CONFLITO

Ataque da Rússia mata 31 em novo alvo de Putin na Ucrânia

As forças da Rússia promoveram um dos mais mortíferos ataques contra civis na Guerra da Ucrânia neste domingo (13), quando ao menos 31 pessoas morreram

As forças da Rússia promoveram um dos mais mortíferos ataques contra civis na Guerra da Ucrânia neste domingo (13), quando ao menos 31 pessoas morreram
As forças da Rússia promoveram um dos mais mortíferos ataques contra civis na Guerra da Ucrânia neste domingo (13), quando ao menos 31 pessoas morreram Foto: Reprodução/Agência Brasil

As forças da Rússia promoveram um dos mais mortíferos ataques contra civis na Guerra da Ucrânia neste domingo (13), quando ao menos 31 pessoas morreram em Sumi, capital da província homônima no nordeste do país invadido por Vladimir Putin em 2022.

Ao menos dois mísseis balísticos Iskander-M foram lançados contra a cidade, onde moram de 250 mil a 300 mil habitantes. A 30 km da fronteira, ela está na mira dos russos, que iniciaram uma nova ofensiva contra a região e a vizinha Kharkiv na semana passada, após passarem mais de dois sem tropas ocupando território por lá.

O ataque gerou críticas do enviado americano a Kiev, general Keith Kellogg, que foi rebaixado da condição de negociador para a guerra por ser visto em Moscou como pró-Ucrânia. Para ele, o bombardeio “cruzou qualquer linha de decência”. “Como um antigo líder militar, eu entendo de mira, e isso é errado”, escreveu no X.

A ação ocorreu no começo da manhã, quando havia movimentação de fiéis rumo a igrejas para missas do Domingo de Ramos, que marca uma semana antes da Páscoa e celebra a entrada de Cristo em Jerusalém antes de sua crucificação, segundo segundo a tradição cristã.

“Eram apenas cidadãos comuns na rua”, disse o presidente Volodimir Zelenski. Um dos mísseis atingiu um trólebus, e a imagem foi captada pela câmera de um carro na mesma rua. Outros vídeos mostram o socorro a feridos, corpos no chão e destruição. Há ao menos 83 feridos, segundo as autoridades locais.

A Rússia não comentou o ataque em si. O Ministério da Defesa divulgou a conquista de mais uma cidade no leste do país e relatou a derrubada de um caça de fabricação americana F-16, doado ou por Holanda ou por Dinamarca a Kiev.

Não se sabe se os russos se referiam ao aparelho que a Ucrânia disse ter perdido, junto com o piloto, no sábado (12). Se foi, é o segundo F-16, dos talvez 16 recebidos até aqui, que foi derrubado. Houve também 13 drones ucranianos abatidos, ante 55 que Kiev disse ter interceptado do inimigo durante a noite.

O ataque a Sumi renovou a pressão por um cessar-fogo. O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a ação prova que a medida “tem de ser imposta” a Moscou, o que não será exatamente fácil se ele não quiser entrar em guerra com Putin.

Mais cedo, em entrevista ao principal jornalista russo que cobre o Kremlin, Pavel Zarubin, o porta-voz de Putin havia dito que as conversas medidas pelos Estados Unidos estão avançando bem, mas que é cedo para esperar uma trégua.

“Tudo está indo muito bem. Mas, claro, é impossível esperar quaisquer resultados imediatos”, afirmou Dmitri Peskov.

Na sexta (11), Putin encontrou-se em São Petersburgo com o enviado de Donald Trump para o conflito, Steve Witkoff. Nada transpareceu de fato da conversa, mas foi a primeira das três que eles já travaram em que imagens do encontro foram divulgadas.

Neste domingo, a cena de Witkoff colocando a mão no peito em agradecimento por estar com Putin, que foi celebrada na mídia estatal russa, foi justaposta aos corpos em sacos pretos nas ruas de Sumi nas redes sociais ucranianas.

O mal-estar com administração Trump em Kiev só faz crescer, após o americano ter alinhado seu discurso acerca dos motivos da guerra com os de Putin e abrir negociações. Nas últimas semanas, o republicano tem demonstrado impaciência com o russo, mas não deixou de colocar a Ucrânia na parede.

Na mesma sexta, os ucranianos receberam os novos termos da Casa Branca para um acordo de exploração mineral conjunto. Na prática, Trump voltou à ideia de cobrar de Kiev o que ele considera uma dívida pela ajuda bilionária ao país nos três anos de guerra, e quer fazê-lo explorando seu subsolo.
Zelenski não aceitou a proposta da primeira vez, mas está crescentemente enfraquecido no debate. A imprensa ucraniana descreveu o acordo como neocolonialista.

Para piorar, o mesmo Kellogg que criticou o ataque havia concedido uma entrevista ao jornal britânico The Times em que disse que a solução para o conflito deve lembrar o que ocorreu com Berlim após a Segunda Guerra Mundial: a divisão do território em zonas de influência.

Nesse desenho, forças franco-britânicas ficariam em áreas do centro para o oeste da Ucrânia, enquanto as de Zelenski ficariam entre elas e uma zona desmilitarizada de 30 km de largura. A leste e a sul, estariam os territórios já ocupados por Putin, cerca de 20% do país vizinho.

Os ucranianos sabem que perder território é inevitável num acordo de paz, mas os termos duros de Kellogg desagradaram a opinião pública do país.

Além disso, até aqui Putin rejeita qualquer ideia de presença militar de países da Otan, a aliança militar ocidental, no vizinho. A diplomacia americana acredita que ao fim o Kremlin irá ceder, mas por ora o impasse está colocado.

IGOR GIELOW