
O bilionário Elon Musk anunciou nesta quarta-feira (28) que vai deixar o governo Donald Trump. O homem mais rico do mundo liderou a iniciativa radical de corte de gastos conhecida como Doge (Departamento de Eficiência Governamental, na sigla em inglês), que teve como principais alvos programas de diversidade no governo dos Estados Unidos e a agência de ajuda externa Usaid.
Ao longo dos primeiros meses do segundo mandato de Trump, Musk se tornou uma das figuras mais polêmicas de uma gestão repleta de nomes controversos em seu primeiro escalão. Ao promover demissões em massa de servidores públicos, causou caos na vida de milhares de pessoas e jogou a administração federal dos EUA em um período incerto.
Ao desmantelar a Usaid, que chamou de “uma organização maligna”, encerrou programas que prestavam auxílio a populações vulneráveis em todo o mundo, como pessoas que vivem com HIV no continente africano.
Ao reforçar teorias de conspiração e notícias falsas, como a de que a África do Sul promove um genocídio contra fazendeiros brancos, contribuiu para manter a base do presidente inflamada papel que ainda pode continuar a desempenhar, dado o fato de que tem mais de 200 milhões de seguidores no X, rede social da qual é dono.
Seu alcance e disposição para gastar dinheiro apoiando causas alinhadas a Trump, entretanto, não é garantia de que permanecerá relevante na órbita sempre em movimento do presidente americano. Em abril, por exemplo, Musk sofreu uma derrota política importante em uma disputa que vista como um termômetro do governo.
A eleição para uma cadeira na Suprema Corte de Wisconsin foi a corrida judicial mais cara da história do país com doações que chegaram a US$ 100 milhões. O candidato Brad Schimel teve o apoio e recebeu mais de US$ 20 milhões de Musk e de pessoas ligadas a ele na campanha, mas foi derrotado pela candidata progressista Susan
Crawford.
Naquela mesma semana, surgiria em reportagem do site Político a revelação de que Trump teria dito a seu círculo íntimo que Musk se afastaria de seus papel como conselheiro do governo. Na ocasião, segundo interlocutores do presidente, o republicano teria dito que estava satisfeito com o papel do empresário, mas que em breve seria a hora de ele retornar aos seus próprios negócios.
Um dia depois, Trump confirmou publicamente pela primeira vez a saída iminente do aliado. “Ele vai ficar um certo período [no governo] e depois vai voltar aos seus negócios em tempo integral. Mas ele está fazendo um trabalho fantástico”, disse o republicano. “Quero que Elon fique o máximo possível.”
Trump afirmou que o empresário permaneceria no posto por mais “alguns meses” e não cravou uma data definitiva para sua saída.
O cargo oficial de Musk no governo Trump sempre foi ambíguo, apesar de controlar o Doge, a Casa Branca disse em mais de uma ocasião que ele não era formalmente o chefe do departamento, e sim apenas um “funcionário especial do governo”.
A lei determina que uma pessoa só pode ocupar essa função por 130 dias, o que explica o anúncio desta quarta. Ainda assim, Trump poderia facilmente ter nomeado o bilionário para outro cargo, como o de conselheiro oficial da Casa Branca, por exemplo, o que não ocorreu.
“Com meu período como funcionário especial do governo chegando ao fim, gostaria de agradecer ao presidente Donald Trump pela oportunidade de reduzir gastos supérfluos [no governo]”, disse Musk em publicação no X. “A missão do Doge se fortalecerá com o tempo à medida que se torne um estilo de vida no governo.”
Relatos de que Musk deixaria o governo para focar em suas empresas, em especial a Tesla, circulam na imprensa americana há semanas as vendas da montadora despencaram na Europa recentemente, em parte como reação ao papel controverso do bilionário na gestão Trump.
Além disso, o Partido Democrata fazia pressão para que Musk saísse do governo, citando a regra que limita a atuação de um “funcionário especial” a 130 dias, que terminariam nesta semana.
Musk chegou ao governo após se tornar um dos principais apoiadores de Trump durante a campanha eleitoral, doando milhões de dólares para a máquina partidária republicana e aparecendo em comícios do então candidato prometendo cortes radicais na máquina pública.
VICTOR LACOMBE