Os resultados, apontam os cientistas, indicaram que similaridades no comportamento entre pais e filhos são menos significativas do que se imaginava é apenas ligeiramente mais provável que a criança compartilhe traços da personalidade com o pai ou com a mãe do que com um completo estranho, por exemplo.
Os pesquisadores afirmam que isso não quer dizer que a influência dos pais não exista, mas que, por não ser tão forte, é impossível prever de forma acurada como um indivíduo vai pensar, sentir ou agir a partir do seu pai ou de sua mãe. “Os genes que os pais transmitem aos filhos não são suficientes para tornar a maioria dos traços de personalidade semelhantes”, diz o autor principal do trabalho e professor da Universidade de Edimburgo, René Mottus, em comunicado.
O trabalho foi disponibilizado na plataforma de pré-prints PsyArXiv, ou seja, ainda não foi revisado por pares. Nele, os cientistas recrutaram cerca de 2,5 mil pessoas do Estonian Biobank – uma grande coleção de informações de saúde de voluntários de todo o país.
Cada indivíduo era parente de ao menos uma outra pessoa do estudo. Os voluntários relataram seus níveis de cinco traços de personalidade: abertura, conscienciosidade (ser cuidadoso ou diligente), extroversão, agradabilidade e neuroticismo.
As avaliações pessoais das características foram respaldadas por uma segunda opinião, geralmente do parceiro do participante, para que a análise fosse mais precisa. Os pesquisadores afirmam que muitos trabalhos anteriores utilizavam apenas a autoavaliação, o que pode distorcer os resultados.
Os resultados mostraram que somente cerca de 40% dos traços de personalidade podiam ser associados a uma herança dos pais. O percentual foi até mesmo superior à média de 25% encontrada em trabalhos de autoavaliação, mas ainda assim considerada algo que “não é suficiente para tornar pais e filhos muito mais semelhantes do que estranhos”, diz Mottus.
Por exemplo, se a população fosse dividida entre aqueles que têm níveis baixos, médios e altos de abertura, o novo estudo sugere que apenas 39% das crianças seriam colocadas na mesma categoria de um dos pais, em comparação com 33% na de um estranho aleatório. As outras 60%, em grupos distintos.
E nesse sentido, não é apenas falando da hereditariedade genética, mas também de traços que seriam adquiridos pelo convívio. A comparação dos parentes de primeiro grau com os mais distantes não forneceu nenhuma evidência de que as experiências familiares compartilhadas tornariam as pessoas mais semelhantes.
– Em quase todos os idiomas, existe uma forma do provérbio “tal pai, tal filho”. Muitas pessoas acreditam nisso e, às vezes, fazem julgamentos sobre as pessoas com base em seus pais. Mas acontece que esse provérbio não é muito preciso quando se trata de traços de personalidade, nossos padrões habituais de pensamento, sentimento e comportamento. Há apenas uma pequena chance de que as pessoas sejam mais parecidas com seus pais do que com qualquer estranho – disse Mottus ao jornal britânico DailyMail.