Na imensidão silenciosa do Monte Rinjani, na Indonésia, uma história de coragem e compaixão marcou os últimos dias. O alpinista e guia voluntário Agam Rinjani, nome conhecido entre os trilheiros da região, foi um dos responsáveis por recuperar o corpo da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que sofreu uma queda fatal em uma trilha rumo ao cume do vulcão.
O acidente ocorreu no sábado (21), durante uma expedição solo da jovem, que viajava pela Ásia em um mochilão. Seu corpo foi localizado apenas na terça-feira (24), após quatro dias de buscas. A operação, realizada em parceria entre a Agência Nacional de Busca e Salvamento da Indonésia (Basarnas) e equipes voluntárias, enfrentou condições climáticas severas, como neblina densa, terreno escorregadio e pouca visibilidade.
Uma operação complexa em múltiplos níveis
De acordo com nota oficial divulgada pela Basarnas, por volta das 16h52 (horário local) da terça-feira, sete membros da equipe conseguiram alcançar uma profundidade de 400 metros na encosta. Pouco depois, às 18h, o resgatista Hafid Hassadi, da própria Basarnas, conseguiu descer ainda mais — até 600 metros, um ponto mais profundo do que o previsto inicialmente. Foi ali que o corpo de Juliana foi encontrado, sem sinais vitais. O local foi então definido como datum point, referência para o restante da missão.
Em seguida, outros três integrantes da equipe de resgate — entre eles Agam Rinjani, junto com Samsul Fadli e Tio, do grupo Rinjani Squad — também chegaram ao ponto da vítima. Eles realizaram o chamado procedimento de “Wrapping Survivor”, para proteção e preparação do corpo, seguindo o protocolo padrão de evacuação em terrenos de alto risco.
Diante das condições climáticas adversas, a operação de retirada teve que ser suspensa ainda na noite de terça-feira. Sete resgatistas passaram a noite no monte, acampados em um Flying Camp montado de emergência: três deles a 400 metros e outros quatro — incluindo Agam — junto ao corpo, no ponto mais profundo.
A decisão oficial foi retomar a evacuação na manhã de quarta-feira (25), às 6h, com a técnica de lifting, içando o corpo por cordas até a superfície. De lá, ele foi transportado em maca até o posto de comando em Sembalun e, em seguida, encaminhado ao Hospital Bhayangkara, da Polícia Regional de Nusa Tenggara Barat.
Mais do que técnica, humanidade
A atuação de Agam Rinjani foi além do protocolo. O alpinista passou a noite ao lado do corpo de Juliana, fazendo orações e partilhando a solidão da montanha. Em seu perfil no Instagram (@agam_rinjani), ele compartilhou imagens do terreno, os momentos de silêncio e a força necessária para concluir a missão.
“Não pude fazer muito, apenas ajudar desta forma. Meus sentimentos pela morte da montanhista brasileira. Que suas boas ações sejam aceitas por Deus. Amém”, escreveu Agam.
Reconhecido na região de Lombok por sua experiência em trilhas e operações de socorro, Agam é também conhecido por instalar abrigos de emergência ao longo das trilhas do Monte Rinjani, para proteger viajantes em situação de risco. Sua atuação voluntária é vista como símbolo de dedicação, espiritualidade e conexão com a montanha.
Nas redes sociais, brasileiros têm lotado o perfil de Agam com mensagens de gratidão e comoção, reconhecendo o gesto de humanidade e respeito que ele teve com Juliana. Frases como “Mesmo que ela não tenha sobrevivido você é um herói! Por sua iniciativa ela poderá voltar pros braços dos pais e ser velada em paz para descansar! O espírito dela será eternamente grato a ti e todos nós brasileiros também! Obrigada em nome de todos” e “Gratidão por não desistir de buscar Juliana mesmo que não foi o esperado, sua atitude foi honrosa 🇧🇷. nós Brasileiros estamos gratos a ti” aparecem entre os comentários emocionados em uma das publicações do alpinista.
Uma despedida possível
Juliana era publicitária, natural do Rio de Janeiro, e morava em Niterói. Viajando sozinha pela Ásia, ela sonhava em conhecer as paisagens naturais do mundo. Seu falecimento gerou comoção nas redes sociais e uma onda de solidariedade entre brasileiros e indonésios. Comentários de gratidão inundaram os posts de Agam, reconhecendo o gesto de humanidade envolvido na missão.
“Você foi o anjo dela naquela noite. Obrigada por não deixá-la sozinha”, escreveu uma brasileira.
Com a missão concluída nesta quarta-feira (25), o corpo de Juliana aguarda agora o processo de repatriação ao Brasil, onde será velado pela família. A tragédia revelou a força da natureza, mas também a presença de pessoas como Agam — que, com fé, coragem e silêncio, transformam dor em dignidade.