demonstrações de apoio à Palestina como evidências de antissemitismo.

O documento recomenda que funcionários consulares analisem as redes sociais de pessoas que pedem o visto -e diz que a credibilidade do postulante pode ser questionada se suas contas forem privadas. “Isso pode refletir um desejo de evadir questionamentos ou esconder certa atividade”, diz Rubio no texto, que orienta os consulados a exigir que as contas sejam tornadas públicas para análise.

O Departamento de Estado não respondeu a perguntas da Reuters sobre o documento, que pode ser usado para orientar ações além do escopo de pessoas com ligações à Universidade Harvard. Em resposta à reportagem, a Embaixada do Brasil nos EUA disse que a checagem de redes sociais de solicitantes acontece desde 2019, e que o governo Trump “permanece comprometido com a segurança nacional e pública, aplicando rigorosos critérios” na concessão de vistos.

Tensões Diplomáticas e Restrições de Vistos

Na quarta (28), Rubio disse em publicação no X que Washington vai começar a revogar vistos de alunos da China, dizendo que “aqueles que têm ligações com o Partido Comunista Chinês ou que estudam em áreas críticas” serão afetados. Ele não disse quantas pessoas serão atingidas ou explicou quais setores o governo considera sensíveis.

A declaração de Rubio ecoa acusações sem provas feitas pelo governo Trump de que alunos chineses nos EUA estão, na verdade, infiltrados e trabalhando para o líder do país asiático, Xi Jinping. Na semana passada, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, afirmou, também sem apresentar quaisquer evidências, que a Universidade Harvard estaria envolvida numa colaboração com o Partido Comunista.

Impacto Financeiro e Acadêmico

Nesta sexta, Trump disse que ainda quer ver estudantes estrangeiros fazendo faculdade nos EUA, apesar da sua disputa com Harvard. Uma das universidades mais ricas e reconhecidas do mundo, a instituição já perdeu quase US$ 3 bilhões (US$ 17 bilhões) em verbas federais depois de cortes de Trump. O presidente exige, entre outras coisas, que Harvard entregue uma lista de todos seus estudantes estrangeiros, incluindo eventual atividade política e participação em protestos pró-Palestina.

No último dia 22, o governo suspendeu a autorização de Harvard para receber estudantes estrangeiros, exigindo que os alunos que já estão na instituição se matriculem em outra ou deixem os EUA. A medida foi bloqueada por uma juíza.

A disputa de Harvard com Trump e com outras universidades de elite nos EUA tem origem nos protestos pró-Palestina em 2024, quando alunos ocuparam prédios em vários campi do país exigindo o fim da cooperação das instituições com Israel como forma de se posicionar contra a guerra na Faixa de Gaza.